É uma verdade universalmente conhecida que Orgulho e Preconceito é um dos romances mais icônicos do século XIX e Jane Austen conquistou isso sem nos presentear com um único beijo. Com pouco mais de 200 anos, com um enredo memorável, a história de Lizzie Bennet e Mr. Darcy inspiraram milhares de romances, centenas de adaptações e até novas abordagens dos temas que a autora trabalha nesta história. A obra contém grandes críticas sociais, ainda mais eficazes quando analisamos a época em que este livro foi escrito. Aqui também teremos muito da realidade vivida pela própria autora.
A vida pacata e simples da Família Bennet começa a mudar quando Mr. Bingley, acompanhado da irmã e melhor amigo, Mr. Darcy, decide passar uma temporada no campo em Meryton, em uma propriedade muito próxima a dos Bennet. Logo a presença de um dos cavalheiros mais jovem e rico da região é notada e a Senhora Bennet vê a oportunidade perfeita para aproximar Jane, sua filha mais velha, de Bingley, que logo se encanta pela jovem. Porém a boa receptividade não atinge também Mr. Darcy, que desconfia e dispensa todos os gracejos das pessoas do campo, por os considerar socialmente inferiores.
Sua postura não passa despercebida por Elizabeth, a segunda filha mais velha da família. Com uma primeira impressão ácida, Mr. Darcy fere o orgulho de Lizzie quando admite acha-la apenas “tolerável”. Muito inteligente e perspicaz como ninguém, ela logo decide revidar na mesma moeda. Devido à proximidade de Bingley e Jane, indiferente, Lizzie passa a impressionar Darcy com sua espiritualidade e pelos diálogos encantadores que ela protagoniza sempre que tem a oportunidade. É no protagonismo desse casal que acompanharemos as diversas dificuldades e barreiras que Lizzie e Darcy enfrentarão entre as idas e vindas que a vida lhes reservou.
Tentei lutar, mas em vão. Não consigo mais. Não posso reprimir meus sentimentos. Você tem de me permitir dizer com quanto ardor eu admiro e amo você.
É levantando discussões sobre diferenças sociais, sobre educação e sobre casamentos arranjados que visam apenas status e a moral, que Jane Austen criou uma das histórias mais admirável, por milhares de leitores por todo o mundo. Ainda muito atual, a autora equilibra aspectos inteiramente fortes, como o desprezo social e julgamentos antecipados que conduzem os personagens desta trama a rumos muito mais reveladores. Entre as diversas críticas, iremos acompanhar a autodescoberta desses personagens, a definição dos verdadeiros valores e também o que os levará para o caminho do amor, puro e verdadeiro.
A narrativa de Jane Austen é precisa, principalmente falando sobre os costumes, regras e formalidades da época, quando mulheres raramente eram ouvidas. Toda descrição de cenário, toda discussão e apontamentos, são questões que existiam e marcaram o início do século XIX na sociedade inglesa. Tudo aqui descrito fez parte dessa época que tinha como regra a hierarquia social, que separava arbitrariamente os ricos dos mais pobres.
Entre os diálogos ácidos e sem se deixar abalar pela superioridade social de Darcy, Elizabeth, utilizando-se de toda sua altivez, protagoniza cenas bem-humoradas, tornando a leitura mais leve. Aliás, vale destacar que são estas cenas capazes de nos convencer sobre o relacionamento dos dois personagens e desvendar um pouco mais sobre suas verdadeiras personalidades, que na maioria das vezes está mascarada, adivinhem só, pelo orgulho e pelo preconceito que os moldam.
Ambos os personagens principais apresentam uma postura regida por estes sentimentos. As características não são exclusivas de apenas um ou outro, pelo contrário. Apesar de cada um apresentar indícios em diferentes momentos do livro, nenhum se encontra livre do julgamento do leitor. Provavelmente, logo nas primeiras páginas você notará toda a arrogância de Darcy com cada palavra que ele direciona a Lizzie. Ela por sua vez, sabe ser bastante cabeça dura. São estas transformações e amadurecimento que passam a molda-los, que encanta e envolve o leitor ao ponto de admirá-los por tantos anos.
É incrível como demorei a conhecer Jane Austen e suas histórias, mas agora, depois de finalmente conhecer uma de suas obras de maior renome, me vejo encantada e viciada no que ela tinha a dizer. E que alegria saber que todas as obras se encontram atemporais, debatendo e trazendo à tona discussões que ainda refletem nos dias hoje, seja o preconceito, os prejulgamentos, a posição da mulher e até valores morais.
Mr. Darcy e Lizzie Bennet sempre serão meu casal preferido, que se mostram igualmente humanos, mas que encontraram um meio de amadurecerem a meio de tantas dificuldades. Todos os encontros e desencontros são importantes para o fortalecimento desses personagens, não somente em suas autodescobertas, mas também para a aproximação deles. Tenho certeza que desde o começo você irá admirar Lizzie, mas se lá no início você desprezava Darcy, sei que no final você irá vibrar com cada ação posta à prova por suas verdadeiras intenções.
O romance criado por Jane Austen, não precisou ser retratado com beijos ou cenas extremamente descritivas (até porque seria um verdadeiro alarde na época), para apaixonar o leitor. A autora retrata tão bem, descreve e envolve tanto com sua escrita que é possível sentir cada angustia, cada palavra e atitude interpretada da forma errada, até chegarmos enfim a todo desfecho e redenção desta história. Jane Austen com apenas seis romances publicados deixou um legado sem tamanho para o mundo, abordando crítica feminina e criando personagens tão críveis. Uma obra mais do que completa, que destaque as imprevisibilidades da vida e do amor.
Esta nova edição, criada com muito carinho pela Martin Claret, recebe um novo projeto gráfico, mais moderno, mas igualmente belo comparado as edições anteriores. As ilustrações de capa e de miolo são assinadas por Daniel Duarte e a mesma recebe uma capa dura com pontas arredondadas e um corte em rosa. É realmente um trabalho primoroso.
- Pride and Prejudice
- Autor: Jane Austen
- Tradução: Roberto Leal Ferreira
- Ano: 2018
- Editora: Martin Claret
- Páginas: 424
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