Todo mundo conhece a franquia de jogos Assassin’s Creed, uma das mais premiadas franquias da nova era de vídeo games. O primeiro jogo, lançado em 2007, sequer tinha o subtítulo que agora é tão comum e ainda em 2018 deve ser lançado mais um, Assassin’s Creed: Odyssey. Mas você sabia que além do mercado de vídeo games, a franquia faz sucesso também no mundo literário?
Eu não sou muito fã de livros sobre jogos e confesso que por puro preconceito, sempre acreditei que as histórias ficariam muito presas ao que acontece no jogo, porém resolvi confrontar minhas ideias tolas e experimentar Assassin’s Creed: Heresia. Este é o nono livro referente ao jogo, mas um dos poucos com uma história realmente original, sem trazer para as páginas coisas já existentes no jogo.
O primeiro livro da série é Renascença e faz alusão ao jogo Assassin’s Creed II, a sequência é vasta, o segundo se chama Irmandade e pertence ao Assassin’s Creed Brotherhood. O oitavo livro, anterior ao Heresia, se chama Submundo e pertence ao universo de Assassin’s Creed Syndicate, porém já apresenta mais conteúdo inédito, mesmo que ainda quase metade do que está escrito também consta no jogo. Heresia chegou para modificar isso, com um conteúdo quase que cem por cento inédito, mas ainda assim, respeitando o universo criado para o vídeo game.
Um exemplo disso é o protagonista do livro sequer ser citado nos livros, sim, mais um personagem nesse universo maravilhoso. Em Heresia, você irá acompanhar a saga do templário Simon Hathaway experimentando e aprendendo a utilizar uma nova versão de Animus. O aparelho em questão é nada mais que uma realidade virtual que contém lembranças de vidas passadas. Utilizando ele, sendo descendente de templários, Simon consegue atingir lembranças de alguém muito próximo a ninguém mais ninguém menos, que Joana d’Arc.
E é em cima das lembranças de Gabriel Lexart que ele tentará mudar a ideia e dar informações importantes a área de pesquisa das industrias Abstergo, desenvolvedora do Animus. Simon, na pele de Lexart, irá ver de perto guerras incríveis e medievais e terá a chance de salvar a vida de uma das personagens mais importantes da história mundial.
A maneira como é utilizado o Animus gera uma enorme gama de consequências dentro do livro, e a forma como Simon aprende a utiliza-lo ajudam o livro a ser muito plausível. Mas como? Com a ajuda de outra personagem, que dita o ritmo como ele deve ingressar nas memórias, cuidando para que ele não vá muito a fundo logo no início de suas experiências e a forma como o personagem reage a cada uso e cada estimulo causado pela tecnologia em seu corpo e mente.
Tudo isso dá a ele um aspecto de realidade muito forte e você enquanto está lendo, tem a real dúvida de como aquela tecnologia poderá afetar quem está a usando e o mundo ao seu redor. Assim como em ótimos livros que tratam sobre a volta no tempo ou de viagem para o futuro, isso gera várias questões no leitor e todas são respondidas com cuidado e de maneira fluída durante o texto desta fantasia com ficção científica.
A descrição de cada cena é magnifica, a escritora faz questão de dizer todos os objetos que constam no local que ela está descrevendo, dando a real sensação de imersão ao leitor, o que no caso de um livro referente a um jogo de vídeo game é extremamente importante, já que o leitor quer se sentir ambientado ao jogo que tanto gosta. E falando mais ainda sobre o jogo, apesar de ser um livro completamente original, os mecanismos, a maneira como funciona os locais, personagens, heróis e vilões da trama e, principalmente, o ambiente criado no livro, fazem muito sentido para quem jogou o game, fazendo fãs se sentirem com um novo conteúdo, criado completamente dentro do que eles já são acostumados.
Em nenhum momento senti que Heresia estava se encaminhando para algo que jamais aconteceria em Assassin’s Creed, muito pelo contrário, quase tudo da trama, aconteceria no jogo, mesmo que estas cenas jamais cheguem às nossas telinhas. Um exemplo disso é a maneira como as mortes acontecem durante as batalhas, muitas vezes é exatamente como acontecem no jogo, com o mesmo tipo de arma, com as mesmas consequências no corpo de quem foi atingido. Achei que caiu perfeitamente bem na literatura sem deixar nada a desejar.
O que me deixou um pouco decepcionado com o livro foi o fato de ele dar mais ênfase na parte estratégica das batalhas do que em descrever os combates e lutas geradas em sua trama. Eu prefiro a parte violenta do que a parte pensante, mas o livro se detém bastante a informações de como as pessoas ficaram e qual foi o resultado de cada conflito, do que propriamente detalhar uma troca de socos ou tiros. Mas se formos comparar isso com o jogo em si, acredito que ele também seja mais sobre “como chegar ao próximo local” do que sobre ser o melhor assassino. A estratégia está muito mais presente no jogo e talvez seja isso que o faça ter tanto sucesso.
Não li os primeiros livros, esta foi minha primeira experiência com a franquia e parece que escolhi a dedo o livro para iniciar nesse estilo. A experiência foi magnifica e não senti nenhuma falta de ter lido os anteriores, acredito que tenha perdido uma ou outra informação para o início da obra, mas nada que fizesse com que seus acontecimentos perdessem o sentido para mim. É tudo facilmente compreensível e você não precisa comprar os outros oito livros para entende-lo bem. O final da obra também é bem fechada, mas deixa uma leve indicação do próximo volume.
Acabei ganhando muito com essa leitura. Agora irei ler mais um estilo literário, mais uma escritora fantástica e mais uma série de livros que parece ser maravilhosa. Heresia é o primeiro livro de Assassin’s Creed escrito por Christie Golden, que já escreveu obras no universo de Star Wars, Star Trek e até World of Warcraft, ou seja, ela sabe muito bem pegar as principais características de um jogo ou filme e adaptar elas com maestria para a literatura. O próximo livro da franquia já está nas nossas livrarias, se chama Assassin’s Creed: Origins – Juramento do Deserto, escrita por outro autor em um novo cenário.
E você, já leu adaptações baseadas em jogos? Quais as adaptações que vocês preferem? Assassin’s Creed não é apenas um jogo, é um livro, é HQ, é um mundo completo. Heresia é uma ótima pedida, para fãs do jogo ou apenas para aqueles que queiram ler sobre Joana d’Arc ou Templários.
- Assassin's Creed #9: Heresia
- Autor: Christie Golden
- Tradução: Giu Alonso
- Ano: 2018
- Editora: Galera Record
- Páginas: 308
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