O primeiro volume da série Os Últimos Sobreviventes, A Vida Como Ela Era, é um lançamento de 2014 que ganhou uma nova edição, agora, em junho de 2016. Com um novo trabalho gráfico, a edição chamou mais a atenção dos leitores e principalmente, dos fãs de distopias, assim como eu.

Logo de início conheceremos Miranda, protagonista e narradora desta história. É através de seus diários que vamos acompanhar as mudanças na vida desta adolescente. Teremos vislumbres normais da jovem com sua família, com suas amigas e também sua relação com garotos, afinal, Miranda tem 16 anos.
Diferente das distopias habituais, não iremos adentrar em um cenário distópico já estabelecido, vamos conhecer um mundo exatamente como o nosso, mas que diante um novo acontecimento, está prestes a mudar drasticamente. Iremos acompanhar esta sociedade, que Miranda e sua família se encontram, se moldando pouco a pouco, diante as dificuldades que seguirão pela frente.
Em seus diários, Miranda começa a relatar a preocupação de sua mãe e as rasas informações que os estudiosos fornecem diante a aproximação de um asteroide na rota da Terra. A população foi avisada que não haveria necessidade de tanta preocupação, porém, os cientistas estavam enganados e a colisão do asteroide na lua acabou sendo maior que a esperada, alterando a proximidade da lua em relação a Terra.
O que seria um simples evento, algo que Miranda poderia observar tranquilamente do quintal de sua casa, acaba ganhando uma proporção, absurdamente, maior e na manhã seguinte, Miranda já acorda num completo caos na Terra. Fora de órbita, em menos de 24 horas, a lua desencadeou uma série de acontecimentos climáticos pelo mundo. Terremotos são identificados por todos os continentes e tsunamis varreram todo o litoral do país. Grandes cidades como Nova York, Miami e Las Vegas estão em baixo d’água. Vulcões, antes adormecidos, acordaram e todos estes eventos somam milhares de desaparecidos e mortos.

Agora a realidade é diferente. A energia é escassa e não há mais abastecimento de combustíveis. Logo não haveria como se locomover e o aquecimentos das casas estava comprometido. A comida não chegará mais e a água também deixaria de ser potável. As mudanças climáticas chegariam antes do esperado e o inverno seria muito mais rigoroso.

Por ser um livro todo narrado em forma de diário, a leitura de A Vida Como Ela Era é feita de maneira rápida e por existir crescentes e constantes acontecimentos na vida de Miranda, é difícil interromper a leitura. É uma leitura repleta de apreensão, nervosismo e, por vezes, chocante. A autora Susan Beth Pfeffer soube fisgar o leitor já no começo de sua série.
Com certeza, o ponto alto desta leitura e o que será uma grande surpresa para qualquer fã do gênero é justamente esta transição que é relatado com tantos detalhes por Miranda. A mudança deste mundo que estamos tão familiarizados para um mundo devastado e completamente mudado. É interessante ver a preocupação dos personagens com o armazenamento de comida, água, lenha e o racionamento de tudo isso.

O posicionamento da sociedade também é algo bastante interessante de se observar durante a leitura. A postura dos que tem muito e o horror de quem tem pouco. Há pequenas críticas nesta parte da história, mas a autora aqui, resolveu seguir por um outro caminho, deixando um pouco de lado o governo e focar numa crítica direcionada a religião. De como algumas pessoas reagem neste tipo de situação e como o fanatismo pode contribuir negativamente em determinadas situações. Existe também uma organização de saques às casas onde não há mais sobreviventes, e também é estabelecido um certo limite de aproximação entre os vizinhos, não era permitido entrar na casa do outro, nem questionamentos sobre mantimentos.

O que sinceramente me assusta. Pois ao finalizar a leitura, é difícil não se imaginar em tal situação visto que as circunstâncias são tão parecidas com as nossas. Eu realmente não imagino que a sociedade atual seja tão civilizada assim. A Vida Como Ela Era nos concede um realismo aterrorizante e um toque sútil de medo. A autora trabalha com catástrofes que já são existentes em nosso planeta o que deve deixar qualquer leitor preocupado.

A relação e o fortalecimento da família de Miranda, também são fortemente trabalhados pela autora. Aos olhos da personagem, percebemos a angustia de uma mãe que precisa decidir se foge com seus três filhos ou se permanece, em casa, e se prepara para o que há de vir, o que é incerto. Aos poucos as notícias deixam de chegar na cidade e qualquer evento, seja bom ou ruim, é de uma emoção sem tamanho, tanto para esta família, quanto para o leitor.

Assim como sua personagem principal, durante a leitura, a narrativa vai se tornando mais madura. Aos olhos de uma menina de 16 anos, que tem tanto a viver e a descobrir, vamos ver uma triste realidade, onde a morte e a fome passa a ser algo cotidiano, entretanto, mesmo diante tantas perdas e dificuldades, a autora não deixar de dar para o leitor pequenas nuances da personalidade de Miranda, que ainda sonha com tantas coisas e tem tantos desejos bobos comparado a sua nova realidade. O que torna A Vida Como Ela Era uma distopia young adult, mas que com certeza, é igualmente impactante para todas as idades.
A Vida Como Ela Era é uma leitura emocionante, que falará sobre persistência e sobrevivência. Nos mostrará que mesmo quando tudo estiver perdido, quando as apostas forem pequenas, sempre haverá luta, sempre haverá esperança. Eu recomendo a leitura para os fãs do gênero, mas com apenas um adendo, a leitura é indicada para fãs de Jogos Vorazes, mas com exceção do gênero, as duas séries são bem diferentes. Quero continuar com a leitura da série e descobrir como será esta nova vida de agora em diante.
O segundo livro da série se chama Os Vivos e os Mortos.

  • Life as We Knew It
  • Autor: Susan Beth Pfeffer
  • Tradução: Ana Resende
  • Ano: 2016
  • Editora: Bertrand Brasil
  • Páginas: 378
  • Amazon

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