Não é de hoje que Lady Gaga se aventura como atriz, além dos seus clipes e performances. Em seu papel na série televisiva American Horror Story, a cantora conquistou o Globo de Ouro como Melhor Atriz, porém, sem dúvidas, seu grande passo dentro das telonas está em Nasce Uma Estrela, no qual atua ao lado de Bradley Cooper, também diretor do longa. Depois de inúmeros elogios da crítica, hoje tento compartilhar com vocês os motivos que levaram Gaga a nomeação ao Oscar de Melhor Atriz, além de tantos outros prêmios que vem conquistando.
Jackson Maine (Bradley Cooper) é um cantor country no auge de sua carreira, mas o vício em álcool e drogas parece puxa-lo para baixo. Não entendemos muito bem a relação dele com a bebida, mas conforme o filme se desenrola, iremos captar todos os pequenos fragmentos da história de Jack que fizeram ele levar vida tão destrutiva. Uma noite após um show, Jackson vai atrás de mais uma dose quando acaba parando num bar de Drag Queens. É nesse bar que ele conhece Ally (Lady Gaga), uma cantora nata, porém muito longe de uma oportunidade nos holofotes. O encanto de Jack por Ally é imediato e ele sabe que precisa compartilhar esta voz com o mundo. Ele consegue, mas a relação dos dois começa a enfrentar seus primeiros problemas devido aos tantos altos e baixos de Jackson e seu vício.
Nasce Uma Estrela é um filme lindo, mas ao mesmo tempo dolorido demais. É uma história que trabalha sim, com aquele tipo de amor imediato, mas sem juras rasas, apenas a relação de um casal com a música, a forma que ela os moldou e continua os estimulando. Fala sobre a relação de dois personagens que dominam grande parte do filme representando a busca da verdade contida em nossa essência.
Se o Oscar irá brilhar para Lady Gaga, isso é uma dúvida que levaremos até próximo domingo. Ainda acho que a atriz tem um longo caminho para percorrer, mas é notável que tudo que enxergamos em sua interpretação é entrega. O que pode ser um deslize para alguns, para mim é como se estivéssemos assistindo a história da própria cantora, um pedacinho desconhecido do começo da sua carreira. Acho que esta conexão feita entre a personagem e a atriz foi essencial para que eu me envolvesse ainda mais com a interpretação de Lady Gaga, que cantou, de verdade, em todas as cenas em que contracenou nos palcos.
Em relação a interpretação de Bradley Cooper, demorei para compreender Jackson, mas quando acontece é como um desabrochar. Pensar em estar na pele de Jackson, ao lado de todos seus demônios é assustador e a empatia chega como velha mãe. Bradey entrega para o público a sua mensagem através das entrelinhas, nas palavras jogadas que seu personagem parece nunca ter coragem de dizer, e nem precisaria.
O pai de Ally, interpretado por Andrew Dice Clay, que se prova não só um grande apoiador da filha, mas também um grande amigo é digno de menção. É um pai mesmo! Porém, entre os personagens secundários é Bobby (Sam Elliott), irmão de Jackson, que rouba a cena (falando da forma mais clichê possível). A atuação de Sam Elliot é tocante, mesmo com tão pouco tempo de tela. Todos seus diálogos com Jackson são intensos, cheios de significados ocultos e que não precisam estar ali explícitos para que entendamos todo o sofrimento que existe ali, para os dois lados. É de aplaudir de pé.
A luta de Jackson contra as drogas e o alcoolismo é passada com muita veracidade. Acompanha-lo dia após dia, ruindo e perceber a forma como tudo o afeta e ameaça as coisas que ele mais ama, como a música e Ally, assombra o público, ao ponto que nos preocupemos com cada atitude. Aliás, é Ally o fio condutor de Jack com a realidade, o estimulo e a razão de Jackson de continuar. Porém, mesmo extremamente apaixonados, uma relação pode ser difícil. Por isso que essa história de amor, apesar de puramente bela, também é triste e arrebatadora. De quem é culpa? Qual a solução? Fazemos estas perguntas durante todo o filme, faço até agora, enquanto escrevo.
Nasce Uma Estrela é um remake que chega aos cinemas pela quarta vez. O longa é produzido e dirigido pelo próprio Bradley, um feito esplendido visto a sua interpretação, que além de tudo canta (e muito bem) ao lado de Gaga. Quanto a narrativa, é possível notar alguns cortes que poderiam sofrer uma transição mais suave, mas visto que este é seu filme de estreia na posição, passa completamento isento. A direção de Bradley entrega o suficiente para que o público se envolva com a trama e com seus personagens cheios de falhas, mas também não perde a oportunidade de criticar a indústria hollywoodiana. Lady Gaga assina a trilha sonora e compôs todas as músicas que aparecem no filme. As canções são fortes, marcantes e se correlacionam com a evolução do filme. Shallow, música que canta ao lado de Bradley, já faturou O Globo de Ouro e o Critic’s Choice Movie Award como Melhor Canção.
Sempre quando leio um livro ou assisto a um filme que realmente me pega, que me emociona, eu apresento uma dificuldade tremenda de externar meus sentimentos em relação a obra. Já fui melhor nisso antigamente, mas acho que cada vez que somo mais um ano, a tarefa fica praticamente impossível. Mas eu tento, juro. Queria dizer apenas com todas as palavras e cada motivo que fez com que eu derramasse inúmeras lágrimas, mas não consigo. Digo apenas que preparem-se para algo que despertará os mais diversos sentimentos, inclusive raiva e incredulidade.
Aqui temos uma história simples, sem grandes críticas. Mas que com certeza recebe o mérito por sua existência e pela dedicação dos responsáveis por darem vida a esta história. Mesmo diante de suas previsibilidades, o que importa é que o filme conversa com o público, com suas cores, com suas interpretações e com a forma em que a música contribui e enlaça tudo como a cereja do bolo. Tenho certeza que depois que você assistir ao filme, Shallow nunca mais será apenas uma música bonita, ela irá rasgar seu coração.
- A Star is Born
- Lançamento: 2018
- Com: Lady Gaga, Bradley Cooper, Sam Elliott
- Gênero: Drama, Romance
- Direção: Bradley Cooper