Narrado em primeira pessoa pela perspectiva de Jorg, acompanhamos toda a jornada da criança em flashbacks, que desde ao fatídico dia da tragédia de sua família viu seu mundo mudar, até os dias atuais, quando um Jorg mais maduro e crescido relata ao leitor todas as provações e maldades que causou pelos últimos anos. Apesar da pouca idade, fator que pode causar um certo desconforto para alguns, Jorg é totalmente sem escrúpulos. O príncipe é violento, manipulador e em qualquer situação, não hesita. Talvez seja por estas características que o tornam um personagem tão contestável, dúbio e não confiável.
A fraqueza em mim queria falar sobre Will. “Você terá Gelleth. Eu lhe darei o Castelo Vermelho. Eu lhe darei a cabeça de Lorde Gelleth. Então você me entregará o pagão.” E você me chamará de filho.
Jorg utiliza de todos seus atributos, de sua inteligência, lábia, beleza, tudo. Vale qualquer coisa para passar por cima dos seus inimigos e matar é o menor dos seus delitos. Desde o início, o seu objetivo é claro, retomar seu direito como herdeiro e unificar os reinos para se tornar Imperador. E ele vai lutar por tudo isso, custe o que custar, marcando quem quer que seja que cruzar o seu caminho. Desta forma, tendo este personagem bem apresentado, podemos finalmente conhecer a trama de Prince of Thorns, o que se passa neste reino e quais os caminhos que Jorg tomará para enfim concluir seus planos.
A narrativa de Mark Lawrence é direta, existirão cenas pesadas nesta história, descritas de forma crua e impactante, um reflexo da personalidade visceral e cruel do protagonista. Se você é mais sensível para este tipo de história, onde conterá assassinatos, estupro e a inserção de diversos palavrões, talvez tenha que ir um pouco mais com calma, porém se você não se importa nem um pouco com este tipo de narração, seja bem-vindo ao purgatório de Jorg Ancrath.
Mas como posso ter gostado tanto de uma história assim? As respostas são várias e talvez só lendo este livro para conseguir entender exatamente o que quero dizer. Mas eu acho que uma dessas resposta seja justamente Jorg e a curiosidade do leitor em querer saber exatamente onde este menino insano nos levaria e quais seriam as consequências das suas atitudes. É difícil distinguir em que ponto Jorg percorre a linha da persistência ou a do capricho em relação a elas e acompanhar o desenrolar desta história o torna fascinante por isso. Por você esperar tudo, menos a pior das resoluções, o desfecho que sem dúvidas Jorg escolherá.
Este universo sombrio da fantasia cativa o leitor por apresentar ao leitor o início de uma saga cheia de sangue em uma só jornada. Prince of Thorns abre as portas para um leitor curioso, que busca encontrar nessas páginas toda a beleza de uma história trilhada em meio a muita intriga, jogo de poder e interesses. Será possível até encontrar um elemento fantástico nesta história, o que só contribui com o andamento do enredo. O universo de Lawrence é implacável em vários sentidos e sua narrativa viciante, faz com que a leitura flua numa velocidade alucinante.
Ao final de cada capitulo teremos pequenas anotações que o protagonista faz em relação cada um dos personagens secundários da história. São anotações breves, detalhes que ajudam o leitor a construir a percepção que Jorg tem das pessoas ao seu redor e o modo como ele as enxerga. Desde o primeiro capitulo já é possível juntar os pedaços de sua personalidade com estas pequenas insinuações.
O Império Destruído é um cenário que causa certas dúvidas ao leitor, porém, tendo Jorg como narrador, é difícil delimitar uma linha de tempo para esta história, porém, existem várias referências que nos fazem acreditar que aqui, apesar dos reinos e príncipes, embarcamos num contexto, não tão medieval assim. Porém, acredito que eu tenha mais detalhes deste universo abandonado pelos Construtores quando fizer a leitura dos outros livros da trilogia e até do seu spin-off, que tem como primeiro volume, A Guerra da Rainha Vermelha: Prince of Fools.
Por fim, Jorg pode ser intragável, mas a verdade é que ele será um personagem que te marcara muito ao longo de sua jornada como leitor. Mark Lawrence criou um personagem que se vê acima de tudo e todos. Sádico, sarcástico, ruim mesmo. Este é Jorg e é este o personagem que me fisgou desde a primeira página e que me vejo completamente apegada. Mesmo dentre esta enxurrada de defeitos é possível perceber e até compreender o motivo de suas reações. Entender sua intensões, real motivação e planos é chave para que Jorg não seja assim tão detestável. Agora me resta apenas estar preparada para saber onde ele irá me levar e o que conseguirá quando finalmente, descarregar toda a sua raiva do mundo. Será que tudo vai valer a pena?
Prince of Thorns é o primeiro volume da Trilogia Espinhos, lançados originalmente em 2013, as sequências são King of Thorns e Emperor of Thorns. No finalzinho de 2017, esta história ganhou uma edição de colecionador, Omnibus é um exemplar para deixar qualquer fã babando. O volume único traz os três livros, com um corte dourado e uma capa ainda mais incrível.
- Prince of Thorns
- Autor: Mark Lawrence
- Tradução: Antonio Tibau
- Ano: 2013
- Editora: Darkside Books
- Páginas: 364
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