Devon Ravenel está no auge da sua vida, sua única obrigação é se divertir com o irmão, deitar com tantas mulheres quanto conseguir e beber até cair ao final da noite. A última coisa que quer é se responsabilizar pelas obrigações do finado primo, um homem detestável que nunca o agradou. Seus planos são claros, vender a propriedade, se livrar das dívidas deixadas no testamento e voltar à vida confortável de libertinagem. Mas ele não contava com a presença hostil da bela viúva deixada pelo primo. A jovem mulher o instiga e o afasta na mesma proporção e a vivência diária ao lado dessa explosão de hormônios o deixará cada vez mais indeciso.
Conheço muitos fatos científicos sobre o coração humano, e um deles é que é muito mais fácil fazer um coração parar de bater em definitivo do que evitar amar a pessoa errada.
Kathleen sabe que Devon é o exato tipo de homem que destrói a reputação das jovens e corações femininos por onde passa, ela sabe que deveria manter-se afastada, mas quanto mais luta para ser indiferente mais aqueles lindos olhos a atraem. A arrogância dele faz surgir nela emoções nunca antes sentidas e manter o período de luto parecer ficar mais difícil a cada dia que passa ao seu lado. Devon não consegue entender como o primo conseguiu encontrar uma mulher tão bela e sensual quanto Kathleen, ele não consegue parar de imaginar o corpo ardente que se esconde sob aquelas pesadas roupas pretas e quanto mais ela o repele, mais ele a quer, como nunca quis nenhuma outra mulher na vida. Ambos sabem que não deveriam se envolver, mas o coração é incontrolável, ainda mais quando você nem lembrava que tinha um.
Os romances de época costumam ter um apelo emotivo único, já que desenvolvem em nós aquele desejo incontrolável de usar vestidos pomposos, dançar em bailes grandiosos e ser cortejadas por condes tão sensuais quanto controladores. Nessa história em específico, o enredo foge do clichê – mocinha virgem procura marido na temporada. Embora nossa protagonista seja sim uma moça virgem, ela é uma mulher madura e viúva que só quer cumprir com seu período de luto em paz. Ficar aos beijos com o primo do falecido e odioso marido é algo imperdoável, mas que fica mais difícil resistir a cada dia que passa. Todo esse desejo virtuoso de se manter fiel à um homem que nunca amou é admirável no início da trama, e apesar de se tornar extremamente irritante em alguns momentos, deixou a história ainda mais charmosa e envolvente.
Se há um empecilho real que de certa forma impede o casal de ficar juntos em um primeiro momento, nessa história o temos muito bem construído. Longe daqueles exageros muito utilizados por autores da atualidade, onde os protagonistas não assumem seu relacionamento por mero drama adolescente, em Um Sedutor sem Coração você encontra uma história profunda e intensa sobre as marcas negativas do abandono. É perceptível o cuidado da autora ao dar vida a seus personagens, cada um deles traz uma carga dramática e emocional dignas de uma pessoa real e seria inconcebível não criar empatia ante a frieza de Kathleen. Seria mentira se eu dissesse que gostei dela desde o início, na verdade, até a considerava o único ponto negativo na trama bem desenvolvida por Lisa Kleypas, mas ao entender um pouco mais sobre seu passado e motivações, fica claro que ela é uma protagonista complexa.
Mesmo se você não me quiser. Mesmo se escolher não ficar comigo. Estou lhe dando todo o tempo que me resta. Eu lhe juro que deste momento em diante jamais tocarei em outra mulher ou darei meu coração a alguém que não você. Se eu tiver que esperar sessenta anos, nem um minuto será desperdiçado, porque terei passado todo esse período amando você.
O romance tem vários traços de Orgulho e Preconceito, e uma cena em particular fez meu coração tremer nas bases. Impossível não relacionar o momento, quando temos uma mulher sob uma chuva torrencial, lutando contra a lama pesada na barra do vestido e um homem orgulhoso demais para admitir preocupação, mas que não pensa duas vezes antes de se arriscar no mau tempo para resgatá-la… sabe quando você está lendo e segura a respiração por um breve momento sem perceber? Foi exatamente assim que me senti quando eles finalmente se encontram e braços poderoso erguem nossa mocinha do solo e a colocam na segurança de um abraço apertado. Eu amo como essa cena simples e tantas outras conseguiram me envolver.
Mas a semelhança com esse clássico de Jane Austen termina por aí, já que ao contrário do Sr. Darcy, Devon não tem classe alguma, pelo contrário, ele se torna mais e mais vulgar enquanto se apaixona, como se o amor o deixasse selvagem. Em contrapartida a esse seu lado mais voluptuoso, vemos o amadurecimento gradual do protagonista, enquanto abraça mais e mais responsabilidades para proteger todos aqueles que o ensinaram a amar. E aqui precisamos mencionar mais um ponto positivo da escrita da autora, toda a riqueza de detalhes com que descreveu os mais diversos personagens que deixaram a leitura ainda mais interessante. Mais do que uma simples história de amor, o que você encontra ao ler essa obra, é uma novela cheia de altos e baixos que o instiga do início ao fim. Você termina o último capítulo não querendo dizer adeus ao enredo e agradece silenciosamente quando lembra que esse título é o primeiro de uma série.
- Cold-Hearted Rake - The Ravenels
- Autor: Lisa Kleypas
- Tradução: Ana Rodrigues
- Ano: 2018
- Editora: Arqueiro
- Páginas: 320
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