Imagine, apenas por um momento, que a nossa Terra, esse planeta lindo e cheio de diversidade que conhecemos e amamos, está passando por uma terrível guerra nuclear. Com o desenrolar da guerra a radioatividade se espalha por toda a superfície, contamina o solo e a água, destrói o ecossistema de todo e qualquer ser vivo e transforma a Terra, essa que conhecemos tão bem e que degradamos também, em um planeta inabitável. O que disse até agora não se trata de um discurso contra pesquisas nucleares ou em favor do maior cuidado com o nosso planeta, tudo se transforma em realidade através da trama de The 100.
Após perceber que a vida na Terra não era mais sustentável e que não havia nada mais a ser feito, sobreviventes provenientes de doze nações se reúnem e constroem o que então se transforma em sua salvação. Circulando na órbita terrestre, com os olhos voltados para o que então se tornou sua ruína, eles posicionam a Arca, uma grande estação espacial capaz de conter e manter vivos o que supostamente restou da humanidade. Porém a ordem dentro da Arca é mantida sob duras e rígidas regras, passando desde a necessidade de cada indivíduo se mostrar útil para os trabalhos dentro da Arca, até a pena de morte para aqueles que infringirem a menor das regras.Os únicos a “escapar” da pena de morte são os adolescentes menores de dezoito anos, que imediatamente são presos e passam a aguardar a maioridade para receber sua sentença. É nesse contexto que a trama da série se inicia e toma rumo, e a partir do momento em que suspeitas são levantadas de que a Arca já não pode mais manter sua população, cria-se, como última esperança, o plano de enviar para a Terra cem dos adolescentes que foram presos e estão aguardando sua sentença.
Sua missão, caso consigam atingir o solo terrestre, sobreviver ao lançamento, ao impacto de chegada e a própria atmosfera, possivelmente radioativa da Terra, é mostrar para os sobreviventes da Arca que a Terra é habitável e que a volta é possível. Mas não esqueçam que é de adolescentes que estamos falando. Dentre os 100 enviados de volta para a Terra, nós possuímos diversas histórias e personalidades, encontramos delinquentes, revoltados, esquentadinhos, engraçadinhos, e aqueles inteligentes que possuem muito à oferecer, são garotos e garotas que não viam, ou nunca virão a Terra e mal podem esperar para fazer o que bem entenderem. Uma vez no solo, porém, iremos perceber que apesar da inebriante sensação inicial de poder e liberdade, uma certa ordem começa a se mostrar, uma comunidade entre eles passa a surgir, posições de liderança começam a se estabelecer e o mais importante, esses adolescentes entendem que precisam ficar juntos para enfrentar o fato de que não estão sozinhos na Terra.
Os 100, ou se preferir, The 100, é uma série adolescente baseada na trilogia, de mesmo nome, escrita por Kass Morgan, que, segundo comentários dispersos nesta vasta internet, se inspira nos livros mas busca não se prende a eles. Já com a quarta temporada programada para o próximo ano, a série possui as duas primeiras temporadas disponíveis na grade da Netflix, porém, essa pessoa que vos fala, só teve a oportunidade de conferir a primeira. #shameonme
The 100 é a mistura perfeita entre aquele famoso gênero das séries de adolescentes, ficção científica e um bom suspense. Como todo seriado adolescente, este não foge à regra, iremos encontrar sim alguns clichês ao longo do caminho. Dentre eles estão a história da garota certinha e inteligente que acaba se apaixonando pelo “rebelde” do grupo; o irmão mais velho que está sempre protegendo e tentando limpar a barra da irmã mais nova; os nerds engraçados que não conseguem arranjar namorada, isso sem contar o famoso triângulo amoroso. Apesar de possuir esses clichês e apresentar sim, momentos de frustração para o espectador, aqueles em que as ações impensadas e imprudentes dos personagens acabam gerando péssimas consequências, a série possui uma trama bem interessante que prende quem estiver disposto a dar uma chance para a história.
O seriado vai muito além do apresentar dramas adolescentes, ele nos insere dentro de um novo mundo, com a cara de um velho que já conhecemos muito bem. O cenário terrestre é muito lindo, as paisagens escolhidas são ricas e, mesmo a Arca (que as vezes parece um pouco sucateada) é bem interessante de ser vista em tela. Outro elemento maravilhoso é perceber que com o tempo, mesmo os personagens adolescentes mais desviados, são capazes de amadurecer, e mais, realizam esse crescimento, esse amadurecimento para o bem ou para o mal. Eles criam uma comunidade, se organizam e lutam pela sobrevivência do grupo, ou lutam em favor de si mesmos apenas. É contagiante descobrir os segredos dessa nova velha Terra junto com cada personagem, sofrer com suas dificuldades e com seus problemas, mas também é eletrizante observar os momentos de tensão que surgem ao longo da história. Além disso, o próprio final da primeira temporada abre um gancho para que o universo apresentado seja expandido e deixa o espectador ansioso para o que vem a seguir.
Além de observar o crescimento e o amadurecimento dos personagens, é interessante analisar alianças se formando, a mente de cada um funcionando e montando estratégias para que possam sobreviver. E, para mim uma das coisas mais legais foi ver que, mesmo se tratando de uma série adolescente, não se teve medo de mostrar mortes e tortura, e até um pouco de canibalismo, é claro, que tudo de maneira suavizada, mas os temas estão ali e são extremamente importantes para a história e para formação do caráter de cada personagem uma vez em solo terrestre. O seriado possui os clichês sim, mas se mantém consistente, flui de uma maneira bacana, deixa a mente do espectador funcionando e criando teorias, planos e sonhos, e não tem medo de buscar tanto os momentos leves e cômicos, quantos os momentos de tensão.
The 100 é aquela série de adolescentes que amadureceu, conseguiu aprender que é possível ter um pé dentro do mundo adulto, mas também voltar seus olhos para suas raízes. A série diverte, entretém, cria tensão nos momentos certos, nos deixa com um gostinho de quero mais, e ainda abre as portas para que novos espectadores se interessem pelo meu amadinho gênero da ficção científica. Como uma grande maioria, também possuí pontos fracos, alguns defeitos, mas são todos os seus pontos positivos que a torna agradável de ver, interessante de acompanhar e cheia de teorias e conspirações para dividir. Existe muito mais em nossa Terra do que podemos imaginar, a radioatividade que muitos temiam não aconteceu da forma como declaravam, e cem adolescentes podem ser muito mais fortes do que uma porção de adultos que ficou para trás no espaço. Seja na Arca ou em solo terrestre, continuamos assistindo um dos seriados adolescentes mais bacaninhas e interessantes que surgiram em nossa frente por um longo tempo!