A primeira vez que ouvi falar no livro Diga aos Lobos que Estou em Casa foi em um vídeo de um canal gringo. Lembro de ter achado o nome dessa obra fascinante, de ter me interessado muitíssimo por tudo o que a pessoa comentava sobre a história e de ter caído de amores pela capa, que por sinal, é a mesma da edição nacional. Naquele momento decidi que leria o livro assim que tivesse a oportunidade, mas o tempo passou e acabei me esquecendo desse nome peculiar e misterioso.

Semanas, talvez meses depois, descobri que o exemplar já havia sido lançado no Brasil e que estava em promoção. Como sou uma leitora consumista de carteirinha, levei para casa um exemplar, porém mais alguns meses passaram até que finalmente me debrucei sobre esta obra maravilhosa e descobri que deveria ter iniciado a leitura assim que o adquiri, pois, o tempo que passei sem conhecer essa história nunca poderá ser recuperado.

É difícil fazer isso, decidir acreditar em uma coisa em vez de outra. Geralmente a cabeça se decide sozinha.

Nesta história nós iremos acompanhar os dias de June Elbus, a filha mais nova de um casal de classe média que lida com contabilidade. June não é tão linda, atraente, magra e inteligente quanto sua irmã mais velha, Greta. Ela se esforça, faz o possível para atingir as expectativas, mas é comparada com o progresso e prodígio de sua irmã, porém, as diferenças entre as duas nunca foram um problema. As duas sempre foram unidas, melhores amigas, dividiam segredos, brincadeiras e sentimentos, até o momento em que Greta começou a se distanciar e agir de forma cruel e maldosa com relação a irmã.
June nunca foi uma garota de muitos amigos e isso nunca foi um grande problema já que gostava de ficar sozinha e dividir seu tempo com aqueles que realmente a conheciam e se importavam com ela, normalmente, essas pessoas eram amigos de infância ou sua própria família. Ela tinha Greta como sua melhor amiga até o momento em que esta se distanciou. No período em que Greta sai de sua lista de melhores amigos, o único membro restante é seu tio e padrinho Finn. Finn era um pintor maravilhoso, extremamente talentoso, que compartilhava bons momentos com a sobrinha. Além de ter lhe apresentado grandes amores como a música clássica e as feiras medievais, ele tinha o dom de saber o que se passava na mente da garota, mesmo quando ela acreditava que seus sentimentos estavam profundamente escondidos. Esse querido personagem tinha um grande caminho pela frente, porém uma doença cruel acabou com sua vida, deixando para trás uma June desolada, sua família, sua última obra, uma pintura de June e Greta e um homem misterioso chamado Toby.

Acima do pequeno fogo estava pendurado o retrato de verdade. Greta e eu pintadas observando Greta e eu observando outra cópia nossa queimar e sumir.

Diga aos Lobos que Estou em Casa foi uma grata surpresa. Normalmente não tenho o costume de buscar livros como esse, muitas vezes as histórias me desanimam já pela simples leitura da sinopse, mas em alguns casos, ao resolver dar uma chance para obras como essa, acabo me encantando com histórias maravilhosas e cheias de sentimentos e belas mensagens! Foram exatamente os sentimentos e as belas mensagens que me encantaram, além de outros detalhes singelos ou importantíssimos da narrativa.
Apesar de acompanharmos a história pelos olhos de June, e por sinal, a escrita está totalmente de acordo com a proposta e idade da personagem, todo o sentimento de luto, melancolia, tristeza, decepção e descobertas é visível, palpável e explorado de uma maneira singela e adorável pelas mãos habilidosas da autora.
A autora foi muito feliz em sua maneira de explorar os sentimentos de uma adolescente, foi habilidosa na utilização de elementos históricos e na criação de uma narrativa que aborda tanto o mundo de uma garota comum de quatorze ou quinze anos, quanto a forma como a sociedade enxergava pessoas que adquiriram AIDS. Além disso, a autora nos apresenta um olhar sensível sobre como é viver com sonhos partidos; como nos culpamos, ou culpamos outras pessoas, e sentimos a tristeza de ver alguém sofrer; como nos decepcionamos ao ver quem amamos deixando os seus  sonhos de lado, ou ainda, como muitas vezes depositamos nossos sonhos na vida de outras pessoas e desejamos que eles o mantenham vivos ao mesmo tempo em que seguem seus próprios caminhos. Carol Rifka Brunt sabe mesclar sentimentos e ainda deixar uma narrativa de 459 páginas fluida e leve. Em momento algum eu percebi que estava lendo um livro razoavelmente grande, a narrativa é maravilhosa e nos prende de uma forma impressionante.

Lá estavam todos os meus segredos, espalhados para todos verem. Olhe, aqui estão as esperanças idiotas dela! Olhe, aqui está o tolo coração mole dela!

Talvez dentre tantos aspectos que me encantaram, o detalhe que mais me agradou foi a aceitação demonstrada pela personagem June. Mesmo sabendo que seu tio tinha AIDS, mesmo com todo o preconceito que essa doença trouxe consigo e todas as histórias que ela levantou, como o fato de que passava pelo mais simples e sutil contato, ela lutou contra tudo, contra o preconceito, e mais tarde, com a chegada e presença de Toby, lutou para que este fosse compreendido, nem que fosse por ela própria. É a aceitação de Toby, com seus defeitos e aspectos positivos, suas verdades e tristezas que garante aquele algo mais na história. É esse personagem tão adorável que me encantou, além de ser o canal para que tantas mensagens belas e invisíveis durante grande parte de nossas vidas, é ele que as evidencia, que nos ampara e nos mostra um pouco de nós mesmos nele e em June.
Diga aos Lobos que Estou em Casa é um livro gracioso, adorável, cheio de mensagens de vida. Com uma história simples, porém com toques de realidade pura, ele nos conquista, nos prende no meio de suas páginas, de suas palavras diretas, simples, por vezes melancólicas e tristes, porém cheias de amor e um sentimento de reconhecimento. Por não ser tão conhecido como outros livros do gênero, ele demonstra ainda mais uma aura de encantamento, e vale a pena desvendar os segredos contidos em suas páginas. Para todos aqueles que já perderam e reencontraram alguém querido, essa é uma história reconfortante onde a realidade nos mostra nós mesmos através de uma obra fictícia.

Eu precisava saber que minha mãe entendia que ela tinha parte naquilo também. Que todo o ciúme e a inveja e a vergonha que carregamos era nosso próprio tipo de doença.

  • Tell the Wolves I’m Home
  • Autor: Carol Rifka Brunt
  • Tradução: Barbara Menezes
  • Ano: 2012
  • Editora: Novo Conceito
  • Páginas: 459
  • Amazon

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