Tudo relacionado a exorcismos na igreja católica, é sigiloso, ou seja, os diários foram por muitos anos privados, assim como os próprios padres não podiam falar sobre assunto. Mesmo com a falta de informações, o autor William Peter Blatty lançou o livro O Exorcista em 1971. Apenas 40 anos depois, que Thomas B. Allen conseguiu ter acesso aos diários e lançou a primeira edição de Exorcismo. O Exorcista e Exorcismo são duas obras completamente diferentes.
No livro conheceremos a família Mannheim e o menino Robbie (nome fictício), um garoto de 14 anos que acaba de sofrer a perda de uma tia bastante próxima. A tia, bastante espiritualizada quando ainda viva, presentou o garoto com a famigerada tabua ouija, jogo onde brincavam por horas juntos. Após a morte inesperada da tia, Robbie começa a apresentar sintomas fora do normal e se comportar de maneira estranha, além disso, eventos incomuns começam a acontecer pela casa da família e lesões aparecem pelo corpo da criança.
Após procurarem a ajuda médica e pastores, sem êxito a família vai à procura de outra orientação religiosa e neste ponto temos uma discussão bastante interessante no livro. Mesmo que luteranos, a família acaba procurando a igreja católica, por só ela executar exorcismos. Logo seremos apresentados ao padre
William Bowdern e seu assistente, o padre
Raymond J. Bishop, que escreveu os tais diários e que ajudou a família.
Para aqueles que esperam de Exorcismo um livro ainda mais aterrorizador que o clássico, sinto muito informa-los que este não será o livro indicado para isso. Por ser não-ficção, o livro permeia muito mais o âmbito jornalístico do que qualquer outra coisa. Nos aprofundaremos nas burocracias da igreja, as hierarquias de poder dentro dela e em todo o processo que qualifica um caso, ou não, como a de uma possessão demoníaca. Na presença do garoto, Bowdern faz uma série de descartes antes de ter certeza do “diagnostico” e mesmo assim, em nenhum momento a informação é claramente resolvida.
Talvez, a dúvida constante tenha contribuído para que eu achasse que a leitura de Exorcismo tenha sido extremamente arrastada. Existem lacunas vazias na narrativa do livro, o que intriga o leitor. Acabou que eu duvidei de muitos dos relatos que li. É difícil aceitar que durante dias e dias, o menino tenha sofrido com tamanha negligencia dos familiares. São tantos fatos incoerentes que não poderia coloca-los aqui, mas também, entendo que estamos falando de uma história que aconteceu há anos, então, compreendo qualquer ruído que exista.
Deixando isso de lado, sendo um relato diário dos acontecimentos, infelizmente a leitura beira a monotonia. Teremos exorcismo no dia um, exorcismo no dia dois, exorcismo no dia três, cama mexendo, o menino gritando e tudo isso repetidamente. Então, parece bizarro, mas no quarto exorcismo você já trata o fato com normalidade. Thomas B. Allen tentou preencher estes momentos com estudos históricos e religioso, mas acabou não funcionando para mim.
Ao final teremos, finalmente, o diário do padre
Raymond J. Bishop na integra e a decepção aumenta quando concluímos que tudo nele é exatamente o que já lemos nas páginas anteriores. Sinceramente, o formato que o livro não me atrai, acho que funcionaria melhor se o autor se preocupasse apenas por mostrar, enfim, os diários que ficaram por tantos anos em sigilo e fizesse seus comentários em cima deles.
O trabalho da Darkside cumpre com o papel de atrair o leitor, ainda mais tendo em sua contracapa uma tabua ouija exclusiva. Na edição também existem informações adicionais relevantes, como o posicionamento da igreja e dos médicos diante um caso desses, neste ponto, o autor acerta em cheio ao se aprofundar, já que não é o tipo de notícia que vemos nos jornais. Ao final também há as fontes e a bibliografia que Allen utilizou em seu dossiê.
De qualquer maneira, o fato de ser um relato do que realmente aconteceu, contribui para que Exorcismo seja uma leitura válida. Na medida do possível, é uma leitura intrigante e que deve agradar os mais curiosos. Porém, por outro lado, por ser de esfera religiosa, contendo rezas e passagens bíblicas, pode ser um livro para poucos.
Concluo que qualquer acréscimo de conhecimento é interessante, ainda mais sobre exorcismo, assunto que após anos continua sendo mantido sobre panos quente pela igreja. O que posso dizer é que não é à toa que o livro de Thomas B. Allen é considerado o mais completo relato de um exorcismo pela Igreja Católica desde a Idade Média. Sendo um relato imparcial dos acontecimentos, fica a cargo do leitor acreditar no que realmente aconteceu no caso Robbie Mannheim, que por anos foi recebido com descrença e ainda sem explicação.