Publicado originalmente em 1984. O Cemitério é considerado um dos melhores livros do autor Stephen King. Em 1989, a obra ganhou uma adaptação cinematográfica, com o roteiro assinado pelo próprio King e direção de Mary Lambert e agora a história chamada originalmente de Pet Sematary, acaba de ganhar um remake com direção de Kevin Kölsch e Dennis Widmyer.

Se você não está familiarizado com o enredo, tudo começa com a mudança da Família Creed para uma nova casa no interior. Logo Louis Creed (Jason Clarke), guiado por seu novo vizinho descobre que dentro de sua propriedade há um cemitério amaldiçoado, onde crianças, há gerações, enterram seus animais de estimação – mas que também já foi um local para sepultamento de indígenas. A vida pacata da família, que só buscava um pouco da tranquilidade do interior, passa a mudar quando Louis parece ouvir um chamado do cemitério.

Quando assisti esta nova adaptação foi impossível não fazer uma certa comparação com a anterior. É interessante analisar como ambos, de formas diferentes, conseguiram transmitir visualmente toda a grandiosidade da obra de King, que aborda essencialmente o luto e como consequência a morte. Ao analisar como cada personagem lida com a situação ao longo da obra, percebo que King priorizou trazer diversas perspectivas sobre o que é a morte. A exemplo disso temos Rachel Creed (Amy Seimetz), que desde que precisou lidar com a morte da irmã, ainda muito nova, carrega certos traumas sobre o assunto. Louis, por outro lado, é médico, lida com a morte todos os dias e com mais naturalidade.

Quando Church, o gatinho da pequena Allie (Jeté Laurence) é atropelado, Louis não vê uma alternativa a não ser falar pela primeira vez com a filha sobre a morte, coisa que a mãe deseja evitar ao máximo. Ambos os pais tem percepções diferentes sobre o tema, lidam e reagem também de formas completamente distintas. Neste viés é interessante observar o plot de Rachel, que acontece paralelamente através de flashbacks, é realmente assustador e impactante e os diretores recorrem a ferramentas conhecidas para assustar o público com as cenas da infância da personagem.

A ideia de – às vezes estar morto é melhor – falado em determinado momento por Jud (John Lithgow), resume bem Cemitério Maldito e o permeia o tempo todo. Aprendemos que quando interferimos na ordem das coisas, as consequências podem ser devastadoras e toda esta relação dos personagens com o medo que vem da perda faz da trama algo denso, uma história pesada de ser contada, mas que é transmitida com uma narrativa gradativa, por isso vale tanto a pena de ser conferido.

Uma ressalva para o cenário que deveria representar o cemitério indígena. Não há como entender o local devido o abuso da obscuridade e da neblina nas cenas em que ele é apresentado. Sinceramente, o cemitério de pets é bem mais creepie que aquele que se apresenta com a maior importância na trama. A lenda sobre o Wendigo, de suma importância para a justificativa de alguns acontecimentos, também é mal mencionada. É definitivamente Louis passando os olhos por um livro antigo com uma imagem bizarra. E só. Nisso o filme falha, levando ao público ao único caminho de acreditar naquilo e pronto. Pode não ser um problema de fato na narrativa, mas acaba decepcionando um pouco.

A atuação dos atores está boa. Sempre admirei Jason Clarke e aqui o ator consegue transmitir todos seus sentimentos através do olhar, todo o desespero e amor doentio que leva a sua família a ruína. Perceber sua evolução até chegar ao momento em que ele só deseja manter as coisas como sempre foram é excelente. Justo o personagem mais cético é o primeiro a não aceitar a perda. Destaque também para a pequena Jeté e em uma entrevista recente realizado para o Jovem Nerd, me deu uma aula de como lidar com a morte e como, para ela, o filme não pareceu assustador. vale elogiar a atuação do gato também? *.*

Este é um filme de terror no maior estilo antigo. Então se você espera algo no estilo “jumpscares” e derivados de Invocação do Mal pode ser que este não seja um filme para você. Cemitério Maldito mantém a essência da sua primeira adaptação, mas mexe um pouquinho no roteiro para surpreender até os fãs mais antigos. Eu particularmente gostei muito desta mudança, faz com que o filme de horror sobrenatural consiga, de certa forma, ser mais “crível” e, portanto, mais amedrontador. Evitarei spoilers aqui, mas é uma jogada acertada, pois evita que o filme utilize o mesmo tipo de mecânica que o anterior.

Mesmo anos depois, a história prova possuir fôlego para ser explorada, o que conclui que King escreve livros atemporais. De qualquer maneira, Cemitério Maldito não é um filme perfeito, mas apresenta tudo que a obra original explora, é objetivo e mantém a identidade dos filmes de terror mais clássicos sem deixar de cativar um novo público.

  • Pet Sematery
  • Lançamento: 2019
  • Com: Jason Clarke, John Lithgow, Amy Seimetz, Jeté Laurence
  • Gênero: Terror
  • Direção: Kevin Kölsch e Dennis Widmyer

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