O filme começa em quinta marcha e nele já somos apresentados à Max (Tom Hardy) um viajante solitário desse novo mundo. A sociedade enlouqueceu completamente, existiram guerras por gasolina e água, a sociedade que conhecemos hoje não existe, ou seria mais fácil interpretar que nunca existiu? As cidades acabaram e o deserto tomou conta de tudo, ou seja, foi a ação dos seres humanos (ou empresas) impactando no futuro (algo diferente de hoje em dia?), e apenas três cidades controlam o que resta dessa sociedade, aqueles que ainda detêm poder de grandes reservas desses meios, no caso da comunidade de Immortal Joe (Hugh Keays-Byrne), água. É assim que ele controla e explora esta população, e assim que ele é endeusado com direito a discípulos e promessas de ida a Valhala para quem morrer para a sua glória.
Após ser raptado pelos seguidores de Joe e de ter sido desumanizado e mantido como bolsa de sangue para os meias-vidas, mais precisamente de Nux (Nicholas Hoult), Max vê a oportunidade de estar no meio de uma guerra e possivelmente de ser livre novamente. A Imperatriz Furiosa (Charlize Theron), em meio de mais uma de suas expedições em busca de gasolina, aproveita a oportunidade para se arriscar e acobertar a fuga de algo precioso, algo que mostra, mais uma vez humanos tratados como objetos no reinado de Immortal Joe, tão valioso que ele move um exército para o resgate. Em meio de uma perseguição de tirar o fôlego, sem interrupções, com cenas incríveis, memoráveis e totalmente brutais, Max e Furiosa resolvem se aliar em meio a esta fuga insana.

É difícil falar sobre o enredo em si e as motivações de cada personagem e eu não diria que é algo complexo de se entender, é um enredo que apresenta diversas nuances de entendimento, algo que possibilita diversas analises para o telespectador. Dentre elas o ciclo da trama, com a fuga, a perseguição e a percepção de que no estado em que eles se encontram e no estado em que esta sociedade está, fugir é loucura e depois o final, que eu não classificaria de outra maneira sem ser de redenção. Miller dá uma aula de narrativa, o filme não é apenas um filme sem significado, com um monte de explosões aleatórios e muita violência, ele vai além, é necessário enxergar as entrelinhas e pensar um pouco (puxa!). Eu diria que o filme passa de seis a sete críticas sociais, reais e atuais da nossa sociedade.

Existem muitas quebras de paradigmas neste filme, uma é o fato do próprio Max, o protagonista da história que está menos Mad e mais Max, ele fica de lado e Furiosa leva todos os créditos, com suas motivações, quaisquer que sejam, e sua força. E é esta força feminina dentro do filme que é notável, não é sutil, é claramente marcante. Ela está lá para nos mostrar que não, as mulheres não são indefesas, que sim, elas podem mudar o mundo. A representatividade feminina em Mad Max marca uma nova era para as franquias, o que andou até incomodando a crítica, e minha pergunta é porquê? Mas voltando as atuações, nenhuma deixou a desejar, os atores encarnaram os personagens, com atuações eletrizantes e visualmente fascinantes, todos ganham destaque.
Falando em visual, cenário e fotografia impecável (John Seale), temos a trilha sonora (Tom Holkenborg) que na minha opinião arrepia desde o trailer. Existe cena que te envolva mais quando unida a música clássica e instrumental? Estas músicas são totalmente impactante diante as cenas e cai como uma luva. Pode se dizer que o bizarro se saiu perfeitamente aqui? Quem viu sabe o que estou falando, mas falarei apenas três coisas: tambores, guitarras e alto falantes. O trabalho desse homem merece todo o nosso respeito e admiração. A trilha sonora não apenas complementa, mas se integra a trama, se infiltra nas cenas de ação e nos faz vibrar com tudo o que vemos, ouvimos e, porque não, sentimos ao longo do filme. Sobre os efeitos? Miller evitou o quanto pode utilizar dessa tecnologia, então sim, grande parte de todas as explosões e capotamentos que vemos em Mad Max, são reais! Essa estratégia criou uma obra de arte fantástica, criou sequencias brutais, insanas, maravilhosamente bem montadas, que deixam qualquer um com o queixo caído e dão ainda mais realidade e emoção para o filme.
Outro detalhe que vale a pena ser destacado é a redução de fala dos personagens, praticamente não encontramos diálogos, eles existem, sim, mas são curtos e diretos, vão direto ao assunto e nos dão apenas a informação que necessitamos para entender o mínimo possível desse universo brutal e insano. Aqui precisamos prestar atenção e usar um pouco a mente (puxa! de novo) para entender certos aspectos, e isso é um trunfo enorme do filme!

Mad Max é o filme de ação do ano! Com a direção certeira de George Miller, ele mostra que chegou para desbancar qualquer outro filme do gênero. O filme chega para mostrar uma fórmula única, de ação pura que prende o espectador do começo ao fim, mas que também faz uso de elementos muito próximos de nossa realidade, nada do que vemos em Mad Max (bom, talvez alguns pequenos detalhes) é impossível de acontecer, para ser sincera, os acontecimentos são totalmente possíveis. Tudo neste filme está impecável, tudo foi feito para mostrar que sim, George Miller voltou, e voltou para ensinar.

- Mad Max: Fury Road
- Lançamento: 2015
- Com: Tom Hardy, Charlize Theron, Nicholas Hoult
- Gênero: Ação, Ficção Científica
- Direção: George Miller