Anos atrás, a mais diversa gama de leitores, viu-se fisgada pela trágica história de três irmãos que, durante um dia agradável na praia, receberam a notícia de que seus pais haviam morrido em um terrível incêndio. Estas três crianças foram deixadas para trás, abandonadas por aqueles que deveriam olhar por elas. O fogo levou seus pais, sua casa e todas as boas memórias que algum dia eles poderiam construir. A promessa de uma vida feliz é jogada para baixo do tapete, toda a esperança desaparece do horizonte, uma vez que, para seu novo tutor, aqueles considerados adultos e responsáveis escolheram um vilão maquiavélico.
Este vilão, que surge sem ser convidado em nossa história, possuí um plano terrível para ficar com a fortuna deixada para os três irmãos Baudelaire, porém, mesmo quando seu plano é descoberto e seus disfarces desmascarados, ele insiste em voltar de novo e de novo. E, no meio das diversas desventuras destes pobres irmãos, leitores de todas as idades se encantaram com um narrador carismático e uma escrita bem-humorada.
Estes leitores apaixonados, os quais acabei de lhes apresentar, podem ter se decepcionado quando, por motivos desconhecidos, uma série de filmes não vigou. Porém, quando a retomada da trajetória dos irmãos Baudelaire foi anunciada, dessa vez em formato de seriado – e vamos combinar, nada mais certeiro do que criar uma série de Desventuras em Série – pela nossa querida Netflix, todos os apaixonados pela perseverança de Violet, Klauss e Sunny viram uma nova esperança surgir no horizonte. É sobre a retomada dessa história, sobre a graça de encontrar personagens tão carismáticos na tela da televisão, que venho comentar com vocês hoje.
A primeira temporada de Desventuras em Série se propõe a explorar a história dos quatro primeiros livros, dividindo-se assim, dois episódios para cada livro. Porém, algo que muitos dos que ainda não leram a obra escrita ou estão retomando a leitura, não previram, era o fato de que poderiam surgir spoilers ao longo da primeira temporada.
Logo no primeiro episódio o espectador recebe uma informação bombástica, essa informação, esse detalhe que a princípio parece se tratar de um spoiler, será desenvolvido ao longo de todos os  episódios, unindo-se aos acontecimentos da narrativa principal. O que de início surgia como um grande furo, no fim destaca-se como uma sacada dos produtores, uma forma de deixar o espectador instigado e ainda, uma estratégia de fazer com que quem assistiu o seriado possa criar diversas teorias, mesmo que não tenha lido os livros.
Assim, aquilo que no começo do seriado me deixou frustrada e desanimada, acabou se tornando algo capaz de trazer uma curiosidade ainda maior com relação aos livros e com a gama de possibilidades presente nas temporadas seguintes.
Quando comparamos o catálogo diversificado de séries produzidas pela Netflix, além do investimento diferenciado, depositado em cada um de seus títulos – vide destaque de Stranger Things (resenha aqui) no Super Bowl – torna-se nítida a diferença entre Desventuras em Série e os demais seriados da companhia.
Apesar de abusarem da famosa tela verde, dos cenários serem simples e complementados por computação gráfica, confesso que o resultado final me foi extremamente agradável. Ao longo de cada cena, o que se destacava era a forma adorável e certeira com que se utilizou a computação gráfica para dar conta da falta de cenários maiores e mais elaborados. A atmosfera, as cenas, a montagem de Desventuras em Série possuí aspecto antigo, nos lembra algo que víamos antigamente, mas não sabemos destacar com precisão o que verdadeiramente é. Além de uma história interessante, cada episódio apresentado é agradável aos olhos, é dirigido de forma brilhante, mostrando que não se faz necessário um enorme cachê para produzir bom material.
Juntamente a belíssima forma com que foram dirigidas e elaboradas as cenas, destaca-se aquilo que, em minha humilde opinião, é a cereja do bolo. Sabemos que o narrador e autor de Desventuras em Série é Lemony Snicket, são suas palavras que nos conduzem através das dificuldades dos irmãos Baudelaire, porém, aqui Lemony Snicket é elevado para o posto de personagem e narrador. A todo momento, a figura do autor surge para acrescentar algo a história, para compartilhar uma nova informação, para explicar o que significa essa ou aquela palavra. A forma como o autor foi integrado ao seriado é brilhante, diferente daquilo que estamos acostumados a observar. Esse detalhe fecha de maneira única o produto final.
Tenho que admitir que, embora Neil Patrick Harris tenha tirado o Conde Olaf de letra, foi Patrick Warburton quem me surpreendeu. Seu aspecto sério, seus comentários, as piadas separadas para sua figura, cada cena em que aparecia me foram preciosas. Onde Neil Patrick acerta ao mostrar seu lado caricato, nos trazendo um Conde Olaf maldoso, cômico, carismático (se é que isso e possível), não tendo medo de entrar de cabeça em cada disfarce do personagem. Patrick Warburton me conquistou com cada a pequena mudança em sua entonação, com as sutilezas de seu personagem, com a narração certeira de uma série que, sem sua figura, não seria o que é!

Desventuras em Série, apesar de não possuir o brilho e peso de outros seriados produzidos pela Netflix, destaca-se como mais uma boa jogada da companhia. A série entretém, instiga o espectador, promete mais mistérios e quem sabe, algumas revelações. O elenco agrada, incorpora seus personagens e mostra a que veio. Assim como na série de livros, aqui encontramos uma história capaz de encantar um público diverso, uma narrativa bem amarrada, habilmente executada, comprovando que, quando se trata de seriados, a Netflix já se estabeleceu no mercado e ainda é capaz de mostrar frescor em suas produções!

  • A Series of Unfortunate Events
  • Criado por: Daniel Handler, Barry Sonnenfeld
  • Com: Neil Patrick Harris; Patrick Warburton; Malina Weissman
  • Gênero: Drama; Suspense, Aventura
  • Duração: 8 episódios – 50 minutos

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