É possível perceber que seu colega de classe poderá virar um serial killer no futuro? Meu Amigo Dahmer é a primeira graphic novel lançada pela Darkside e nela, o quadrinista John Backderf, sob o pseudônimo Derf Backderf, relata o período que estudou ao lado de Jeffrey Dahmer, quem anos depois acabou sendo descoberto como um dos seriais killers mais terríveis dos Estados Unidos.
Para construir esta história, o autor precisou de muito mais do que sua própria vivência com Dahmer, mas também consultou colegas de classe, arquivos do FBI e da mídia, professores e antigos diários mantidos por ele e por sua família. Além disso, entrevistas feitas com Dahmer após ter sido preso também foram utilizadas para ajudar na veracidade e cronologia dos fatos. Em um breve prefácio, o autor conta como foi receber a notícia que seu antigo colega de classe havia se tornado um serial killer, a ideia de criar o quadrinho e como uma história que a princípio deveria ter apenas 24 páginas acabou ganhando as proporções que tomou até conquistar um renomado prêmio do gênero em 2014.
Tive amizades normais no colégio […] e não tive amizades muito próximas depois da escola. – Jeff Dahmer
Jeff foi notado pela primeira vez quando o Fã Clube Dahmer fora fundado por John e outros colegas, a intenção era incentiva-lo a replicar em público uma imitação bizarra que fazia do decorador que um dia fora a sua casa. Ainda na adolescência, desenvolvera o habito de dissecar animais mortos e mantinha um cemitério particular com as carcaças. Para tentar esquecer todos os pensamentos ruins que o atormentavam, logo Dahmer começou a ingerir álcool, virando alcoólatra com apenas 15 anos de idade. Estes e outros hábitos estranhos eram apenas os primeiros sinais de um adolescente perturbado.
Acredito que seja esta a melhor discussão que a graphic levanta. É saber se há como identificar os traços de uma personalidade doentia logo no começo, antes que um potencial psicopata comece de fato a matar. Pelo que li, percebo que há uma resposta para esta questão e sem dúvidas é algo que o autor e todos os colegas de Dahmer precisarão lidar pelo resto de suas vidas, porém, quem eram eles para fazer algo? Apenas crianças vivendo suas vidas como deveriam viver.
Dividindo a graphic novel em cinco partes na narrativa, o autor irá contar desde a primeira vez que notou Dahmer até o dia em que um dos seus colegas vira Dahmer pela última vez, na época, o mesmo já tinha cometido o seu primeiro crime. Ao final da edição, John também apresenta ao leitor todas as fontes que utilizou para a cronologia da história, destacados por páginas para a localização do leitor. Como material extra, também pode-se encontrar cenas cortadas da edição finalizada, descritas e justificada do porquê da exclusão e também as cenas desenhadas em rascunho pelo quadrinista. Fotos reais onde aparecem juntos, rascunhos da planta da casa de Dahmer e até o anuário que fora removido da escola também estão anexados ao final desta edição. Sem dúvidas, temos registrado aqui um amplo dossiê do início da vida de um dos seriais killers mais hediondos da década de 90.
Naquela noite lá em Ohio, naquela noite impulsiva. Desde então, nada foi normal. Esse tipo de coisa permanece pela vida inteira. Depois do que aconteceu, pensei que ia tentar viver da forma mais normal possível, deixar aquilo enterrado. Mas coisas assim não ficam debaixo da terra. – Jeff Dahmer
Vale ressaltar que apesar de todos os fatos descritos nesta história serem verdadeiros, detalhes sobre a vida conjugal dos Dahmers levantou muitas controvérsias. Durante anos, Joyce e Lionel contaram versões diferentes dos fatos e sobre a relação individual que tinham com o filho e família. Lionel Dahmer, inclusive, lançou em 1994 o livro A Father’s Story’s, onde fala sobre o dia que descobriu – junto com o resto do mundo – que seu filho era um assassino. Neste relato Lionel falara profundamente sobre sua vivência e percepção que tinha do filho entre outros assuntos que recaíram pesadamente sobre sua cabeça. Um relato em particular acabou sendo julgado equivocado por Jeff logo após do lançamento do livro. Nele, Lionel descreve Dahmer como um adolescente tímido e introspectivo, porém, Dahmer sempre afirmou que sempre tivera uma boa relação com seus colegas, o que acabamos descobrindo ao longo desta leitura.
Sendo a primeira graphic novel lançada pela Darkside, preciso dizer que a mesma está impecável, mantendo a já conhecida qualidade de seus livros. Em capa dura, papel em ótima gramatura e uma folha de guarda lindíssima também, é um trabalho gráfico bem elaborado e acabado. Gostei muito do traço do autor, o modo como ele equilibra a narrativa apenas com o preto no branco, utilizando-se do recurso para trazer à tona uma atmosfera mais sombria nas partes mais tenebrosas da história. Sem dúvidas é uma edição para todos os fãs do selo Crime Scenes ter na estante.
- My Friend Dahmer
- Autor: Derf Backderf
- Tradução: Érico Assis
- Ano: 2017
- Editora: Darkside Books
- Páginas: 290
- Amazon