Sheridan nem sempre foi a moça tranquila que transita pela sociedade vista como uma professora exemplar e até selecionada como ótima opção para ser acompanhante de uma de suas alunas na viagem para que encontre seu noivo. Uma romântica, que sonha em encontrar o homem perfeito, que irá amá-la exatamente como ela é, recitará poesias, e quem sabe viver o sonho de uma família feliz. Entretanto, seus planos são sempre postos de lado, pois ela precisa trabalhar para se sustentar, ao contrário de suas alunas, não é uma nobre com um dote. Apesar da alta confiança e responsabilidade depositada sobre ela, algo que jamais deveria acontecer, acontece, e sua pupila foge com um estranho que conheceu a pouco em um navio. O desespero é evidente, não há como amenizar o tamanho do problema cabendo a ela enfrentar o noivo abandonado, dar a ele a triste notícia e encarar as consequências.
(…) e Sheridan decidiu, como sempre acabava fazendo, que a vida era maravilhosamente excitante e que não importava como as pessoas eram por fora: por dentro, são todas iguais. Todas gostam de rir, de conversar, de sonhar… e de fingir que são sempre corajosas, que jamais se deixam abater pelo sofrimento e que a tristeza não passa de uma indisposição momentânea, que logo vai embora. E, na maioria das vezes, vai mesmo.
Não muito distante dali, Stephen encontra-se em um dilema. Está absorto em sua “culpa”, ainda que ter participado da morte do Lorde Burlenton tenha sido um acidente, pesa sobre seus ombros a responsabilidade por aqueles que dependiam do mesmo, como por exemplo, seus criados e por consequência a noiva americana que está a caminho para seu casamento. A situação não poderia ser pior. Como poderá informar a uma jovem apaixonada que seu noivo está morto! Como um homem sensato e prático que é, Stephen não encontra outra maneira, a não ser encarar a jovem assustada no píer e despejar a verdade sobre ela sem nenhuma cerimônia. O impacto é tanto que antes que possa se desculpar por sua insensibilidade, o inimaginável já aconteceu, a jovem é acertada por um caixa e desmaia bem diante de seus pés.
O que mais amo sobre a escrita da Judith, é que ao pegar um de seus livros eu jamais sei com o que de fato irei me deparar e por quais caminhos ela irá me levar. A única coisa que posso presumir é que será uma viagem incrível, recheada de muitas emoções. E é exatamente isso que temos em Até Você Chegar.
Sheridan não é como suas alunas, ela não faz parte da sociedade, muito pelo contrário, foi criada de maneira leve, ao ar livre, apenas por seu pai, sempre viajando de cidade em cidade, sobrevivendo com o que vendiam ou ganhavam com os jogos, mas cheia de amor. Até que se torna uma adolescente e a necessidade, faz com que seja deixada na casa de uma tia, que é professora, e que a ensina o ofício. Ali ela aprende a domar seu espirito selvagem, a reprimir suas vontades mais insanas e refinar seus modos. Um diamante que é lapidado diariamente até se tornar um exemplo. Apesar de não querer, acaba por aceitar viajar com sua aluna, Charise que está noiva e precisa de uma acompanhante para cruzar o oceano. Ela só não contava com a rebeldia da jovem, que resultou em sua fuga e uma situação complicada sobre seus ombros, que antes mesmo de poder ser esclarecida, complicou ainda mais, ela sofre um acidente e fica sem memória.
— Solidão nada tem a ver com ficar só, seja para crianças ou adultos.
Sem saber quem é, de onde veio, e para onde está indo. Sheridan acorda na casa de Stephen e devido a uma série de mal-entendidos, acreditando que ele seja seu noivo. A confusão está armada. Stephen realmente acredita que tudo isso terá um prazo de validade, logo sua família irá aparecer e juntos poderão desenrolar esse embrolho sem lhe causar mais dano físico e mental. Mas, com o passar dos dias e as circunstâncias que parecem estar cada vez mais contra ele, o que parecia perto de acabar, só se prolonga mais e mais.
Que leitura maravilhosa. É impossível não se sentir arrebatado pela escrita da Judith. Ela é minuciosa na hora de descrever as emoções de seus personagens, suas características tendem a ser verossímeis, com qualidade e defeitos, erros e acertos, o que torna o enredo quase que palpável. Viciante é pouco para descrever essa obra. Sheridan é o tipo de protagonista que me deixa orgulhosa, ela luta pelo que acredita, é forte, gentil, com uma personalidade única, que não se abaixa para as vontades dos outros. Uma sonhadora que merece ser feliz, que já enfrentou muitos altos e baixos ao longo da vida. Já Stephen que um dia já foi um jovem amoroso, galante, sonhador, hoje se apresenta frio, incrédulo e distante. A desilusão o tornou amargurado, mas algo sobre a jovem desconhecida e de certa forma misteriosa que tem vivido sobre seu teto, tem mexido, despertado, arranhado as barreiras de seu coração, permitindo talvez, que um pouco do que era antes, volte a superfície.
Estou interessada em saber por que há momentos em que me olha e sorri como se só eu tivesse importância para você. Estou interessada em saber por que há momentos em que sinto que não quer me ver, mesmo quando estou na sua frente. Estou interessada em tudo o que se refere a você porque quero muito significar algo em sua vida. Estou interessada em história. Sua história. Minha história.
Amei acompanhar a jornada deste casal. A forma como vão se descobrindo, se enxergando com o passar de cada capítulo. É notório o quanto crescem, aprendem, afrontam um ao outro. E essa busca pelas memórias e a verdade é linda, tendo como plano de fundo temas como família, perdão, preconceito, privilégios e orgulho.
Para quem ama um bom romance de época, fica aqui uma ótima sugestão. E o melhor de tudo, é que você pode ler os livros da Dinastia Westmoreland fora da ordem de publicação, pois cada um apresenta um casal protagonista diferente e a menção ao casal anterior não chega a ser um spoiler.
Aproveita e vem conhecer os outros livros da série. Um Reino de Sonhos já foi resenhado por nós!
- Until You
- Autor: Judith McNaught
- Tradução: Therezinha Monteiro Deutsch
- Ano: 2018
- Editora: Bertrand Brasil
- Páginas: 404
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