Com trinta e oito anos de idade, colunista da revista “Rímel”, Liz, não poderia estar mais satisfeita com sua vida profissional. Ela é independente, mora em Nova York e está caminhando para se realizar pessoalmente também. Entretanto a saúde de seu pai, acaba exigindo sua atenção, a levando de volta para a casa no interior, ou melhor, em Cincinnati. Jane, sua irmã mais velha com quem também divide o apartamento em Nova York, é professora de Yoga, está lutando para realizar seu maior sonho, mas também interrompe esse momento para voltar para casa e ajudar a família nesse período difícil.

Retornar para sua cidade natal, não agrada em nada Liz. Primeiro ela se depara com uma casa toda problemática, caindo aos pedaços e precisando urgente de atenção. Suas irmãs mais jovens, Kitty e Lydia, são duas alienadas irresponsáveis e sua irmã do meio Mary, é toda misteriosa e distante, o que a faz pensar se não está metida em problemas. E como se todos esses problemas não bastassem, ela ainda precisa lidar com uma mãe compulsiva, fora de controle, que só pensa em duas coisas, a solteirice de suas filhas e a liga das mulheres ao qual faz parte. Aí você pensa, agora sim, chega de problemas… Não, Liz também descobre que a família está falida e ela precisa descobrir uma maneira de ajudá-los urgente.

Não existe nada de vergonhoso em se dedicar a outra pessoa, contanto que a outra pessoa também se dedique a você.

Enquanto todos esses problemas são jogados sobre os ombros da Liz, em paralelo temos uma mãe tramando para ajudar suas filhas a encontrarem bons casamentos. E quando a notícia de que o famoso Chip Bingley, médico que participou do reality O Bom Partido está na cidade, logo ela sente que precisa apresentar suas “meninas” para ele, principalmente Jane, que está perto dos quarenta anos. Sra. Bennet não brinca em serviço e é no feriado de quatro de julho em meio a um churrasco que começa a executar seu plano. Jane e Chip não precisam de muito para se encantarem um com o outro, e em meio a conversas o interesse surge. Já Liz e o melhor amigo de Chip, o neurocirurgião Fitzwilliam Darcy também não precisam de muito para se repelirem, o ranço é imediato.

Como já se pode prever, nenhum romance ao longo da trama será tranquilo ou fácil. Chip e Jane serão colocados a prova, quando algo pelo que Jane tanto tem batalhado vêm à tona. E quando Darcy, por quem Liz não desenvolveu muita afeição se mostra contra sua irmã, a situação se complica ainda mais, nos restando torcer para que tudo se esclareça e encontre o caminho certo.


Confesso, quando li a sinopse de O Bom Partido e vi que ele seria uma versão moderna de Orgulho e Preconceito da autora Jane Austen, fiquei eufórica e louca para ler. Toda a premissa em si, indicava que teríamos uma leitura muito mais dinâmica e divertida, de um dos maiores clássicos da literatura, mas… não foi bem isso que encontrei aqui. Para mim, apesar da época ser atual, e os cenários diferentes da história original, tudo permaneceu muito semelhante, inclusive a narração da autora, que por diversas vezes me passou a sensação de estar lendo um romance histórico e não contemporâneo, e a prova disso são as muitas passagens machistas, preconceituosas, atitudes sem noção de uma mãe obcecada com a solteirice de suas filhas e as aparências.

Esperei por uma Liz desafiadora, ousada, determinada, firme e me deparei com uma mulher de quase quarenta anos… imatura, com atitudes juvenis, até um pouco apagada. Jane mesmo sendo morna em diversos momentos rouba a cena, seu romance com o Chip empolga mais que o próprio Darcy e Liz, e mesmo assim não é bom. Darcy é… indigesto. Logo de cara é difícil não se incomodar com seu ego, sua arrogância e indiferença, acredito que de todos os personagens esse é a cópia perfeita do original. Outro ponto que não posso deixar de mencionar, é a repetição incessante de “mansão estilo tudor”, no mínimo umas cem vezes… irritante demais.

— Provavelmente é uma ilusão causada pela liberação da oxitocina durante o sexo — continuou Darcy —, mas eu me sinto como se estivesse apaixonado por você. Você não é tão bonita nem tão engraçada quanto pensa que é. Você é um demônio tagarela que tenta fazer a própria bisbilhotice soar como interesse antropológico sobre a condição humana. E a sua família, obviamente, é um horror. No entanto, apesar de todo o bom senso, não consigo parar de pensar em você.

Mas, também preciso ser honesta e exaltar alguns pontos que tornaram a leitura mais fácil. Lydia traz uma discussão bem atual e interessante para a trama, o que foi um grande alívio. Liz, mesmo com todos os pontos fracos que já apontei aqui, também têm o seu lado positivo, ela se preocupa com a família, questiona seus próprios pensamentos e nos faz pensar sobre como julgamos muito à primeira vista, interpretando ações sem conhecer o todo, apenas pedaços. Ela soa muito real, o tipo de personagens que não é tão carismática, porque apresenta defeitos e qualidades ao longo da leitura, ela erra, corre atrás e tenta concertar, é impulsiva e toma atitudes sem pensar. Os cenários explorados pela autora seguem o mesmo que a obra original, tudo é muito doméstico e cotidiano e faz sim, críticas a sociedade atual. Também preciso ressaltar que alguns diálogos são interessantes e divertidos, conseguindo assim arrancar alguns sorrisos.

Enfim, a obra em si não me empolgou e me deixou com aquela sensação de que poderia ter sido melhor, mas de modo geral pode ser uma boa leitura para quem ama os trabalhos de Jane Austen e uma narrativa mais linear.

CURIOSIDADE:

O Bom Partido, é o quarto livro da série The Austen Project. Projeto esse, em que seis autores contemporâneos, irão criar uma adaptação moderna das obras de Jane Austen. Ainda não sabemos se os demais livros serão trazidos aqui para o Brasil, mas confesso que estou animada para continuar essa jornada e descobrir o que as outras autoras prepararam.

Apenas a título de informação, o primeiro livro da série adaptado foi o Razão e Sensibilidade, pela autora – Joanna Trollope. O segundo foi, A Abadia de Northanger, pela autora – Val McDermid. E o terceiro livro é Emma, pelo autor Alexander McCall Smith. Quanto aos outros dois livros, não encontrei informações, por essa razão acredito que ainda não tenham sido publicados.

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  • Autor: Curtis Sittenfeld
  • Tradução: Alexandre Barbosa de Souza
  • Ano: 2019
  • Editora: Essência
  • Páginas: 320
  • Amazon

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