Algum dia vocês já se perguntaram se existe mesmo essa história de Céu e Inferno? E pensando um pouco mais, alguma vez vocês já se perguntaram para qual dos dois iriam se morressem hoje? Seria o Céu ou o Inferno? Bom, depois de ler este livro eu não tenho mais certeza nenhuma, provavelmente iria para o Inferno!
Condenada foi escrito por ninguém mais, ninguém menos do que
Chuck Palahniuk, afinal de contas, só mesmo o Chuck para bolar uma história dessas! Para quem não sabe, ou não se lembra, foi ele que escreveu o famoso Clube da Luta, que eu pretendo resenhar em breve para vocês! Chuck define seu estilo de escrita como ficção transgressiva, e uma vez, durante uma entrevista para a VEJA, que vocês podem
acessar aqui, ele foi questionado da seguinte maneira:
Pergunta: Você escreve sobre muitos assuntos desconfortáveis. Acha que se escrevesse sobre temas mais banais, como Nicholas Sparks, seus trabalhos seriam adaptados com mais frequência para o cinema?
Resposta: Por que desperdiçar a vida explorando assuntos com os quais você se sente confortável? Se as reações ao meu trabalho são boas ou ruins, eu dou de ombros. Por que deveria me importar? Deus abençoe o Senhor Sparks mas, se eu tivesse de escrever algo parecido com Diário de Uma Paixão, voltaria a consertar caminhões.
É exatamente isso que eu gosto na escrita de Chuck, ele não fala sobre coisas “comuns”. Não cria histórias que estamos acostumados a ler. É justamente o fato de sua escrita ser irreverente, irônica, possuir cargas de filosofia e crítica muito bem construídas, mas sem perder o bom humor, que me encanta! Em um mundo onde tudo se parece, porque não tentar algo diferente! Porém sua escrita e suas histórias não são para qualquer um, Chuck não tem papas na língua e não tem medo de criar cenários e situações bizarras e desconfortantes, e até mesmo eu, que já conhecia a sua escrita, por vezes me senti mal com situações que ele descreve neste livro.
Sim, você pode estar vivo e ser gay, ou velho ou mexicano, e mandar essa pra cima de mim, mas considere que tive de fato a experiência de acordar no meu primeiro dia no Inferno, e vai ter de aceitar minha palavra do que ele é.
A história nos é apresentada por uma garota de treze anos, que para mim parecia ter pelo menos quinze anos, as vezes eu achava ela tão madura para ter apenas treze anos! Essa garota se chama Madison Spencer, e ela acredita ter morrido de overdose de maconha, e por isso foi para o Inferno. Madison, foi filha de uma famosa atriz de cinema e de um homem bilionário, que quando jovens fizeram e foram tudo o que você pode imaginar, incluindo: hippies; punks; anarquistas e a lista se estende. Os pais de Madison não regulam bem da cabeça, isso você vai perceber logo no começo da história, quem da Xanax, a torto e direito, para uma criança?!? Conforme a história avança, e Madison nos conta um pouco mais sobre o seu passado e sua morte, percebemos que os pais de Madison são, no mínimo, estranhos.
Uma vez no Inferno Madison acaba conhecendo e formando um novo grupinho de amigos, ela é uma personagem muito carismática, acreditem em mim! Em seu novo grupo de amigos condenados, nós temos um roqueiro punk chamado Archer; um nerd chamado Leonard; uma patricinha chamada Babette e um jogador de futebol americano chamado Patterson. Cada um deles foi mandado para o Inferno por um motivo, porém como todo mundo mente no Inferno, não temos como saber se esses motivos são verdadeiros ou não. A única morte e motivo verdadeiros de ir para o Inferno, aquelas que são mesmo explicadas, são a de Madison e Archer. Após formarem o grupo, eles realizam um tour pelo Inferno, e após as descrições absurdas, bizarras e desconcertantes nos vemos familiarizados com toda a geografia do local.
E, sim, conheço a palavra gênero. Deus do Céu! Poso ser gorducha e sem peito, míope e defunta, mas NÃO pamonha.
Após o pequeno passeio pelo Inferno, e reconhecimento do local, o grupo se dirige ao quartel general do Inferno para pegar a papelada de Madison, porém, por mais incrível que pareça, a papelada dela havia se perdido, dá para acreditar? Até no Inferno?
Agora Madison não sabia nada de sua morte, ou melhor, ela achava que sabia, mas somente após suas recordações aparecerem e a papelada ser encontrada é que tudo se esclarece. Com o tempo Madison arranja um emprego no Inferno, e pasmem, um emprego como atendente de telemarketing. Isso mesmo! Madison trabalha como uma atendente que se utiliza de um sistema que se conecta apenas com os locais do mundo que estão no horário do jantar, justamente para interromper esse momento e encher os vivos de perguntas, até que eles se zanguem, sua comida esfrie e seu apetite vá embora.
Sim, isso significa ficar sentado numa mesa, acotovelado com outros colegas condenados que se estendem até o horizonte nas duas direções, todos com fonezinhos na cabeça.
Com o decorrer da história Madison nos revela detalhes do seu passado, conhecemos as situações pela qual ela passa em sua nova vida no Inferno, e acompanhamos seu emprego como atendente, que vai muito bem por sinal! Madison é responsável por um aumento considerável de novas almas mandadas para o Inferno. Sua fama se espalha, ela começa a mudar, não quer mais ser aquela menina de 13 anos feliz e saltitante que tenta ser legal com todo mundo, ela anseia por mudança. Porém mal sabe ela que o Diabo tem um plano, e esse plano vai se desenrolar para a continuação da história, para um segundo livro.
Agora, se me dá licença, está tarde, e estou numa pressa danada para chutar a bunda do Diabo.
Condenada é um livro maravilhoso! É engraçado e irônico, filosófico e crítico e por vezes muito sério, porém todos esses elementos se unem para criar uma história interessante e maluca de se ler! Mal posso esperar para conhecer o Purgatório. E em seguida conhecer o Céu e descobrir o final dessa história. Chuck já comentou que se inspirou na Divina Comédia para criar sua trilogia. Recomendo esse livro com todo o meu coração para aqueles que buscam algo novo, uma leitura fácil e interessante ou para todos os amantes da escrita de Chuck. Já aviso que em breve volto com
Maldita!
- Damned
- Autor: Chuck Palahniuk
- Tradução: Tatiana Leão
- Ano: 2013
- Editora: Leya
- Páginas: 302
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