Mary Katherine Blackwood vive, juntamente de sua irmã Constance, seu tio Julian e seu adorável gato preto, na antiga e requintada mansão da família Blackwood. Os membros restantes, os responsáveis pela continuidade, segurança e fortuna da família, não mais respiram o mesmo ar ou dividem os mesmo cômodos da residência com aqueles que resistiram a noite sombria que levou consigo os pais das garotas e todos aqueles que dividiram a mesa com os Blackwood durante a fatídica noite.
A mansão da família localiza-se na clareira de um bosque fechado, cercado anos atrás, pelo pai das garotas, para impedir que todo e qualquer morador da cidade tivesse contato ou acesso a residência e aos membros da família.
Por motivos desconhecidos, uma crença de que a família não trouxe qualquer benefício para a cidade se espalhou com o tempo, estabelecendo um sentimento de ódio extremamente arraigado ao coração de cada morador da cidade, resultando em perseguição para com os membros restantes. Por ser a única capaz de sair dos limites da residência, ter forças para enfrentar o caminho de ida e volta até a cidade e ultrapassar as cercas que os protegem, é Merricat quem sofre com os olhares, comentários e enfrentamento que os moradores da cidade lhe impõem todas as vezes que precisa fazer compras ou emprestar um livro na biblioteca. É através desse contexto que iremos conhecer os segredos, desafios, demônios e trajetória dos membros restantes da família Blackwood.
Resolvi que escolheria três palavras fortes, palavras de proteção firme, e contando que essas palavras formidáveis nunca fossem ditas em voz altam nenhuma mudança ocorreria.
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Sempre Vivemos no Castelo, escrito por Shirley Jackson no ano de 1962, espalha um quebra cabeça diante dos olhos do leitor, este, por sua vez, descobre pouco a pouco que as peças principais se perderam com o tempo, extraviaram-se pelos cantos de uma residência afastada cujos segredos se unem a memórias de garotas que perderam seus pais e agora vivem sozinhas da mansão da família.
O livro nos apresenta o cotidiano e desafios vividos pelas irmãs Blackwood na residência da família, demonstrando ainda sua relação com os cômodos da casa, com seu tio e a forte amizade que nutrem uma pela outra. A história destaca o sentimento de ódio e desprezo que a comunidade sente por sua família, apresentando as perseguições, comentários e atitudes tomadas por cada membro da comunidade. São os sentimentos mais profundos da personagem principal, Mary Katherine, as sombras que rondam seu coração, e o passado que tenta nunca mais reviver, que direcionam o enredo para o mistério que desejamos descobrir.
A obra é construída de maneira a instigar a mente do leitor para que crie teorias e busque descobrir a verdade por trás de eventos passados e presentes. Porém, pontas soltas serão deixadas para trás ao longo da história, e o leitor terá que contentar-se, uma vez finalizada a leitura, em não receber todas as respostas que gostaria.
Da mesma forma, diversas situações não serão completamente, ou minimamente, mencionadas ao longo da narrativa, o que causa estranhamento por parte do leitor, além de tornar os eventos do clímax absurdos, ilógicos, primitivos e questionáveis. A falta de profundidade com relação aos segredos, passado e contexto que a autora se pôs a abordar destaca-se como o ponto fraco de toda a obra.
Quanto menos o leitor souber sobre a narrativa, sobre os detalhes que cercam essa história, melhor será a experiência de leitura, porém, a falta de respostas, profundidade e mesmo, a forma como determinados eventos se desenrolam, pode vir a incomodar e afetar a experiência de leitura.
Sempre Vivemos no Castelo é uma obra misteriosa que confunde o leitor e exige que este crie suas próprias teorias. O livro apresenta cenas maravilhosamente sombrias, eventos absurdos e revoltantes, destacando também, os eventos reais que fazem com que lendas sejam criadas.
Shirley Jackson pode ter conquistado diversos leitores, mas, aos olhos da leitora que vos fala, deixou a desejar em sua obra de maior popularidade. No fim, a verdade é que todos devemos tentar descobrir os segredos do castelo, vindo a tirar nossas próprias conclusões sobre as garotas que lá vivem.
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- We Have Always Lived in the Castle
- Autor: Shirley Jackson
- Tradução: Débora Landsberg
- Ano: 2017
- Editora: Suma
- Páginas: 200
- Amazon