Suicidas, o primeiro livro de Raphael Montes, ganhou neste ano pela Companhia das Letras uma nova edição desta história, que originalmente fora lançada pela Benvirá.
Em Suicidas, a delegada Diana Guimarães, tentará pela última vez, resolver um caso envolto a muito mistério. Há um ano, nove amigos reuniram-se em um porão para participar de uma Roleta Russa, um jogo de azar onde os participantes colocam uma bala no tambor de um revólver para atirarem em suas próprias cabeças, porém, não se sabe por qual motivo, a “brincadeira” resultou na morte de todos.
Com a descoberta de uma nova prova, Diana reúne as mães desses jovens para lhes apresentar um caderno, escrito por Alessandro de Carvalho, um dos envolvidos na Roleta Russa, com detalhes do jogo. Enquanto a delegada lê os acontecimentos ocorridos naquele mesmo porão, as mães, ao mesmo tempo que sofrem e choram com os relatos narrados por Diana, precisam achar respostas para os motivos que levaram seus filhos a cometerem suicídio.Raphael Montes se utiliza de três diferentes formas de narrativas e perspectivas para contar esta história. Primeiramente teremos os capítulos em que acompanharemos a delegada e as mães dos amigos lendo e comentando todas as anotações de Alessandro referente ao fatídico dia. Nestas partes, é possível se emocionar e criar empatia pelas famílias dos jovens, que, mais vez, são confrontadas com a realidade que seus filhos passaram. As reações dessas mães são muito genuínas, tenho certeza que, se lêssemos algo assim, o detalhamento da morte de um ente querido, demonstraríamos as mesmas reações.
É impressionante a atração humana pela desgraça alheia.
Em outros capítulos teremos contato com o caderno de Alessandro. Com ele somos transportando para o porão da casa no momento em que eles se reuniam para a Roleta Russa, há um ano. Sem dúvidas, essa narrativa é a mais intensa e perturbadora, em alguns momentos até chocante, pois não é nada fácil ver a crueldade dos acontecimentos, por vezes tive que parar um pouco a leitura e simplesmente respirar, me lembrar que eu estava lendo apenas um livro.
A terceira ferramenta que Raphael Montes utiliza para esta história é o diário de Alessandro, e através dele acompanhamos relatos específicos do dia a dia do jovem. Por este diário que conheceremos os personagens mais profundamente, além do modo como eles se conheceram e viraram amigos. Juntando esses relatos com os acontecimentos do porão, descobrimos o motivo que levou cada um a decisão de aceitar a Roleta Russa e o modo como esse assunto entrou em discussão.
Desta forma, com a vida desses jovens representados pelas memórias de Alessandro, antes do jogo, no dia e um ano depois, o leitor fica imerso a esta história sem direito a volta. A leitura é frenética e uma vez envolto a esta trama é impossível parar. Saber o que realmente ocorreu com estes jovens e tentar descobrir, o que está por trás dos planos de Alessandro e com um possível livro que ele havia começado a escrever, torna tudo mais assustador e conflitante por vários motivos.
A escrita do Raphael Montes é muito envolvente e forte, ele não tem pena do leitor e apresenta cenas fortes e chocantes com muita clareza e detalhes. Algo realmente muito impressionante para um autor que escreveu esta sua primeira história com apenas dezenove anos. O autor mantém presente um terror psicológico ao longo de todo o livro através da pressão que os personagens estão submetidos dentro daquela sala. As cenas de ação são extremamente descritivas, portanto, se você é mais sensível para este tipo de leitura mais agressiva, esteja avisado.
Todos os personagens são muito bem construídos e têm personalidades bem marcantes. Aqui todos eles se revelam inteiramente para o leitor, que compreende as mais ocultas características. Todos eles, aos poucos, se revelam sem máscaras, sem camadas, mostrando quem realmente são e do que são capazes. Alessandro se destaca por ser peça principal desde quebra-cabeças, porém Zack também ganha seu destaque na trama. Os dois amigos estão diretamente relacionados com praticamente todos os acontecimentos e reviravoltas do livro.
Suicidas é um livro extremamente bem elaborado, inteligente e audacioso. Raphael Montes mostra como a mente humana e suscetível a manipulação de uma forma muito bem elaborada e sem deixar temas importantes de fora. Sem escrúpulos ele vai abordar relações familiares, sexualidade, depressão, drogas e vários outros problemas que rondam os jovens universitários. No meio de tudo isso, ele também insere diversas pequenas críticas sobre pessoas que vivem apenas de aparências. Os direitos do livro já foram comprados para virar filme e a história também já foi adaptada para o teatro, sem dúvidas é um grande sucesso que ganhou neste ano, mais uma chance para que novos leitores o conhecessem.
- Suicidas
- Autor: Raphael Montes
- Ano: 2017
- Editora: Companhia das Letras
- Páginas: 432
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