A Assombração da Casa da Colina, lançada originalmente em 1959, é considerada uma das melhores histórias de fantasmas do século XX. Uma inspiração para muitos autores renomados da atualidade, Shirley Jackson colecionou feitos com sua quinta obra, como exemplo, o primeiro parágrafo de A Assombração da Casa da Colina é considerado um dos melhores começos de história de todos os tempos (confira aqui).
Mas do que se trata a história?
Em The Haunting of Hill House, nome original da obra, acompanharemos um grupo de indivíduos que participarão de um estudo paranormal em uma mansão supostamente mal-assombrada. Escalados por Dr. Montague, Eleanor, uma jovem solitária, Theodora, uma sensitiva, e Luke, o herdeiro da mansão, partem para suas hospedagens em Hill House. Lá, o que começa como uma divertida aventura, acaba tomando proporções maiores quando atividades paranormais acabam transformando o inocente experimento em algo bastante perigoso.
O livro e os filmes
No livro a autora intercala em sua narrativa as manifestações de fenômenos sobrenaturais juntamente com a psicologia, abrindo assim uma margem bastante ampla para que os leitores interpretem o rumo da história de acordo com seus pontos de vista.
Existem mesmo fantasmas em Hill House? A casa possui influência sobre quem a habita? Na minha opinião, no filme de 1963, Desafio do Além, dirigido por Robert Wise e roteirizado por Nelson Gidding, assim como no livro, há várias possibilidades de escolha, pois tanto a autora quanto os roteiristas, optaram por não revelarem nada explicitamente. Por este motivo que, Desafio do Além é a adaptação mais fiel a obra. Hoje o filme recebeu o status de filme cult, como um dos melhores filmes de terror da história do cinema.
É compreensível que a história de Hill House tenha recebido a importância que recebeu e sobre o que faz dela um clássico. A grande sacada de Shirley Jackson foi trabalhar no leitor a sugestão dos acontecimentos, brincar com nossa imaginação e, principalmente, com nossos medos, sem necessariamente ter que mostrar nada em definitivo.
Por outro lado, o remake de 1999, A Casa Amaldiçoada, segue por outro caminho. Aqui o diretor Jan de Bont e os roteiristas David Self e Michael Tolkin, resolveram afirmar, de forma mais clara, a existência de fenômenos paranormais em sua trama, recorrendo até a efeitos especiais, assim como em pequenas mudanças no roteiro original. É um filme bastante sugestivo também, principalmente em relação a sanidade de Eleonor, a protagonista, mas que revela a sua essência assim que possível dentro do desenrolar da trama.
A série, segue o mesmo caminho?
Definitivamente não. A série original da Netflix, que estreou dia 12 de outubro, segue uma nova proposta e é levemente inspirada no livro. Desta vez não há um grupo de estudantes paranormais, mas sim uma família.
Olivia e Hugh Crain se mudam temporariamente para a antiga mansão Hill House. Tempo o suficiente para restaurarem a propriedade e a venderem por um preço mais alto. Junto com eles vão seus cinco filhos, Steven e Shirley (homenagem a autora), que são os mais velhos, Theodora, a filha do meio, e Luke e Eleanor, gêmeos e mais novos. Nesta casa, os irmãos enfrentam as mais diversas manifestações paranormais, até a noite em que uma grande tragédia acontece, algo que mudaria completamente o rumo de suas vidas, mesmo após tantos anos.
A série então se passa vinte anos após os fatídicos acontecimentos de Hill House, mas a narrativa vai e volta para que o leitor consiga imergir na vida desta família, nos seus laços e em como, as estranhas ocorrências em suas infâncias os moldaram e que agora os forçam a encararem tudo novamente.
As minhas impressões sobre A Maldição da Residência Hill, dirigido por Mike Flanagan, até então são as melhores. É prazeroso acompanhar a narrativa e perceber como os roteiristas se preocuparam com os mínimos detalhes, seja iniciando a série exatamente pelo mesmo primeiro parágrafo escrito pela autora, homenageando a própria em uma personagem ou amarrando cada ponta solta entre o passado e o presente. E sabem o medo? A série é efetiva neste aspecto. Algo já muito raro atualmente. Muitos diretores dentro do gênero do horror recorrem a artifícios clichês para causarem a reação esperada do público, mas aqui isso é diferente. A mesma ideia original sobre a interpretação dos fatos também é explorada aqui, porém, somados, é claro, aos detalhes sugeridos, que são jogados e captados sutilmente, para que no final tudo se encaixe e a história tome um rumo diferente daquele que imaginamos.
A Maldição da Residência Hill reinventa a fórmula que durante anos foi copiada (e ainda é) por novos autores e roteiristas. Adiciona novas ferramentas e surpreende o público da forma devida.
Você não precisa conhecer toda obra original que inspira novas histórias, mas você precisa entender, no mínimo, a importância que ela teve para que hoje em dia você perceba isso. De que tantas outras histórias, tão mais ou melhor exploradas, surgiram a partir dela. A Assombração da Casa da Colina serviu como percursora dentro de um gênero, a história criada pela rainha do terror conquistou seu espaço nas telas pouco anos depois do seu lançamento, e agora, também conquista um novo espaço dentro de uma plataforma de streaming.
Com a lançamento da série, percebo que A Assombração da Casa da Colina não envelheceu mal. É a prova de que acompanhar toda a extensão desta obra de Shirley Jackson foi inteiramente fascinante. Acompanhar a evolução desta ideia ao longo dos anos e o modo como seus personagens, criados há quase 60 anos, continuam desafiando seus fãs e aterrorizando as suas cabeças. É realmente muito impressionante, pois mesmo que meu primeiro contato a história do livro não tenha me convencido, agora, em sua evolução mais atual, conseguiu roubar os meus melhores sonhos.