Logo que vi o lançamento de O Nome em Seu Pulso eu fiquei curiosa, faz tempo que as distopias vêm se tornando o meu gênero literário favorito, então era mais do que certo que eu leria este livro.
A minha surpresa é que ao começar a leitura, senti falta justamente dos elementos distópicos em si, daquilo que sempre me conquista, detalhes da sociedade e vestígios de como eles haviam chegado naquele ponto. Com a ausência disso, eu já começava a contentar-me com mais uma distopia mediana, até que eu cheguei nos últimos capítulos do livro. Então tudo mudou. Foi uma explosão na minha cabeça, e me vi refletindo sobre esta história por horas. Me pegou totalmente despreparada, foi como um tapa de luva.
Na sociedade em que Corin vive, nossa protagonista, logo nos primeiros anos de vida cada pessoa recebe um nome em seu pulso. Estes nomes são escondidos por protetores de pulso e ninguém, nem mesmos seus pais, podem ver o nome da sua alma gêmea. Sim! O governo além de controlar a natalidade da população e a profissão mais adequada a seguir, eles também escolhiam a sua alma gêmea, a pessoa que você será destinada a viver pelo resto de sua vida.
Depois de certa idade é natural que os jovens saiam para a busca. Viajar pelo mundo a procura da sua alma gêmea, que pode estar na sua cidade ou até mesmo do outro lado do continente. Porém, Corin faz exatamente o contrário, Corin já está com 19 anos e tenta o quando pode resistir ao sistema. Ela não quer que um nome em seu pulso a defina como pessoa. Desde a morte do seu pai e um incidente com sua irmã Jacinta, ela caminha para o lado contrário. Sua percepção sobre o mundo mudou desde que viu Jacinta quase perder a vida por alguém, e depois de ver a felicidade de sua mãe se transformar em algo robótico.
Ela escolheu um nome qualquer e namorou todos os rapazes que os tinham, despistando a todos sobre o seu real anima-vinculum. Era o jeito dela de quebrar as regras, ela usava estes jovens e depois ao terminar o namoro os expunha, como se eles usassem ela apenas para sexo. Ela se afastou de amigos e colegas, preferia viver sozinha, pois constatou que quanto menos ela precisasse de pessoas, menos as pessoas precisariam dela. Sozinha em seu quarto, e imersa ao seu CPT (um tipo de tablet e GPS para todos os indivíduos dessa sociedade) ela vivia, tentando encontrar um significado para tudo isso, e um modo de superar o seu drama familiar.
Neste meio tempo, Corin é percebida por Colton, seu colega de escola, e que recentemente vem tentando aproximar-se dela. Ele muito rapidamente, sacou toda a máscara mal-humorada e sarcástica que Corin usava para afastar as pessoas, e seu atrevimento foi suficiente para que Corin aceitasse sua amizade. Não demora muito até que a amizade seja algo a mais. Porém, esta parte romântica do livro para por aí, o foco não é o romance, muito pelo contrário, mas serve para o grande estopim do final.
A distopia que estava, até então pouco desenvolvida e deixada de lado por uma boa parte do livro, se une a este novo elemento. É como se a autora estivesse nos preparando, nos conduzindo num corredor escuro. Aos poucos confiamos nela e daí tudo se revela. Obviamente que não posso contar sobre a grande surpresa do livro, mas eu posso garantir para todos os leitores que cada página de O Nome em Seu Pulso vale a pena. Tudo é uma grande construção para o desfecho incrível que Helen criou.
Uma das discussões do livro é que a sua alma gêmea pode ser qualquer um, enquanto alguns românticos sonham com seu par perfeito, outros começam a busca apenas pela obrigação de constituir uma família, e outros como Corin, apenas não queriam ser encontrados. Aí que entra o debate principal. E se esta pessoa simplesmente não ser o que se espera? Se os sentimentos dessa pessoa não corresponderem aos meus? São estes e muitos dos questionamentos e tipos de relações que o livro aborda. Gostei de encontrar casais que se uniram mesmo tendo orientações sexuais diferentes e também dos casais que desafiaram o sistema e constituíram uma família mesmo tendo em seus pulsos o nome de outras pessoas, é claro que estes, são vistos como “abominações” pela sociedade e pelo governo.
Mesmo a autora explicando, posteriormente, vários dos detalhes distópicos da trama algumas pontinhas ficaram soltas na minha cabeça, mas isso pode ser coisa minha. De jeito nenhum isso estraga o livro, de jeito nenhum ele deixa a desejar.
O que posso dizer para concluir, é que O Nome em Seu Pulso vai levantar assuntos como, a oportunidade de escolha, a liberdade em si, o altruísmo de forma genuína e principalmente o egoísmo humano. Um livro que me ensinou que nem todo mundo que deseja a liberdade tem inteligência o suficiente de saber usa-la de uma maneira que faça bem não só a si mesmo mas para todos a sua volta. Que fala sobre um dos maiores medos da humanidade, que vem depois da morte, a solidão. Um livro que define nossa sociedade como incapaz de tomar suas próprias decisões. Incrível e reflexivo, leiam!
- The Name on Your Wrist
- Autor: Helen Hiorns
- Tradução: Flávia Côrtes
- Ano: 2015
- Editora: Farol Literário
- Páginas: 256
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