O que você faria se todo ano, sempre no mesmo período de tempo, você e sua família passassem por uma temporada de acidentes? Um mês inteiro onde os acidentes dos mais diversos tipos poderão acontecer com você. São cortes, batidas, hematomas e até ossos quebrados e tudo isso, sem a existência de uma sensata explicação. Pelo menos não até agora.
Lançado em 2015, Temporada de Acidentes despertou minha curiosidade logo de cara, porém, com a correria das leituras de só quem é blogueiro conhece, minha experiência com esta leitura acabou se estendendo. Agora, finalmente, eu posso trazer para vocês, apontar e discutir todas as minhas impressões sobre esta agradável, profunda e delicada leitura.
Cara e sua família acabaram de iniciar a temporada de acidentes, por este motivo, facas, utensílios perigosos, fogão, gavetas e quinas de mesas, tudo é definitivamente guardado, trancado e protegido dentro de casa. A menor falta de atenção pode colocar a vida de todos os membros dessa família em perigo de uma hora para a outra. Desta forma que Cara cresceu temendo a temporada de acidentes, todo ano é impossível se sentir indiferente, ainda mais quando para mãe de Cara, isso é quase que uma obsessão.
Íamos desviar do punhal do atirador de facas e nos lançar na mais grandiosa das viagens. Naquela casa mal-assombrada, durante os últimos dias da temporada de acidentes, a morte jamais nos alcançaria.
Desta vez, as coisas estão diferentes, Cara, sua irmã Alice, seu irmão postiço Sam e sua melhor amiga Bea irão atrás do mistério por trás do repentino desaparecimento de Elsie, uma antiga amiga de Cara que simplesmente sumiu. Ao longa desta busca, Cara se questionará sobre a real origem da temporada, do porquê Sam também passou a ficar vulnerável e do porquê de Alice, depois de tantos anos, continua não acreditando na existência da temporada. Ao longo de muitas descobertas, Cara percebe que há muito por trás dos acidentes que rondam sua família, que há segredos que poderão desvendar não só a origem de tudo, mas segredos que revelarão também uma dolorosa verdade.
Temporada de Acidentes definitivamente não segue um caminho tradicional. O livro engana o leitor pelo seu teor, que varia entre o suspense e um “quê” sobrenatural a um drama familiar bastante sombrio e intenso. A trama é muito mais do que aparenta e dependerá de cada leitor, da sua percepção e sensibilidade ao longo da leitura de se envolver por todas as nuances que Moïra Fowley-Doyle permeia sua obra.
A fantasia que existe no enredo colabora e traz a dosagem certa de emotividade que a história de Cara e de sua família necessita para que pudesse ser contada. Aqui iremos abordar temas reais do cotidiano familiar, fatos chocantes que às vezes estão muito mais próximos do que imaginamos. Paralelamente a isso, a narrativa, ligada a um dos cenários da trama, submete ao leitor uma sensação de perigo constante em relação aos personagens. Às vezes, em meio a suas irresponsabilidades e inconsequências, nos vemos ao longo da leitura, zelando pela saúde e integridade dos personagens, mesmo quando não exista motivo para isso de fato.
Um dos pontos positivos que mais me encantou ao longo da leitura foi o fato de fazer parte da personalidade da personagem principal, a habilidade de criar representações em forma de fantasia para seus familiares e pessoas próximas. Um exemplo disso é a caracterização de um lobo sedento para o namorado abusivo de Alice, o homem de lata para o padrasto ou a sua própria de fada. Por este e por outros pequenos detalhes que Moïra me encantou por cada página que li.
Apesar de breve, Temporada de Acidentes é um livro inspirador, que não inova pelos pontos abordados, mas sim pela maneira que tudo é trabalhado. É um livro que contará a história de uma família que busca enfim, sua catarse. É um livro delicado, melancólico, com um tom de conto de fadas, poético e com uma pitadinha de representatividade. A mensagem de união, confiança, amizade e amor acima de tudo dentro do contexto familiar é bastante clara, basta você se entregar e aproveitar cada palavra desta leitura.