Existem alguns filmes capazes de nos deixar sem piscar até que os créditos comecem a rolar. Alguns nos fascinam devido a quantidade de efeitos especiais, nos instigam por possuírem um enredo tenso do início ao fim, nos fazem derramar lágrimas devido a realidade e drama contido em suas histórias, nos fazem refletir devido às suas mensagens, mas alguns filmes são capazes de nos cativar por sua simplicidade e sinceridade.
Brooklyn pode não ser o filme mais forte desta temporada de premiações, e nem mesmo é o favorito, mas ele foi indicado por algum motivo, e mesmo que muitas vezes não sejamos capazes de entender as escolhas da Academia, é fato que em certos casos, aquela ovelha negra guarda dentro de si segredos magníficos, belas mensagens e histórias adoráveis. Mas talvez apenas aqueles que possuem olhos sensíveis e coração aberto poderão compreender as belezas escondidas nas cenas de filmes como esse.
Ao longo deste filme nós iremos acompanhar a trajetória de Eilis (Saoirse Ronan), uma garota irlandesa que vive com sua mãe e irmã mais velha, Rose (Fiona Glascott). Eilis trabalha todo domingo como vendedora em uma pequena mercearia de sua cidade, porém sua irmã deseja um futuro melhor para a garota e através do auxílio de um Padre da cidade, e de um Padre americano, ela consegue um trabalho e residência para a moça no bairro do Brooklyn, em Nova Iorque.
Com todos os planejamentos acertados, Eilis viaja para os Estados Unidos em busca de um futuro melhor. Nesse novo país ela irá trabalhar em uma boutique, começará a estudar contabilidade na Universidade do Brooklyn, conhecerá novas pessoas e costumes, e aprenderá que é possível criar um novo lar mesmo estando longe de casa. Muitos críticos não entenderam o porquê desse filme estar listado na categoria de Melhor Filme, outros mencionaram que ele é facilmente esquecido, mas quando terminei de assistir não pude deixar de notar o quanto a maioria das pessoas não foi capaz de aproveitar tudo que essa história tem a nos oferecer.
Muito mais do que um filme simples de assistir, Brooklyn é sensível, melancólico, encantador e gracioso em toda sua narrativa. De uma maneira acessível e primorosa nós iremos encontrar sentimento ao longo de cada cena, sentimentos muito bem conhecidos de todos nós. Esse filme aborda a imigração de Irlandeses para os Estados Unidos sim, mas seu foco é outro. Ele pretende nos emocionar com elementos são simples e profundos que muitas vezes esquecemos que existem.
A atuação de Saoirse Ronan está impecável. Acompanho o belíssimo trabalho dessa jovem atriz desde Hanna, e por esse motivo não poderia esperar mais, precisava observar, ver com meus próprios olhos até onde ela iria nesse filme. Saoirse nos cativa do início ao fim, sua atuação é sensível, possuí sentimento e graça, mas acima de tudo é extremamente fiel a tudo o que a protagonista sente, observa e faz. Confesso que não tive a oportunidade de conferir o trabalho das outras atrizes indicadas a categoria de Melhor Atriz, ainda, mas após conferir e sentir tudo o que Saoirse Ronan trouxe para a personagem, confesso que ficaria mais do que feliz se ela fosse a ganhadora de estatueta!
Outro elemento que cativa durante todo o filme é a trilha sonora. Palavras não são capazes de expressar a beleza dessa trilha, o modo como ela se integra a cada cena, cada situação, cada sentimento e nos conecta ao enredo de uma maneira genial. As músicas escolhidas tocam nossa alma, aquecem nossos corações e elevam ao filme a algo mais. Além disso, o que posso falar sobre a cena em que o irlandês canta uma música em meio a confraternização de Natal?! As lágrimas vieram com toda a força, o sentimento da cena, as saudades de casa, a busca por algo melhor, tudo se une e deixa a cena bela em sua simplicidade.
Brooklyn pode ser, e realmente acredito que seja, um dos filmes mais sensíveis desta temporada. Ele transborda sentimento, nos permite apreciar atuações sinceras, uma história graciosa e nos deixa uma bela mensagem ao final. Ao finaliza-lo sentiremos o coração aquecido. Gosto de pensar que seu foco vai muito além do enredo, ele é um conjunto de elementos que não funcionariam se estivessem separados, ele funciona pois foi feito de maneira primorosa e cuidadosa, e merece ser assistido com o coração aberto. Assim como aconteceu uma vez com Boyhood, destaco que a jornada de uma moça em meio à um país novo e estranho pode ser tão fascinante e adorável quanto qualquer suspense ou fantasia. Tudo o que precisamos fazer é abrir nossos corações e nos deixar tocar pela beleza de um filme que vai muito além do extraordinário, pois se volta para as aventuras, dificuldades e beleza da vida comum.