O Efeito Rosie, livro do escritor australiano Graeme Simsion, foi publicado neste ano de 2016 e é uma continuação de O Projeto Rosie, de 2013. Na época de lançamento do primeiro livro, não se falava em uma possível continuação e confesso ter ficado bastante espantada quando vi O efeito Rosie como uma das novidades para este ano pois fiquei pensando quais seriam as novas trapalhadas de Don. Quando li O Projeto Rosie, achei a história muito divertida, inteligente e inusitada. Era a primeira vez que eu lia um chick lit com protagonista masculino e gostei muito da experiência. Foi uma das melhores leituras daquele ano.
Em O Efeito Rosie, Don Tillman já está com 41 anos, ainda é um geneticista excepcional. Ele casa-se com a Rosie e, como ele mesmo cita logo no início da narrativa, estão juntos há exatamente 10 meses e 10 dias. O casal mudou-se para Nova York, Don é professor da Universidade de Columbia e Rosie ingressa o programa de Doutorado em Medicina.
A obra é narrada em primeira pessoa e novamente os leitores veem através dos olhos de Don. Então, de certa forma, para quem já está acostumado com a inaptidão de Don para se relacionar socialmente, não encontra tantas novidades assim. Mas isso não quer dizer que a história não renda boas risadas, pelo contrário. Don continua criando listas e regras para tudo e ainda não entende ironias e sarcasmos. Ele considera Rosie a mulher mais perfeita do mundo, apesar de revelar ao leitor que achava totalmente desnecessárias as três malas extragrandes trazidas pela esposa durante a mudança para Nova York e que sentiu uma leve decepção por ter abandonado o Sistema de Refeições Padronizadas. Apesar dessas mudanças que acrescentaram uma “significativa complexidade” à vida de Don, ele estava conseguindo adaptar-se à nova realidade em Nova York e a seu novo emprego. Não somente isso, Don ampliou seu círculo de amizades e estava conseguindo não programar algumas atividades como, por exemplo, o sexo. Essa foi uma regra, aliás, instituída por Rosie.

Era terminantemente proibido programar o sexo, ou agendá-lo, mas a sequência de eventos mais provável para antecipá-lo logo se tornou familiar: um muffin de mirtilo da Blue Sky Bakery, um café expresso triplo da Otha’s, a remoção da minha camisa e a minha imitação de Gregory Peck no papel de Atticus Finch em O Sol é para Todos. Aprendi a não fazer as quatro coisas todas as vezes, sempre na mesma ordem, pois nesse caso minhas intenções ficariam óbvias. Para fornecer um elemento de imprevisibilidade, lanço uma moeda no ar duas vezes a fim de selecionar um componente da sequência a ser deletado.

O casal vive bem e feliz, até que Rosie anuncia um evento completamente inesperado e fora dos planos para Don: eles estão grávidos. A partir dessa novidade, Don passa por dois momentos: inicialmente – lembrando que ele é extremamente meticuloso em relação a planos – duvida que a notícia seja verdade pois o casal não havia planejado um bebê. Após dar-se conta de que realmente Rosie estava grávida, ele desenvolve, então, o Projeto Bebê, a partir de estudos sobre gravidez. Don resolve definir algumas metas para que o bebê se desenvolva bem, incluindo, claro, um sistema de refeições padronizadas para Rosie, exercícios e um cotidiano bastante regrado. Rosie não aceita que sua vida seja determinada por essa série de protocolos que Don estabelece e, como sempre, Don tenta agradá-la ao seu modo. Nosso protagonista irá, portanto, meter-se nas mais diversas confusões a fim de não “perturbar” a paz de Rosie e não prejudicar o bebê. Porém, alguns mal-entendidos ocorrem e o casamento de Don e Rosie está em risco. Como Don conseguirá resolver essa situação e voltar à sua vida simples e tranquila? É o que iremos ler nesse segundo livro.
O que mais gostei nessa história é perceber que a escrita de Graeme Simsion continua leve e engraçada. Mesmo com as manias do protagonista de criar listas para tudo, de possuir uma linguagem bastante científica e de explicar as suas teorias a partir dos estudos realizados sobre gravidez e parto, a narrativa não se torna tediosa. Bem no início havia algumas listas que me incomodaram e eu realmente me questionei se o escritor iria insistir com elas durante a narrativa, no entanto, as confusões que Don se meteu por compreender somente o significado literal das palavras, acabou por agilizar o ritmo da narrativa que estava um pouco fragmentado pela quantidade de listas presentes no texto. Quando Don é acusado de pedofilia porque resolveu, inocentemente, realizar um estudo sobre crianças através da observação de suas atitudes em um parque infantil, ri bastante do absurdo da situação. Sabe quando falamos que determinado incidente só poderia ter acontecido com a gente? Pois é. É exatamente isso que acontece com o nosso querido protagonista Don. O problema é que tudo o que acontece com ele é muito bizarro.
Apesar das situações engraçadas, considero a temática deste livro muito mais adulta que a do primeiro. Don é o legítimo pai de primeira viagem, ansioso e preocupado com o bem-estar de sua esposa e o bebê. As dificuldades que surgem são criadas devido à inaptidão social de Don, mas é interessante perceber que ele é um bom amigo e ajuda quem está a sua volta com soluções bastante incomuns.
No início da narrativa eu fiquei um pouco incomodada com a dinâmica do casal. Achei que Don estava completamente obcecado com a gravidez, o que é normal quando consideramos o habitual comportamento do personagem, mas Rosie parecia não se importar muito. Como o texto é narrado em primeira pessoa, o leitor acompanha a angústia de Don, mas não sabe exatamente o que a Rosie está pensando. Então, comecei a me irritar com as atitudes de Don em relação à Rosie e vice-versa. No entanto, dei-me conta que já deve ser difícil conviver com Don em momentos comuns, imagina com os contratempos de uma gravidez. Mas, mesmo assim, pensando sobre o casal, ambos se conhecem bem, vivem juntos, e parecem não tentar se entender! E não somente isso, os amigos que já sabem de todos esses hábitos de Don e da atual condição de Rosie, poderiam interferir de alguma forma. Entretanto, essas reflexões decorrem da leitura e de forma alguma desqualificam a obra.

Primeira capa de O Projeto Rosie, a nova capa lançada neste ano e O Efeito Rosie.

Gostaria também de falar sobre a capa do livro e sobre o relançamento de O Projeto Rosie com a nova capa combinando com a de O Efeito Rosie. Algumas pessoas criticaram o novo estilo de capa e eu discordo. Gostei bastante até. A capa de O Projeto Rosie agora é laranja e mostra Don correndo de bicicleta, com um buquê de flores. A propósito, a imagem remete a uma cena bem engraçada do primeiro livro. A capa de O Efeito Rosie é azul e aparece a bicicleta de Don caída e ele correndo com uma rosa na mão. Achei bem interessante essas imagens que se complementam e essas cores que não são tão comuns às cores usadas em obras do gênero chick lit. Não que eu não goste da capa anterior, gosto e acho muito bonita. No entanto, eu achei essa nova ideia bem bacana e deixa o visual mais “limpo”, com menos informação, combinando com o comportamento do protagonista.

— Não encha o saco dela com seus argumentos infinitos. E não se esqueça de dizer que a ama.
— Ela sabe.
— Quando foi a última vez que você disse isso a ela?
— Está sugerindo que eu preciso dizer isso várias vezes?
O amor era um estado contínuo. Não houve nenhuma mudança significativa no meu sentimento desde que nos casamos, talvez uma diminuição no estado denominado paixão, quem sabe, mas não me parecia útil ter de fornecer relatórios contínuos para Rosie a respeito do meu sentimento.

O Efeito Rosie é um livro ótimo, de narrativa leve, engraçada, dinâmica e inteligente, que nos mostra tanto os aspectos positivos quanto os negativos do casamento, da gravidez e dos relacionamentos em geral. Não creio que esta leitura tenha superado a primeira, mas gostei muito de saber um pouco mais sobre a história de Don Tillman e Rosie Jarman e ver que apesar de esses personagens serem bastante diferentes um do outro, aquela ideia de que “os opostos se atraem” acontece de forma um tanto confusa, mas acontece.

  • The Rosie Effect
  • Autor: Graeme Simsion
  • Tradução: Ana Carolina Mesquita
  • Ano: 2016
  • Editora: Record
  • Páginas: 416
  • Amazon

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