Foram poucas vezes que trouxe para vocês resenhas de livros que não gostei e mesmo assim sempre que as trago procuro encontrar o público para o qual esse livro poderia funcionar, já que eu não acredito que exista escritor ruim e sim que algumas obras não funcionam para determinadas pessoas, mas que o escritor encontrando seu nicho de público terá o seu sucesso. Mas no livro de hoje, realmente está difícil de encontrar esse público potencial ou algo positivo sobre ele.

A Contrapartida é o primeiro livro de Uranio Bonoldi, um consultor de mercado renomado, acostumado a tratar de finanças e em ajudar grandes empresas em tomar decisões importantes para seus lucros, o que, claramente, não tem nada a ver com o livro que ele se propôs a escrever.

Li o livro durante uma viagem de avião e minha intenção era acabar o livro durante o voo. Comecei a ler ele antes de decolar e logo o começo do livro me pareceu bastante animador, com uma cena de ação muito bem descrita, mas infelizmente, só aquele início que foi realmente bom, em seguida as coisas pioraram muito, ao ponto de eu não conseguir finalizar a leitura durante a viagem e de me arrastar com ele durante os dias.

A obra conta a história do jovem Tavinho, criado pela mãe e pela governanta da casa após seu pai ser assassinado durante um assalto. Ele tem muitos problemas de aprendizado e se sente burro por ter a impressão que a matérias do colégio não entrarem na sua cabeça. Ele inclusive é zoado pelos seus colegas e perseguido pelos professores, que cobravam dele uma inteligência maior, já que seu pai era um médico extremamente conhecido e inteligentíssimo.

A única pessoa que parecia poder ajudá-lo era a governanta, Dona Iaúna, que por ser índia tinha um grande conhecimento de chás e poções. Vendo a dificuldade do menino ela lhe oferece um chá especial, que poderia mudar sua vida.

Depois de tomar a poção de Iaúna, Tavinho muda completamente, se torna o garoto mais esperto, inteligente e dedicado do colégio, surpreendendo a todos. O problema é o fato de essa poção ter que ser consumida constantemente, caso contrário, seus efeitos cessariam. Para piorar tudo, Tavinho descobre do que a poção é feita e isso o deixa completamente contrariado em continuar tomando, visto que sua preparação envolve mortes e coisas no mínimo imorais.

A Contrapartida tem uma premissa que seria bem interessante e original, já que envolve um folclore bem brasileiro, com muitos rituais indígenas, além de mostrar vários locais conhecidos da cidade de São Paulo, onde se passa a história. Mas o desenvolvimento do livro é ruim, ele envolve coisas desnecessárias e a estrutura escolhida para isso é mal construída. Em diversas partes do livro o autor para de falar sobre o assunto principal ou o que estava sendo abordado no capítulo anterior, para apresentar um assunto desconexo, como um romance completamente desnecessário para trama.

Outra coisa que me incomodou bastante foi o fato de muitos dados no texto não seguirem uma cronologia correta, como por exemplo o tempo que Tavinho leva para se formar em medicina e se tornar um renomado cirurgião. Esses detalhes minaram a qualidade de leitura, me incomodaram muito e deixaram o andamento da leitura extremamente lenta, eu não conseguia ler nem minhas habituais 100 páginas diárias.

Acredito que o livro poderia ter evoluído de uma forma muito melhor, acho que faltou, de fato, um pouco de experiência para o autor, já que esse é seu primeiro livro. Para não dizer que tudo foi decepção, a última cena do livro é extremamente interessante e fez o seu final valer muito a pena, uma pena que foi bem árduo o caminho até lá. Faltou para o autor se focar em algo que ele, aparentemente, é bom em escrever: as cenas de ação, já que o começo e o final do livro, onde ele foca nos assassinatos e no drama envolvido. Nestes quesitos o livro foi bem interessante e conseguiu agradar, mas quando ele envolve outras coisas a trama, elas são muito mal desenvolvidas, o que acaba prejudicando até mesmo as partes boas que existem.

Já vi algumas opiniões contrárias à minha sobre este livro, o que é ótimo. Como eu disse, não existe livro ou autor ruim, só é necessário encontrar o nicho que você irá agradar com a sua maneira de escrita. O que me intriga é que essa obra é bem do estilo que eu mais gosto de ler, uma pena eu ter me decepcionado tanto. Por fim, pontos para a edição feita pela Editora Valentina, extremamente cuidadosa e com uma excelente capa, que tem muito a ver com a obra e passa uma ideia muito chocante logo de cara.

  • A Contrapartida
  • Autor: Uranio Bonoldi
  • Ano: 2019
  • Editora: Valentina
  • Páginas: 336
  • Amazon

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