A Cidade de Bronze é o primeiro livro lançado aqui no Brasil da autora S. A. Chakraborty, primeiro da Trilogia Daevabad publicada pela Editora Morro Branco.
Nahri faz de tudo para sobreviver e é por causa disso que acabou virando uma habilidosa golpista que atua nas ruas do Cairo. Para enganar os nobres da região, ela utiliza-se das mais variadas “truques”, como a leitura de mãos, alguns roubos e até alguns falsos rituais e pequenas curas. Falando nisso, Nahri nunca acreditou em magia de fato, mas nunca entendeu direito sua aptidão para a própria cura.
Em uma de suas encenações em uma cerimônia de exorcismo, Nahri acaba convocando um ser místico chamado Dara, um poderoso guerreiro djinn. É a partir desse acontecimento que a vida de Nahri muda drasticamente, ela acaba arrastada para um mundo em que ela acreditava existir apenas nas histórias que contava. Agora ela precisa fugir de um perigo que pareceu despertar junto ao inocente ritual que fizera, e para isso, Nahri e Dara terão que atravessar rios e desertos até chegar a magnifica e misteriosa Cidade de Bronze, que é não só um refúgio, mas também um lugar fortemente ligado a verdadeira origem de Nahri e sua família.
O universo desse A Cidade de Bronze é tão rico em detalhes e tão grandioso que chega a ser difícil escrever sobre esta leitura. É difícil colocar em dois parágrafos o enredo inicial deste livro, quando há muito mais atrelado por suas páginas, tanto mais dessa mitologia, desses seres, desses personagens e de todas as tribos que formam uma civilização que agora, se sente ameaça pela chegada inesperada de Nahri.
Está brincando com coisas que não entende, Nahri. Não são suas tradições. Vai acabar com a alma partida por um demônio se não tomar mais cuidado.
A primeira coisa que devo dizer é que esta é uma fantasia marcante, seja por seu enredo riquíssimo ou por seus personagens, igualmente bem construídos. Ao longo da leitura, teremos os capítulos separados por Nahri, nossa protagonista, e também por Alizayd, segundo príncipe de Daevabad. A perspectiva de Ali irá proporcionar ao leitor uma ótica interna dos conflitos políticos do reino governado por seu pai e que, consequentemente, se mostrará importante também para Nahri. Logo perceberemos que este regime é cheio de problemas, intrigas e por este motivo que Ali busca direitos mais igualitários para todo o povo, que sofre também pelos conflitos raciais que se apresentam na trama. Este é sem dúvidas um olhar mais político do enredo e isso serve para agregar de forma geral.
Além disso, a autora escolhe trabalhar diversas questões culturais, sendo uma delas um tabu visto que conhecemos tão pouco e superficialmente pela cultura apresentada no livro. Ela ganha pontos quando resolve explorar a representatividade, como a existência de personagens bissexuais e homossexuais na trama, que muito provavelmente estão ali para contribuir com este fato e não apenas para servirem como cota.
Nahri, por sua vez, é uma personagem curiosa. Já com seus vinte e poucos anos, ela é mais velha, o que já é um diferencial dentro das fantasias recentes. Então, ela não é aquele tipo de mocinha boba ou ingênua. Nahri sabe que para tudo há uma consequência, então ao longo da leitura, nós iremos sim, presenciar ela ponderando sobre suas atitudes e tendo resoluções sóbrias quanto a atitude dos personagens secundários. Eu realmente admiro a autora S. A. Chakraborty por trabalhar uma personagem que não precisa ser pega de surpresa sempre e que pode, na medida do possível, estar nas rédeas sobre seu destino.
A Cidade de Bronze é o tipo de leitura que vai entregar as mais diversas … ao longo da sua narrativa, ao mesmo tempo em que te proporciona cenas épicas de ação, combates entre criaturas grandiosas, duelos entre os melhores guerreiros de Daevastana, também nos reserva passagens mais monótonas. Talvez a preocupação da autora seja realmente integrar o leitor a este mundo, equilibrando os elementos mágicos, às críticas idealistas que envolvem a Cidade de Bronze, sobre o significado do poder neste contexto e suas consequências.
Se você ainda não percebeu, o cenário explorado é a do Oriente Médio e cultura árabe, então, preparem-se para descrições de paisagens lindíssimas, grandes construções, vestimentas, comida típica e até costumes, assim como é explorada a religião, as lendas também ganham espaço. Sem contar, é claro, da própria magia que vive dentre as páginas. Essa sem dúvida é uma cultura que muito desperta minha curiosidade e A Cidade de Bronze é um prato cheio para isso.
A edição é um verdadeiro tesouro, em capa dura, acabamento metalizado e uma tradução preocupada em proporcionar um glossário com todos os significados dos diversos nomes e seres que aparecerão ao da leitura. Então, aconselho que vocês não deixem de visitar as últimas páginas para tirar suas dúvidas sobre seres, línguas e terminologias. Mas podem ficar tranquilos, apesar de ser um pouco complicado, no início, de se acostumar a isso, ao final você já estará falando nas mais diversas línguas, assim como Nahri. Além disso, a edição proporciona um mapa sobre o universo de S. A. Chakraborty.
Apesar da complexibilidade desta trama parecer assustar num primeiro momento, eu tenho certeza que você se sentirá fisgado por cada pequeno detalhe, por cada descoberta e pela sociedade como um todo apresentada, que já sofreu diversas mudanças ao longo dos séculos. Tudo isso vamos descobrindo pouco a pouco ao lado de Nahri, uma figura que parece ser uma peça chave para este povo antigo, mas que possui tão poucas respostas.
Enfim, apostem em A Cidade de Bronze, principalmente se você já teve o prazer de conhecer livros como A Fúria e A Aurora e A Rebelde do Deserto, eu tenho certeza que você está pronto para dar mais este passo. Essa é uma leitura que deve evoluir com mais cuidado, devido a quantidade de informações que vamos absorvendo, mas que nos ganha pelo seu desenrolar, nada muito apressado, no ritmo certo para que a história evolua.
O segundo volume da série, chamado lá fora de The Kingdom of Copper, acabou de ser lançado e muito em breve deve chegar para nós. Espero voltar em breve para falar mais sobre a continuação da história de Nahri, Dara e Ali e para desbravar ainda mais os mistérios dos djinns e de toda Daevastana.
Detalhes da Edição em Vídeo
- City of Brass
- Autor: Shannon Chakraborty
- Tradução: Mariana Kohnert
- Ano: 2018
- Editora: Morro Branco
- Páginas: 608
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