Já li muitas coisas sobre o nazismo, já vi diversos documentários, filmes e li artigos. Obviamente não sou uma expert no assunto, mas achei que poucas coisas ainda pudessem me chocar. E esse livro conseguiu. O último livro que li sobre a Segunda Guerra Mundial, foi Bebes em Auschwitz (resenha aqui), um ótimo livro por sinal, que narra horrores que mulheres grávidas passaram no confinamento dos campos de extermínio. Porém, naquele livro, estamos mais atrelados ao fato das moças estarem grávidas, e neste livro, Irmãs em Auschwitz, parece que estamos lendo a um diário.
Rena é uma jovem polonesa, judia. Vive com os pais (que já são bem idosos), e uma irmã mais nova, Danka. A família de Rena é judia ortodoxa, e são extremamente rigorosos. Rena é uma moça bonita e chama a atenção de vários rapazes. Acaba apaixonando-se por um rapaz não judeu, e ele pede sua mão em casamento (através de cartas), mas Rena é muito conectada com sua família, e não suportaria viver como se não fosse mais filha de Papa e Mama. Pois isso é o que aconteceria se aceitasse o pedido, seu pais não mais a consideraria sua filha.

Com o início da guerra, a Polônia foi tomada pelos nazistas, e todos os judeus passaram a viver em regras estritas. Não eram mais liberados para comprar e vender coisas livremente, gentios não poderiam mais prestar serviços a judeus – somente o contrário. Além disso, deveriam usar uma faixa amarrada ao braço, com uma Estrela de Davi, deixando visível à todos, que são judeus. Com a chegada da polícia nazista tudo muda, mas apesar disso, a cidade se mostra bastante unida, e não tratam os judeus com diferença. O problema maior é que alguns integrantes da polícia nazista começam a olhar diferente para Rena, e chegam a procura-la um dia a noite na sua casa. Com sorte, a família consegue escondê-la a tempo, e não sofre nenhum abuso.

Veremos! Sei onde vocês, cães malditos, escondem suas coisas favoritas! – Ele empurrou Papa de lado, invadiu nossa casa e subiu imediatamente as escadas para o sótão.

No dia seguinte, papa decide que não é mais seguro que Rena fique na cidade. Sendo assim, ela é mandada para outra cidade, na Eslováquia onde ainda não há perseguição aos judeus, afim de ficar um período com os tios e primas. Chegando lá, Rena espanta-se com a vida que estão levando. Essas pessoas realmente não estão vivendo a mesma guerra na qual Rena fugiu. A tia, acha que a sobrinha está exagerando quando a conta relatados do que estão passando em Tylicz.
Os tios forçam Rena a participar de eventos sociais, como cinemas, teatros, bailes e outros. Dão dinheiro para que ela compre roupas, mas ela sempre economiza, para comprar comida, e enviar para os pais e para a irmã. Como ela poderia estar divertindo-se, enquanto os pais passam fome na Polônia? Lhe arranjam até mesmo um noivo, um rapaz adequado e judeu. O rapaz, Gotllob, acaba mostrando-se muito amoroso, mas sabe que o coração de Rena pertence a outro. Rena ainda volta mais uma vez para tentar viver com os pais na Polônia, mas a situação é realmente desesperadora, e ela acaba voltando mais uma vez para a Eslováquia.

A cada travessia da fronteira da Polônia com a Eslováquia, ela conta com a ajuda de gentios, pondo-os assim, em risco, além do risco para si. Caso fosse, pega, seria fuzilada na hora. Quando chega a Eslováquia novamente, a nova lei marcial a impede de casar com Gutllob. Pesando o risco que está impondo a pessoas que a estão lhe abrigando, Rena resolve entregar-se para o exército alemão por vontade própria.

Iludida pelos dizeres na entrada do campo de concentração Auschwitz, Rena faz parte do primeiro trem de mulheres a chegar a Auschwitz I. Logo ela percebe que a promessa é uma mentira, nada pode libertá-las, somente a morte. Por fim, sua irmã mais nova, Danka, está junto dela e a partir daí, a vida de Rena passa a ser fazer o possível para manter a irmã a salvo, a promessa que havia feito aos seus pais.

Em Auschwitz havia muitas mortes, mas não era um fato diário em nossa vida. Agora vemos morte todos os dias. É uma constante, como nossas refeições. E não há apenas uma ou duas moças morrendo, como antes, mas dezenas e vintenas, e perdemos a conta.

Os terrores eram novos a cada dia, e as condições são cada vez mais precárias e desumanas. Os judeus eram alimentados com pedaços de pães velhos e praticamente água suja. O trabalho era árduo e nunca acabava. Nessa terrível realidade, Rena e Danka sobrevivem por três anos.
Três anos sendo humilhadas, fazendo trabalho escravo, infestadas de pragas pelo corpo, depiladas e com os cabelos raspados, como se fossem animais, “dormindo” amontoadas na mesma “cama”, sem falar nos dias de seleção. Onde ficavam o dia inteiro em pé, sem alimentação alguma, onde um dedo apontava, ou para a vida, ou para a morte. Não consigo entender como isso pode ter acontecido?

Prendo a respiração. O polegar aponta para eu viver. Dou um passo adiante com hesitação, com cautela, e espero minha irmã… O polegar indica que Danka me siga. Respiro.

Enfim, novamente me choquei com mais atrocidades da Segunda Guerra. Choquei-me com a força que essas mulheres tiveram, fiquei me pondo no lugar, e não consigo me imaginar com forças para aguentar tamanha violência por três anos. Os relatos de Rena são tão minuciosos e detalhados, que não sei como esta adorável senhora conseguiu manter tudo isso dentro de si sem enlouquecer por todos esses anos. Rena nunca havia contado a história inteira para ninguém antes dos livros (a primeira edição foi lançada em 1995), e fiquei muito feliz por conhecer a sua história. Nessa reedição, foram adicionadas notas de rodapé, com fatos históricos interessantíssimos.

Tudo que se passou naqueles anos precisa ser divulgado sempre, para que nunca ocorra de novo. Nada nem parecido com o que foi vivenciado por milhares de pessoas, pode voltar a ocorrer. É um livro forte, com detalhes chocantes, mas que elucidam muito bem tudo o que aconteceu atrás daqueles portões. Rena relatou tudo a uma escritora, que teve a honra de conhecer, e transcrever toda a história, organizando em ordem cronológica.
Indico a todos, que parem de ler ficção e romance por um breve momento, e conheçam essa linda e sofrida história de superação. Não apenas de Rena e Danka, mas diversas outras mulheres. Se você já leu este livro, ou tenha outros para indicar, deixe nos comentários!

  • Rena´s Promise
  • Autor: Rena Kornreich Gelissen e Heather D. Macadam
  • Tradução: Monique D`Orazio
  • Ano: 2015
  • Editora: Universo dos Livros
  • Páginas: 400
  • Amazon

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