Uma paisagem paradisíaca, um resort na beira do mar, um casamento, muito amor envolvido e uma morte. Um jovem garoto universitário cai do penhasco durante um jantar romântico, mas ao invés de ter sangue somente no lugar da queda, existem várias marcas pelo chão, manchas de sangue inclusive no deck onde ele preparava o encontro. Como alguém pode sangrar tão longe de onde morreu?
Está mais do que claro, que o que vitimou Julian Crist não foi uma fatalidade, rapidamente os policiais de Santa Lucia, um pequeno país do Caribe, encontram a principal suspeita, Grace Sebold, namorada de Julian e possui alguns motivos para ser incriminada pelo crime. Esta é a introdução do livro, mostrando inclusive a cena do assassinato sem revelar quem está envolvido nela.
Se inicia então a parte dos dias atuais, mostrando a personagem principal, a cineasta Sidney Ryan. Ainda com uma carreira curta, Ryan conseguiu chegar até uma importante emissora de TV americana graças a um documentário feito para a internet, no melhor estilo “Making a Murderer”, onde conseguiu tirar do corredor da morte um homem que na verdade era inocente. Em seguida conseguiu emplacar mais um programa, no mesmo estilo, mas dessa vez na TV, e assim começou a receber milhares de cartas de assassinos que juravam inocência.
Chega em sua mãos a carta sobre o caso de Grace Sebold e logo ela percebe que possui várias inconsistências e diversos erros nas investigações, parece, nitidamente, que Ryan foi apenas o bode expiatório para livrar o lugar tão procurado por turistas de um possível rótulo e afetar os negócios nacionais.
Este é o enredo de Não Confie em Ninguém, o terceiro livro de Charlie Donlea. Ele segue a mesma estrutura das outras obras na formatação do seu livro, intercalando capítulos entre o passado e o presente, revelando aos poucos ao leitor a verdadeira história, enquanto simultaneamente vai criando a história do presente, narrando mais fatos que ainda estão por acontecer.
Mesmo se utilizando do mesmo estilo de narrativa e estrutura, Donlea consegue ser original, muda completamente seu roteiro, cria uma história bem diferente do que já foi vista e do tipo de trabalho que ele está acostumado a fazer, mas infelizmente as coisas positivas do livro param por ai.
O livro não me pegou como as demais obras do autor, Charlie tinha virado o meu escritor predileto dessa nova geração, substituindo Harlan Coben no pódio da minha cabeceira, mas me decepcionou muito com esse livro. A história é muito fantasiosa, a capacidade de alguém viver fazendo programas sobre pessoas inocentes que estão presas é linda, mas qual a probabilidade de ela estar sempre certa e conseguir sempre casos onde a injustiça possa ser provada? Nem o programa de assistência a esse tipo de casos nos Estados Unidos tem essa sorte.
Outro ponto que me desagradou muito foi a construção dos personagens coadjuvantes, que por muitas vezes, não são necessários por não contribuírem substancialmente para a trama. Um desses casos está a cargo do rival de Sidney na emissora de TV. O homem é machista, cruel e vomita frases preconceituosas, mas isso não faz nenhuma diferença para a trama em si, além de destacar este tipo de comportamento em nossa sociedade, ele apenas existe e completa algumas linhas.
A proposta do livro em si não me agradou muito, o final fica meio óbvio já que para acontecer algo de interessante na trama o Caso Sebold precisa de uma reviravolta e lá pelo meio do livro eu já tinha descoberto o final dele, que não foi nada surpreendente. Além disso, o autor deixa grandes hiatos na trama, não fecha todas histórias paralelas, como se preparasse o terreno para um segundo volume sobre a personagem principal, mas o final do livro também impede que isso aconteça, já que o rumo que o Donlea escolheu, fecha o ciclo da personagem, então as coisas ficarão apenas em aberto.
Gosto muito da escrita de Donlea, ele tem me atraído demais em seus livros, mas achei a construção de Não Confie em Ninguém muito prejudicial pra obra, arrisco em dizer que talvez a proposta do livro tenha sido errada já que até pelo título a gente consegue ter uma ideia do que vai acontecer na trama.
O que eu esperava de diferente? Bom, vamos lá, gostaria que a trama focasse mais sobre o assassinato de Julian Crist e que as investigações fossem mais detalhadas. Um ponto para a parte do documentário e da repercussão dele que foi bem abordada. Gostaria que todos personagens tivessem realmente alguma importância na trama e que, principalmente, que o autor não abrisse tantas subhistórias, mas como abriu, que pelo menos desse um desfecho para elas.
Mas toda esta minha chateação, vem do fato deste não ser meu primeiro contato, nem com o gênero, nem com o autor. Superficialmente falando, Não Confie em Ninguém tem muitas coisas boas. Se este, de fato, fosse meu primeiro contato com o autor provavelmente teria gostado mais, porém foi escrito pelo meu escritor favorito e eu esperava muito mais dele. De qualquer forma e apesar de tudo que falei, Sidney Ryan é ótima, é uma mulher decidida, cheia de gana em busca da verdade e muito forte, como tenho cobrado muito na literatura de hoje em dia. E a parte que envolve as novidades tecnológicas e a coerência dos fatos continua maravilhosa como nos demais livros de Donlea.
Não vou deixar de ler Charlie, estou ansioso pelo próximo livro dele e ele ainda é um autor que admiro muito, mas o próximo livro pode fazer ele descer alguns degraus na minha preferência e deixar de ser tão importante nas minhas leituras. E vocês, já leram algo de Charlie Donlea? Pelo que vi fui o único que leu e não gostou, então indico muito a leitura e quero saber a opinião de vocês sobre essa nova obra desse promissor escritor.
- The Girl Who Was Taken
- Autor: Charlie Donlea
- Tradução: Carlos Szlak
- Ano: 2018
- Editora: Faro Editorial
- Páginas: 352
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