Ano passado, exatamente nesta mesma época do ano, eu apresentava a vocês uma das minhas melhores leituras de 2016. Por ser de um gênero que costuma ficar de fora da minha zona de conforto, a surpresa de ter curtido tanto esta leitura veio acompanhada por um desejo de continuar conhecendo novas histórias dentro da ficção cientifica, histórias que me fizessem viajar por outras realidades e também quem sabe, conhecer um futuro distante.
Guerra do Velho foi uma leitura viciante, onde as páginas viravam sem eu perceber. É uma trama onde questionamentos cotidianos são levantados, que traz novas e velhas perspectivas sobre a questões humanas. Tudo isso feito de uma forma muito bem elaborada pelo autor John Scalzi, que criou um enredo onde questões de idade, sanidade e consciência trabalham juntas num enredo instigante e cheio de ação.
As Brigadas Fantasma é o segundo volume desta série e que não serve necessariamente como uma continuação do primeiro livro. Aqui acompanharemos novos personagens e teremos uma nova visão deste universo, porém, é importante dizer que se você já leu Guerra do Velho, você terá um entendimento melhor, mais rápido e mais amplo dos acontecimentos do livro. Como já li o primeiro, vai ser impossível eu não fazer um certo comparativo com as duas obras, mas prometo que tudo fara sentido.
Existe uma força especial dentro das Forças de Defesas Coloniais (FDC), uma tropa de elite criada a partir do DNA de humanos alistados que já morreram. Os super soldados são jovens, mais rápidos, mais fortes e também muito mais inteligentes. Eles são criados unicamente para defender a raça humana e são chamados de Brigadas Fantasmas. A tenente Jane Sagan nasceu com este objetivo e durante uma investigação, ela descobriu que a humanidade está correndo perigo, um plano ardiloso é montado para acabar com uma espécie inteira e três raças estão cooperando para isso, que não estão sozinhos, existe também um humano traidor.

Eles chamam vocês de Brigadas Fantasma, mas você é o único com um fantasma de verdade na cabeça.

Jared Dirac é um soldado peculiar, ele é o único híbrido sobre-humano capaz de fornecer respostas sobre os planos de Charles Boutin, conhecedor dos maiores segredos da FDC e dono do DNA de quem ele fora criado. Porém o transplante de memória pareceu falhar e por este motivo ele acabou no pelotão de Sagan. Lógico que estas lembranças começam a vir à tona e passa estar nas mãos de Jared o julgamento sobre as atitudes de Boutin e o que o levaram fazer isso, mas também e a sua própria consciência, tem algum espaço nisso tudo?
No livro anterior, já tínhamos uma pequena brecha sobre o que John Scalzi pretendia com as Brigadas Fantasma, mas eu não imaginava que ele somaria a isso uma trama tão política e interessante ao mesmo tempo. Questões sobre conflitos de identidade e éticas são amplamente discutidos, ao mesmo tempo em que nosso protagonista luta para descobrir o seu verdadeiro eu para não ser apenas assombrado unicamente pelas memorias de um traidor.
Se as Brigadas Fantasmas antes eram vistas como uma unidade ultrassecreta, neste livro acompanharemos a maneira que eles se comunicam, parte de seu treinamento, desenvolvimento e como trabalham juntos em missões tão difíceis. O foco está muito mais na espionagem do que em combates propriamente ditos. Por este motivo, esta história é muito mais focada no desenvolvimento dos personagens, de suas descobertas e de suas liberdades de escolhas, estas que eles nem mesmo sabem que possuem. Toda esta discussão é muito bem posicionada pelo o autor e é fácil criar empatia por estes seres mesmo quando nos identificamos mais com os dilemas dos personagens do primeiro livro.
É verdade que Jared não é tão carismático quanto John Perry, protagonista do primeiro livro, porém é preciso citar que as tramas têm objetivos diferentes. Enquanto Guerra do Velho é mais introdutório em relação aos real-natos, humanos que vieram da Terra e ganharam um novo corpo, Brigadas Fantasmas vai focar nesses humanos feitos artificialmente. Acompanhar estes personagens que estão se descobrindo, que estão tomando consciência da sua existência e de seus objetivos também é igualmente interessante.
John Scalzi continua com seu ritmo intenso, porém pesando menos a mão neste volume. Sua narrativa é cativante, bem-humorada e inteligente. O autor também se preocupa muito com o detalhamento de tudo que ele apresenta ao longo da narrativa, são explicações mais longas, mas que se farão necessárias para o entendimento dos fatos. Ele também aproveita para falar sobre a verdadeira natureza da humanidade e questiona o que faz desses personagens mais ou menos humanos, com discernimento próprio, consciência e liberdade para agir e pensar. Uma clara referência ao meu querido Frankenstein.
Comparado a Guerra do Velho, As Brigadas Fantasma tem um ritmo próprio, o que pode acabar decepcionando aqueles que criaram grandes expectativas. De qualquer maneira, o universo criado pelo autor continua incrível e esta é mais uma perspectiva que enriquece esta série. O enredo continua surpreendendo, trabalha mais profundamente a política no universo, debate valores e a corrupção, questões costumeiras de se encontrar numa boa e velha ficção cientifica.
O livro serve tranquilamente como uma porta de acesso para quem deseja, assim como eu, adentrar neste universo desconhecido. Às vezes, sair de nossas zonas de conforto pode nos surpreender e nos levar a mundos nunca antes visitados e isso pode ser também muito divertido. Aos fãs da série, teremos mais deste universo criado pelo autor em A Última Colônia, próximo livro da série e também onde John Perry retorna aos holofotes.

  • The Ghost Brigades - Old Man's War #2
  • Autor: John Scalzi
  • Tradução: Petê Rissatti
  • Ano: 2017
  • Editora: Aleph
  • Páginas: 376
  • Amazon

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