A espera foi longa, e agora, mais de um ano depois, finalmente eu tenho em mãos a continuação da série A Rainha Vermelha. Eu iniciei a leitura de A Prisão do Rei de forma lenta, como se quisesse aos poucos, degustar cada página, como se quisesse prolongar ao máximo o final. Eu sabia que ao finalizar está leitura eu teria a mesma sensação que tive nos anteriores. A sensação de impotência por não saber o que acontecerá depois, resultando num turbilhão de teorias, em caminhos e desfechos alternativos que poderão seguir com a história a partir daqui.
Não preciso mencionar que está resenha, consequentemente, terá spoilers sobre os livros anteriores.
Depois do final revoltante de
Espada de Vidro,
Maven mantem
Mare como sua prisioneira com direito a coleira e algemas. Indefesa e cercada pelos Arvens ou pelas Pedras Silenciosas, que anulam seu poder, a garota elétrica está à mercê dos caprichos do rei tirano. Maven passa a usa-la em prol dos seus planos, para conseguir concertar os conflitos que surgiram com a descoberta dos sanguenovos e para conseguir manter o controle do seu povo. Mare é obrigada a discursar ao lado do rei, que compõe seu próprio discurso contra a Guarda Escarlate e tenta amenizar a situação da guerra civil em consequência a revolução.
Os olhos são ainda piores. Os olhos dela, de Elara. Antes eu os achava frios, feitos de gelo vivo. Agora compreendi. As chamas mais quentes ardem azuis, e os olhos dele não são exceção. A sombra da chama. Maven flameja, mas a escuridão o corroí pelas beiradas.
Do lado dos rebeldes, o Coronel e a Capitã Farley, líderes da Guarda Escarlate, compreendem que Mare agora é apenas uma marionete nas mãos de Maven e tentam como podem se fortalecer diante o último conflito, aquele onde Mare acertou sua vida pela dos seus amigos. Com o conhecimento e treinamento militar de Cal, que ganhou um papel importante na causa vermelha, a Guarda tenta combater as mentiras espalhadas por Maven e deixa de agir sob as sombras para unir forças a aliados em busca de fortalecimento e preparo para a guerra, porém, não só de conquistas e perdas se fazem estes conflitos e sangue vermelho e prateado está sendo derramado.
Mare continua sendo a narradora principal, porém, para que possamos compreender os acontecimentos enquanto a personagem está presa, em A Prisão do Rei ganharemos duas novas perspectivas, que são, diga-se de passagem, bastante interessantes no contexto atual. Com estas três visões, a autora proporciona um panorama bastante amplo da situação de Norta. Pela perspectiva da protagonista, compreenderemos as dificuldades e a aflição que ela carrega consigo. Através dela também conhecemos um lado não tão inédito da personalidade de Maven, que agora não possui mais a amarras de Elara, mas que se mostra igualmente frio e calculista.
Por este motivo, para mim ele é o personagem mais interessante da trama no momento. Durante anos, Maven teve sua mente corrompida pela relação abusiva que tinha com a mãe. De certo modo, é possível até criar empatia pelo personagem, ao mesmo tempo em que o enxergamos como ele realmente é. Nem tudo é fruto de Elara, mas sim de uma mente gananciosa que antes de tudo estava fadado a viver nas sombras do irmão mais velho e legitimo rei. Mare é o tendão de Aquiles de Maven e ela utiliza desta vantagem para se manter segura e despertar nele sentimentos que poderão ou não o levar ao erro.
Quando o conheci, fui seduzida por sua dor. Ele era o menino na sombra, um filho esquecido. Eu me reconheci nele. Sempre atrás de Gisa, a estrela cintilante do mundo dos meus pais. Sei agora que foi proposital. Ele me enganou quando era príncipe, me atraindo para sua armadilha. Agora, estou na prisão do rei. Mas ele também está. Minhas correntes são as Pedras Silenciosas. As dele são a coroa.
Cameron e Evangeline também são personagens que se destacam na trama e por suas vezes trazem novos tons a história. Cameron é aquela personagem que se assemelhava muito ao Cal de Espada de Vidro. Ela não quer estar onde está, se vê obrigada por causas maiores, mas o desejo de vingança é um dos principais motivos para ela ficar. Entender sua postura, seus receios e suas atitudes em relação a Guarda e aos prateados aliados proporciona ao leitor uma visão mais neutra da guerra e de tudo que está em jogo e suas consequências.
Os capítulos de Evangeline contribuem para um novo julgamento para a personagem. Acho que estes capítulos são os mais óbvios de o quanto cada um deles, são simples peças de tabuleiro num jogo de poder. É estranho afirmar, mas provavelmente, Evangeline se transformará num dos personagens mais atraentes deste livro. Entenderemos que não só ela, mas Cal, Maven e Mare, são simples peões de algo muito maior, pois agem sob o comando de alguém ou por que foram criados para isso. Nenhum deles é livre de verdade e esta é a grande sacada da história de Victoria Aveyard.
Nas resenhas anteriores da série, comentei o quanto o romance do livro era discreto, porém presente e intenso. Um sentimento atado por todas as amarras que o reino de Norta impôs. Em A Prisão do Rei, entretanto, o romance ficará mais evidente, mas por que precisa estar, o fortalecimento deste sentimento é essencial para o desfecho e eu não tenho dúvidas que por causa disso, alguns corações desavisados serão despedaçados.
A narrativa da autora continua igualmente imersiva e energética. Os livros de Victoria Aveyard carregam a parcela certa de ação e conflitos necessários para que a leitura será uma experiência bastante intensa, mas também carregada daqueles momentos mais calmos, o balsamo que precisamos para respirar entre um acontecimento e outro. Este equilíbrio na narrativa permite uma boa contextualização do enredo e nenhum detalhe é deixado de lado.
A Rainha Vermelha continua sendo uma das minhas séries preferidas, que apesar de seus altos e baixos, me prende de muitas formas. É uma série que vai despertar no leitor as mais diversas emoções. Uma série onde sua confiança será testada e você entrará em um conflito constante. A história e os personagens dão voltas, cada um à sua maneira, cada um munido de seus princípios. Isso fez com que eu, como leitora, não soubesse para que lado olhar. Fez com que eu fechasse os olhos para que pudesse entender cada atitude e decisão dos personagens, cada impensável traição e cada súbita aliança.
Enquanto o primeiro livro é introdutório e Espada de Vidro é um livro que destaca o fortalecimento dos rubros para a Guarda Escarlate, A Prisão do Rei destaca-se pelos conflitos políticos, na busca de aliados improváveis e em todos os jogos de interesse que consolidaram Norta como uma sociedade moldada pelo poder. Desta maneira, Victoria vem criando uma história inteligente, envolvente e completamente extasiante. Os personagens são incríveis, cativam seu espaço e contribuem com que a leitura proporcione as melhores sensações para o leitor. Sem dúvidas, tudo que mencionei é digno de uma ótima série de fantasia. Agora resta apenas esperar, mais uma vez, pelo próximo volume e final derradeiro. Espero que autora conclua esta história de forma digna, surpreendente e épica.
- King’s Cage
- Autor: Victoria Aveyard
- Tradução: Alessandra Esteche
- Ano: 2017
- Editora: Seguinte
- Páginas: 542
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