Anna Fox é uma psicóloga especializada em problemas infantis, recém separada, mora em uma cidade distante de onde a filha e o ex-marido vivem atualmente. Ela também deixou o trabalho de lado, já que depois de um acidente de carro é ela quem precisa da ajuda de especialistas. Ela sofre de Agorafobia, uma síndrome não difundida que faz a pessoa se sentir em pânico em ambientes abertos, o que a obriga a ficar trancada dentro de casa. Sem conseguir sair de casa, ela convive com poucas pessoas, tem um inquilino que aluga um cômodo na sua casa e faz de tudo para não encontra-lo, fala com sua família somente via Skype e tem alguns encontros com sua fisioterapeuta e com o seu psiquiatra.
O máximo de contato que ela tem com o mundo externo é olhar as casas da vizinhança através da câmera posicionada na janela de seu quarto, realmente bisbilhotando tudo, a ponto de saber o dia a dia das pessoas, inclusive vendo a vizinha que traía o marido ser quase pega no flagra com o amante em casa enquanto o traído vinha entrando pela porta da frente. Porém a chegada de uma nova família na casa do outro lado da rua, muda completamente sua vida. Com integrantes muitos estranhos que começam a ir visita-la e tentam se aproximar, até que acontece algo que ela vê claramente, mas ninguém acredita que possa ser real.
Não é paranoia se está realmente acontecendo.
A Mulher Na Janela é narrado pela personagem principal, a todo momento você sabe o que está se passando pela cabeça conturbada dela, o leitor vê Fox completamente transtornada, sua luta para tentar sair de casa, seu excesso com vinhos e remédios, sua batalha para tentar estar mais próxima da família.
O livro traz muitas reflexões psicológicas para pessoas que sofrem de diversos tipos de doenças. Ele não chega a propor uma cura, principalmente por essa cura depender de cada pessoa e na verdade jamais existir por completo, mas demonstra como é a vida delas e principalmente que existem diversos problemas diferentes e que todas as pessoas sofrem de algo, seja essa doença conhecida ou rara, a cabeça humana será sempre imprevisível e muitas vezes incompreensível também.
A obra é muito bem escrita, os pensamentos de Anna são belissimamente descritos, nada fica sem ponta, nada fica solto durante o livro. Por ser escrito em primeira pessoa, narrado por uma personagem que é completamente sozinha, o leitor se sente como a única válvula de escape dessa mulher, um meio para que ela desabafe com alguém aquilo que sente, mesmo que na verdade esteja falando consigo mesma. Por temer não ter forças para falar aquela história que vive para outra pessoa, acaba despejando suas lamurias para nós leitores.
A Mulher Na Janela é muito bem organizado, os capítulos são separados por dias, como se fosse o diário mental da Dra. Fox, os subcapítulos são bem colocados também, não cortam nenhum momento importante, apenas ditam as divisões de momentos durante aquele dia da personagem. Quanto a narrativa, percebi que muitos detalhes, propostos pelo autor A. J. Finn, que aparecem no decorrer do livro servem para a solução do seu final, todas informações passadas durante a obra são respeitadas no momento da conclusão, o que não acontece em alguns casos e até passam desapercebidos ao leitor, já que são elementos do início da história e acabam não respeitando os momentos finais.
O final é épico! Eu terminei de ler o livro e simplesmente não conseguia dormir, tentando digerir o que acabara de ler, vendo o quão trabalhado foi esta história, percebendo a qualidade do que fora escrito e o quanto aquilo tinha me impactado. O livro não é surpreendente, eu imaginava já depois de um terço do livro todas as viradas que ele apresenta, tanto em relação a Dra. Fox, quanto ao mistério que cercava todo o problema, porém a maneira como as coisas vão sendo reveladas é impressionante, é como se já tivesse lhe contado uma cena importante de um filme e mesmo assim, quando você a assiste consegue se assustar ou se chocar com o que vê.
A qualidade da escrita, da escolha das palavras, do desenvolvimento do livro é realmente uma arte conseguida com maestria, impactante, assustadora.Um detalhe interessante que encontrei no livro, é que Anna é apaixonada por filmes antigos, na sua maioria de suspense, então durante o livro existem muitíssimas citações de personagens e indicações de clássicos que o leitor que gosta de cinema se apaixonará sem dúvida nenhuma. Para quem ainda não tenha visto, há mais de uma dezena de filmes citados por Anna, fica aquela curiosidade de ir atrás deles e saber se gostaria tanto das indicações quanto a personagem. Mais uma vez o espaço do leitor parecer próximo da personagem fica evidente.
Há algum tempo fiz resenhas aqui no blog falando sobre livros que aterrorizam utilizando o psicológico dos personagens, mexendo com problemas reais, muito mais possíveis nas vidas das pessoas. Ficções assim, com certeza, mexem muito mais com nós leitores. A Mulher Na Janela é mais um livro desse estilo, mexe muito com nossa cabeça, faz a gente entrar em pânico junto com a personagem e praticamente viver na nossa pele os problemas pelos quais ela passa. E vocês? Já leram thrillers que mexem com o nosso psicológico? Gostam desse estilo de literatura, que mesmo sem monstros consegue aterrorizar qualquer leitor?
- The Woman In The Window
- Autor: A. J. Finn
- Tradução: Marcelo Mendes
- Ano: 2018
- Editora: Arqueiro
- Páginas: 352
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