Libby é uma adolescente que ficou conhecida por ser resgatada em casa depois de ficar presa. Ela engordou tanto que não conseguia sair do seu próprio quarto. Após perder sua mãe, ela acabou desenvolvendo um transtorno alimentar provocado pela ansiedade, deixou a escola e passou a estudar em casa.Depois de ter um ataque de pânico e ter seu resgate televisionado para o país inteiro, Libby começou a adotar hábitos mais saudáveis e conseguiu emagrecer o suficiente para voltar a ter uma vida normal. Mas isso seria possível depois de tanta exposição? Cansada de ficar sozinha e se esconder, Libby decide que é hora de voltar para escola e quem sabe até fazer parte do time das líderes de torcida.

Jack é um garoto popular do ensino médio. Ele tem um relacionamento ioiô (vai e volta) com uma garota linda, Caroline, mas que ele nem sempre consegue distinguir quem é no meio da multidão. Aliás, ele não reconhece nem mesmo os seus irmãos mais novos, Dusty e Marcus. Jack desconfia que tem uma doença chamada prosopagnosia, um problema neurológico que impede que as pessoas reconheçam rostos. Ou seja, por mais que ele conheça as pessoas é como se todos fossem completos estranhos aos seus olhos.
A história vai se intercalando entre as narrativas dos dois personagens, algumas vezes voltando no tempo, até que os dois se cruzam. Tudo por causa de uma “pegadinha” sem graça que Jack se vê pressionado pelos amigos a fazer com Libby. O que ele não esperava é perceber que tem muita coisa em comum com a “garota gorda”.
Desde a Bienal Internacional do Livro de São Paulo, onde fiquei conhecendo a autora Jennifer Niven, eu queria ler um livro dela. Criei uma expectativa enorme em cima de suas histórias. E, para minha felicidade, ler Juntando os Pedaços foi uma experiência maravilhosa. Eu fiquei muito emocionada em saber que a Libby tem muito da Jennifer Niven. Na carta introdutória ao livro e nos agradecimentos no final, ela confessa que sofreu bullying na adolescência.

Não precisei ser resgatada da minha própria casa, como a Libby, mas ao longo dos anos enfrentei problemas com peso e ansiedade – principalmente quando tinha a idade da Libby – e sei como é sofrer bullying – Agradecimentos (Pág. 389)

A Libby passa por uma transformação incrível – não aquelas transformações milagrosas daqueles filmes de adolescentes que a menina que sofre bullying aparece um dia super gata. Ela começa o livro apenas rezando para que as pessoas não a reconheçam como a garota gorda resgatada e acaba mostrando para todo mundo que ela é muito mais do que o seu peso, principalmente, para si mesma. A morte de sua mãe transformou a forma como ela enxerga a vida: tão frágil que é capaz de evaporar em um segundo. As lembranças do apoio que sempre teve de sua mãe é o que a faz correr atrás dos seus sonhos e superar seus medos.
Jack se esconde atrás da popularidade. Ele criou uma forma de agir com as pessoas que justificasse a sua incapacidade de reconhecê-las sem que elas soubesse desse seu problema. No fundo, no fundo, como ele mesmo diz: “Não sou um merda, mas estou prestes a fazer merda”. Mas é tentando compensar o que fez com Libby que ele acaba se abrindo com ela e descobrindo que ela é uma garota linda em muito mais aspectos do que a Caroline, com quem ele nem consegue conversar.

Um dos pontos que mais gostei da história foi a autora ter descrito o Jack como um personagem negro. Não sou muito fã de livros que descrevem os personagens fisicamente, mas acho que nesse caso foi importante. Primeiro, porque estamos falando de um YA (Young Adult) e quando penso em produções cinematográficas baseados nesses livros, todos os personagens são brancos. Acho esse tipo de representatividade muito importante. Segundo, a doença abordada na história, a prosopagnosia está ligada justamente na identificação das pessoas através de suas particularidades, como cabelo, cor da pele, cor dos olhos, etc. Não faria sentido não ter esse tipo de elemento na história (descrição física dos personagens).
Por fim, quero dizer que amei relação do Jack com o seu irmão mais novo, Dusty. Também amei a relação da Libby com o seu pai. A história está recheada de questões que eu poderia ficar horas aqui discorrendo. A Jennifer consegue trabalhar com todas elas na medida certa, sem tornar a história cansativa. Eu terminei o livro com aquela sensação que resenha nenhuma seria boa o suficiente para contemplar o que foi essa leitura. E fica aqui a mensagem que o livro quer passar: Você é necessário. Você é amado.

  • Holding Up the Universe
  • Autor: Jennifer Niven
  • Tradução: Alessandra Esteche
  • Ano: 2016
  • Editora: Seguinte
  • Páginas: 288
  • Amazon

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