Às vezes gostaria de poder mostrar para vocês toda a animação, as conversas e o trabalho que transformam o nosso adorável e sombrio Mês do Terror no que ele é. Seria interessante mostrar para os leitores, todas as nossas ideias, os nossos bate papos, toda a vontade que surge de nossos cantos mais sombrios para criar um mês todo lindo para vocês.Mas então percebo que, caso fizesse isso, todo o nevoeiro que surge em nossas postagens, os arrepios e sustos que compartilhamos com vocês poderiam se evaporar, afinal, uma boa história de terror deve deixar sempre um suspense no ar! Porém, quando decidi trazer esse filme para vocês, percebi que precisaria trazer uma pequena contextualização, assim poderia contar minha história e explicar tudinho para vocês.
O Halloween é, juntamente com o Natal (mas acredito que já comentei isso antes, não é mesmo?), minha época preferida do ano! Vocês não fazem a menor ideia do que essa época é capaz de fazer com minha pobre cabecinha, do que o mês das bruxas é capaz de trazer assim que começa a surgir no horizonte. Um mês antes da chegada de outubro, já estou matutando, pensando, soltando ideias e maluquices para todos os lados, pois é isso que a mudança de ares faz comigo. Minha mente acelera, os fantasmas se divertem, o mundo parece perder a cor e o sol parece brilhar em menor intensidade, toda a minha experiência com o gênero vem a tona e mostra que não é possível negar minhas raízes o terror está nas minhas veias assim como as luzes piscantes do natal estão em meu coração.Pensando e repensando, percebi que, e peço perdão por não ter notado minha falha antes, nunca trouxe para vocês aqueles adoráveis filmes infantis que possuem uma pegada mais sombria e misteriosa, afinal de contas, quem disse que crianças não podem se assustar de vez em quando?
Coraline e o Mundo Secreto, título que irei resumir daqui para frente, foi lançado no ano de 2009, porém quando o filme é realmente bom, deixa sua marca em nossos corações, vale a pena recordar, indicar e descobrir, e é por toda a sua magia e escuridão que ele está aqui hoje. Comandado pelo mesmo diretor do meu favorito
O Estranho Mundo de Jack, o filme é uma adaptação da obra de mesmo nome do autor
Neil Gaiman.
Neste filme seremos apresentados a fofa e corajosa Coraline, uma garota comum, com pais normais que a tratam com carinho, mas como todo adulto, pai e responsável, eles devem fazer sacrifícios, devem se isolar de tempos em tempos para que a menina tenha tudo o que precise. Logo no início da história iremos descobrir que a família havia acabado de se mudar para um conjunto de apartamentos localizado em outra cidade, deixando assim os amigos e a antiga vida de Coraline para trás. Com toda essa mudança a menina acaba passando por uma fase de transição complicada, e se vê desejando por tudo o que deixou para trás e uma vida diferente daquela que tinha até então. Porém com algumas conversas e passeios, não irá demorar para que a personagem comece a descobrir os segredos e peculiaridades de cada morador do local.
Durante uma noite, Coraline é acordada por um barulho que a leva a descobrir uma passagem secreta, algo inexistente à luz do dia, algo deixado ali para que somente ela pudesse encontrar, feito de acordo com sua medida. A passagem misteriosa leva a personagem a outro mundo, uma nova versão de sua vida atual, uma resposta ao que a menina vinha desejando desde sua mudança. Nesse mundo alternativo seus pais são atenciosos, os vizinhos são mais interessantes, tudo parece ser melhor, porém o fascínio inicial é rapidamente modificado para o susto, quando a menina percebe que no lugar de olhos todos possuem botões. É a partir dos detalhes desse novo mundo, das descobertas que a menina faz enquanto passa suas noites com seus pais em melhores versões de si mesmos, que iremos descobrir que o conto de fadas matou as princesas e que o País das Maravilhas não é mais tão maravilhoso assim. Muito mais do que a resposta a seus desejos, a personagem encontrará um plano que precisa dela para ser executado.
Coraline apresenta uma proposta inicial mágica, interessante e adorável. O início da narrativa e as cenas mostradas são encantadoras e seguem com uma certa claridade, porém assim como uma boa história de terror, os segredos nos são apresentados aos poucos, com paciência e tempo. É assim que o tom começa a escurecer, que a temática começa a mudar e no momento em que passamos a conhecer os segredos por trás da história e os detalhes presentes ao longo de toda a narrativa, percebemos a história mágica para crianças se transformado em algo sombrio capaz de assustar crianças despreparadas e pais desavisados. O filme irá apresentar uma pegada Alice no País das Maravilhas, com direito ao gato companheiro, um túnel do coelho branco, uma rainha vermelha sedenta por almas e um mundo novo cheio de segredos que a princípio parecia maravilhoso. Porém o filme é maior do que uma mera releitura do clássico, aqui apesar de possuir um olhar menos assustador do que um filme de terror propriamente dito, encontramos um conto sombrio repleto de simbolismos e finalizado com lições como o velho: “cuidado com o que deseja”.
O filme brinca com os desejos da personagem, nos mostra que nem sempre o que pensamos querer é realmente tão belo e perfeito quanto parece. Ele nos mostra o preço a ser pago por algo que nos oferecem, nos apresenta os perigos de aceitar “doces” de estranhos, e apresenta uma personagem manipuladora capaz de enganar com mentiras para que mantenha o controle sobre seu domínio. Além das mensagens encontradas e das reflexões que podemos tirar de cada cena, observamos também um cenário que responde e significa muito mais do que um palco para as situações mostradas, observamos cenas belíssimas e momentos em que a aura do filme muda drasticamente, fazendo com que possamos entrar com tudo nos perigos desse mundo. Esqueça as teorias e significados ocultos do filme. Um pouco de ocultismo é utilizado sim, porém para contar uma história pensada para jovens. O clima agradável criado no início do filme é facilmente modificado para algo mais sombrio e misterioso, porém capaz de fazer espectadores mais experientes e maduros pensarem um pouco sobre todo o simbolismo da obra.
Muito mais do que um filme inocente para crianças, Coraline é uma obra fascinante, capaz de trazer magia e simbolismo na mesma medida em que trás escuridão e complexidade. Lições são facilmente percebidas nesse filme, porém seu brilho está no todo, em cada detalhe estrategicamente posicionado para que o espectador pudesse refletir e tirar suas próprias conclusões. O filme entretêm como qualquer outro, porém possuí aquele algo mais, e não termina sem antes deixar o espectador com no mínimo, um pouco de desconforto. Com cenas belíssimas, personagens acertados e uma narrativa sombria e cheia de segredos, nada mais digno do que ganhar um espaço aqui no nosso Mês do Terror!
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Coraline
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Lançamento:
2009
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Criado por:
Neil Gaiman
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Com:
Dakota Fanning; Teri Hatcher; Keith David
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Gênero:
Animação, Fantasia
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Direção:
Henry Selick