Eu não sei dizer, com certeza ou precisão, porque decidi comprar e começar a leitura desse livro. A verdade é que, a primeira vez que vi essa capa amarela (admito, tenho uma queda por capas amarelas) com uma menina se destacando ao centro, foi durante uma das minhas diversas expedições ao mundo das livrarias.Esse livro estava em destaque na prateleira, acredito que fazia parte dos lançamentos do mês, ou quem sabe, estava vendendo muito bem. Mas não foi isso que chamou a minha atenção. O que me fez querer conhecer essa história desconhecida, uma história que eu nunca tinha sequer ouvido falar, foi o seu título e as diversas possibilidades que o título proporcionava.
O nome dela é Melanie. Significa “a menina escura”, de uma palavra em grego antigo, mas sua pele na realidade é muito clara, então ela acha que talvez este não seja um bom nome.
A Menina que Tinha Dons aborda um tema muito conhecido pelos apaixonados por monstros, ficção e terror. O livro nada mais é do que uma história muito bem escrita e montada sobre infectados (ou, se preferir, zumbis). Neste livro nós seremos apresentados aos famintos, pessoas contaminadas por um fungo mortal que originalmente infectava formigas (o fungo é real, e já foi usado como inspiração para o jogo Last of Us). Nesta história, o fungo deu um enorme salto na cadeia alimentar e conseguiu realizar a proeza de ser capaz de infectar humanos.Uma vez dentro do corpo humano, ele dirige sua atenção para o cérebro e, uma vez instalado, vai se alimentando da massa encefálica humana até alcançar sua maturidade, porém, enquanto essa maturidade não é alcançada, ele controla o infectado para que este contamine outras pessoas ou se alimente de carne e sangue humano. Se trata, basicamente, daquilo que estamos acostumados a ver em filmes e jogos de zumbis, porém, o que ganha o leitor é a história presente no livro, é o que acontece nesse mundo dominado pelo caos e desespero que nos fisga logo na primeira página.
A infecção ainda se disseminava e o capitalismo global ainda se destroçava – como os dois gigantes se devorando na pintura de Dalí intitulada Canibalismo de outono.
Todos os dias, com exceção dos sábados e domingos, as crianças são amarradas e levadas para uma sala de aula onde professores ensinam diversas matérias, ou cientistas fazem testes e perguntas para as crianças. Dentre os professores que lhes ensinam todo o tipo de coisas, sua professora preferida é Helen Justineau, uma mulher calma e atenciosa, que aos poucos cria um enorme carinho por Melanie. Esse carinho se transforma em cuidado e proteção quando Melanie é levada para o laboratório da Doutora Caldwell, responsável pela base, pesquisas e pelas cobaias, é ela quem escolhe as crianças que quer dissecar e analisar. Durante uma bela tarde, a Doutora se prepara para, desculpem os mais impressionáveis, abrir o cérebro da garotinha e desvendar os mistérios que a impedem de chegar à cura para a infecção causada pelo fungo.Porém, tudo irá mudar quando um ataque à base frustra os planos de Caldwell, além de obrigar a formação de um grupo estranho, composto por uma criança faminta que nunca viu o mundo, uma cientista frustrada, uma professora de infectados e dois soldados. Juntos eles serão lançados ao caos em que se encontra o mundo, buscarão pela sobrevivência em meio a uma jornada suicida, e enfrentarão um caminho sem esperanças onde tudo que se espera é fugir da realidade.
Está em território desconhecido e teme o futuro vago e inescrutável em que a precipitam antes que esteja pronta. Ela quer que seu futuro seja como o passado, mas sabe que não será.
M. R. Carey queria que sua história fosse palpável, possuísse justificativas e conseguiu. Aqui nós observamos de perto o que o colapso causou à sociedade como um todo, descobrimos que, apesar de civilizados, o ser humano nem sempre responderá as expectativas e nem sempre fará o que se espera dele. Receberemos justificativas muito bem embasadas ao longo de toda a história, nada do que acontece nesse livro é impossível de imaginar na vida real.
Ela desenha na lateral do tanque a letra A maiúscula e outra minúscula. Os mitos gregos e as equações quadráticas virão depois.
- The Girl With All The Gifts
- Autor: M. R. Carey
- Tradução: Ryta Vinagre
- Ano: 2014
- Editora: Fábrica 231
- Páginas: 384
- Amazon