Apesar de não receber muito destaque na capa ou mesmo na sinopse apresentada no livro, a história conta com outra personagem principal muito importante, Lucy Pennant. Ela é uma garota órfã que acaba sendo levada para Heap House por ser uma Iremonger. Todos os empregados precisam ter algum laço de sangue com a família, nem que seja algum parente muito distante. A partir do mome to que eles passam a trabalhar na casa, eles perdem completamente as suas identidades e todos são chamados de Iremonger.
Recolhemos e amamos, com grande paixão, enferrujado e esgarçado, fedorento, feio, venenoso, inútil, descartado. Não há amor maior do que o dos Iremonger pelas coisas rejeitadas.
Lucy é uma garota de personalidade forte e simplesmente deixar de ser Lucy para ser mais uma Iremonger qualquer não está nos seus planos. Essa família guarda muitos segredos que estão prestes a serem revelados e Clod e Lucy serão os principais responsáveis por desvendar “O Segredo de Heap House” (leia com uma voz sonora meio macabra).
Eu não sei se foi a intenção do autor, mas em alguns momentos do livro eu entrei em um loop infinito questionando possíveis críticas feitas por ele sobre a nossa sociedade. Acho que um dos pontos mais claros seria como determinadas condições de trabalho podem descaracterizar um indivíduo. E as castas? O Iremongers que não eram puro sangue estavam condenados a serem serviçais para o resto da vida. Também questionei bastante a relação que temos com os objetos como sociedade, onde tudo é descartável, inclusive pessoas. Enfim, esses não são temas centrais do livro, nem sei se Carey estava realmente falando dessas coisas, mas foram pensamentos e ideias que surgiram na minha cabeça durante a leitura.
Eles pertencem a um tempo no qual os objetos de nascença eram coisas bonitas. Nada de escovas, tinteiros, papel mata-borrão nem desentupidores de pia, mas olifantes esculpidos em marfim e esferas armilares e pássaros mecânicos e patas de elefantes. Mas isso não acontece mais porque Vovó diz que precisamos de objetos do cotidiano, já que vivemos em uma era utilitária.
O acabamento do livro é bem simples, mas as ilustrações feitas pelo próprio autor dão um toque ainda mais singular a obra. Cada capitulo é introduzido com um página totalmente preta e ao virar encontramos uma das figuras que vivem na Heap House. Não saber o que irá encontrar na próxima página e os traços “macabrinhos” dos desenhos do Carey, dão ainda mais emoção para leitura. Para quem curte um mapa, logo no começo e no final do livro, encontramos a planta da mansão que mais parece um labirinto e dá uma noção melhor de como é a casa.
- Heap House
- Autor: Edward Carey
- Tradução: Marcello Lino
- Ano: 2017
- Editora: Bertrand Brasil
- Páginas: 384
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