Dumplin’ é o apelido que Willowdean ganhou da mãe e que por sinal ela odeia. Não é para menos. Esse apelido faz referência a uma espécie de bolinho frito e quem é que gosta de ser associado a uma comida gordurosa, principalmente, por causa do seu peso? Por mais que a intenção da mãe dela não seja ofender de verdade, eu prefiro chamar a personagem pelo seu nome ou por Will, porque sei que ela prefere assim.
Will está no ensino médio e é uma garota gorda que lutou por toda sua infância contra a balança. Ela tinha tudo para crescer completamente insegura devido as tentativas de sua mãe, ex-miss da pequena cidade onde moram, em mudar o seu padrão. Até alguns meses atrás, a grande referência de Will em sua vida era sua tia Lucy. Ela também era gorda e incentivou muito a menina a não deixar de fazer o que queria por causa do seu peso ou do que as pessoas achariam, ou seja, Will se tornou uma menina que convive bem com o seu corpo.Os problemas começam quando ela passa a trabalhar em uma lanchonete nas férias de verão. É entre a cozinha e o atendimento no caixa que Will precisa lidar com um colega de trabalho que logo vira o seu crush secreto. Bo estuda em um colégio particular e joga basquete e Will não esperava que ele pudesse corresponder ao seu interesse que estava muito longe de ser só amizade. De certa forma isso a assustou e Lucy não estava mais por perto para dar conselhos a Willowdean.
Mas essa sou eu. Gorda. Não é nenhum palavrão. Não é nenhum insulto. Pelo menos, não quando eu digo. Por isso, sempre me pergunto: por que não chutar logo de uma vez para longe essa pedra do caminho?
Ela poderia recorrer a Ellen, sua melhor amiga, uma beldade tipicamente americana, mas as duas parecem estar em fases diferentes da vida. E, é no meio de tudo isso que Will começa a duvidar de si mesma e decide encarar o problema da forma mais inusitada possível. Ela se inscreve no Concurso Miss Jovem Flor do Texas! Will só não esperava que sua decisão inusitada fizesse com que mais três colegas do colégio, completamente fora dos padrões, resolvessem entrar nessa junto com ela.
O grande destaque do livro é o fato dele trazer mais do que a representatividade de uma personagem gorda como protagonista da história. Will representa uma personagem adolescente normal. Muitas vezes vemos as personagens gordas de forma muito estereotipada ou que precisam sofrer grandes transformações para serem aceitas. A Will não busca por aceitação, ela apenas quer provar que ela pode fazer o que qualquer outra menina dentro dos “padrões” faz, inclusive, participar de um concurso de beleza.
A relação de mãe e filha na história é muito conflituosa. Julie Murphy, autora do livro, retrata bem a dificuldade de comunicação entre as duas e as situações de desconforto. Apesar de tudo é possível ver que a mãe de Will, mesmo sem saber como, faz o que pode pela filha, normalmente através de pequenos gestos. Infelizmente, muitos outros “pequenos gestos” ofendem muito a Will que esperava outra atitude da mãe.
Obviamente eu não conheço a história inteira, mas as boas amizades são duradouras. Elas têm que sobreviver aos vãos, às fendas e às dificuldades da adolescência.
As personagens secundárias são incríveis! Amanda, Hannah e Millie são bem diferentes umas das outras, não apenas esteticamente, mas também pela personalidade. Nenhuma delas está dentro do padrão e cada uma traz uma lição tanto para Will quanto para o leitor. A mensagem final da Julie Murphy é aos jovens gordos, magros, altos, baixos, e todos que ficam entre um extremo e o outro: ainda bem que não há gente exatamente igual. O mundo seria extremamente tedioso.
Também acho importante destacar os personagens masculinos da história. Eu tive muita dificuldade em gostar totalmente do Bo ou do Mitch. A maior parte do tempo, eu achei eles meio sem sal. Pensei bastante sobre isso e conclui que não estamos acostumadas quando o boy da história é bonzinho. E também percebi que por mais que os relacionamentos da Will sejam um ponto da história, o foco são suas amizades com as meninas e como juntas elas se tornam mais forte. Talvez por isso, Julie não tenha desenvolvido tanto os personagens masculinos, para não tirar o foco das meninas – essas são apenas suposições minhas.
Com certeza esse é mais um YA que eu indico para qualquer idade. O livro traz as principais questões que envolve a adolescência (namoros, amizades, sexo, primeiro beijo), mas também traz lições lindas sobre sororidade e empatia. Não é à toa que epígrafe de Dumplin’ é uma frase da cantora country
Dolly Parton: “Descubra quem você é e faça isso de propósito”. E não é só na época do colégio que podemos e precisamos descobrir quem nós somos de verdade.
- Dumplin’
- Autor: Julie Murphy
- Tradução: Heloísa Leal
- Ano: 2017
- Editora: Valentina
- Páginas: 336
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