Clara não consegue lembrar de nada que possa ajudá-la a sair desse lugar. Mesmo assim ela segue seu caminho e começa a enfrentar seus medos, percorrendo os caminhos que antes ela evitava. Por este trajeto, Clara vai tendo pequenos flashbacks, momentos que irão revelando a ela os segredos desse lugar. É assim que acompanhamos a jornada de Clara Carcosa em busca de respostas, de que lugar é este e quem ela é.
Apesar das ilustrações fofas assinadas por Juliana, esta é uma HQ de terror e indicada para maiores de 16 anos. Eu, como uma admiradora do gênero, fiquei bastante feliz em saber que a ilustradora não só não teve medo de trazer um tom mais sombrio para sua primeira HQ, como também explorou vertentes que realmente mexem com a cabeça do leitor, como a possibilidade de interpretarmos a história devido a narrativa, não muito confiável da personagem.
Quando não temos noção de tempo e espaço, pare que a sanidade também nos falta.
Logo no final da obra, Juliana nos apresenta uma série de referências que contribuíram para a criação de Clara Carcosa e seu roteio. Entre estas referências estão livros como o Rei de Amarelo, a série de TV True Detective (que também evidencia a história do Rei de Amarelo), o jogo Limbo, músicas e etc. Porém o que mais me chamou a atenção foi o fato de a autora usar parte do cenário e lenda do seu próprio estado. A Fortaleza de Santa Catarina, que faz parte da história de Clara, existe e é patrimônio histórico da Paraíba. E dentro deste forte existe uma lenda, que serve como base narrativa para a história. É lindo ver apreciar este tipo de cuidado que alguns artistas possuem, que além de nos apresentar a sua própria versão em uma releitura, também valoriza sua cultura.
Nos extras da obra é possível ver algumas fotos reais da fortaleza, assim como fotos e dados do quadro que dá nome a uma das lendas, A Lenda da Mulher de Branco. Neste mesmo trecho, Juliana mostra um pouco mais do processo criativo da HQ, assim como a galeria de artistas convidados que retrataram a personagem principal com seu próprio traço.
Uma das curiosidades que envolvem a obra, está no fato de que Juliana Fiorese utilizou-se do nome Carcosa para sua personagem em homenagem a terra natal do protagonista do conto Um Habitante de Carcosa de Ambrose Bierce, publicado em 1891. No conto, o homem, assim como Clara, encontra-se perdido em um estranho local e tentando voltar para casa. Eu não me canso de frisar tamanha pesquisa e cuidado que a ilustradora teve em cada detalhe ao criar sua HQ.
- Clara Carcosa
- Autor: Juliana Fiorese
- Ano: 2018
- Editora: Independente
- Páginas: 120
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