Uma vida aparentemente perfeita. Um casamento feliz. Um marido atencioso e preocupado. Dois artistas que enxergam o mundo através de seu dom. Um casal que aparentemente se ama… até que ela o matou. Cinco tiros em seu rosto, deixando-o desfigurado, o ato não poderia ter sido mais cruel. Alicia não tentou fugir, permaneceu paralisada ao lado do corpo do marido, com os pulsos cortados em uma aparente tentativa de suicídio, encontrada a tempo ela se recupera, porém nunca mais volta a falar, nenhuma única vez, nenhuma palavra. Nenhum sinal de arrependimento, ou até mesmo consciência do ato que cometeu. Será seu silêncio uma confissão? Julgada e considerada incapaz de responder por seus atos, Alicia é transferida para um hospital psiquiátrico. Ano vai e ano vêm e o silêncio é a única coisa que permanece constante.
Theo Faber não consegue tirar de sua mente a imagem de um quadro de Alicia – ALCESTE – ele tem certeza que a tela é muito mais que uma pintura, existe algo por trás daquelas cores, formas e texturas, que podem significar os gritos de uma alma silenciosa e ele quer descobrir. Psicoterapeuta forense, vê sua chance surgir, quando abre uma vaga no hospital em que Alicia está internada e ele se inscreve. Mal sabe ele que garantir a vaga seria o passo mais fácil. Alicia é uma incógnita, não reage a nada e nem a ninguém, a única vez em que demonstrou uma reação foi de agressividade. Alicia não parou apenas de falar, ela parece ter desistido de tudo.
(…) Escolher um parceiro num relacionamento amoroso é muito parecido com escolher um terapeuta. Temos que nos perguntar se a pessoa vai ser honesta com a gente, capaz de ouvir críticas, reconhecer erros e não prometer o impossível.
E se Alicia não fala, como saberemos as motivações, o que aconteceu dentro daquela sala para que tal ato tenha sido cometido?
Estou até agora de boca aberta, sem reação e procurando em minha mente as pistas que deixei escapar ao longo da leitura, para ser tão surpreendida quanto fui. A verdade é que fiquei tão focada em apenas um personagem, em uma única possibilidade que tudo estava se desenrolando bem na minha frente e eu não percebi. E quando a verdade foi jogada, quem caiu um belo de um tombo foi eu. E preciso acrescentar, que ser surpreendida foi apenas um bônus, já que a história vai muito além, te arrepia, te prende, te hipnotiza e torna o conjunto da obra, majestoso.
Alicia é o tipo de protagonista tensa, intensa e densa, que a princípio não sabemos muito bem como reagir a ela. Justamente por não termos seu ponto de vista, seus pensamentos, nada a respeito, tememos que o narrador não seja confiável, mas, Alicia deixou tudo que ela tinha a nos dizer, escrito em seu diário e aos poucos vamos desvendando suas páginas, mas será que podemos confiar em alguém que cometeu um crime, que não fala mais e que se tornou inalcançável? Será que não estamos sendo manipulados por ela também?
A Paciente Silenciosa merece todo o burburinho que teve ao ser apresentada. Uma leitura cheia de reviravoltas, com uma narrativa rápida, fluida, viciante e eletrizante. Um enredo que parece um labirinto, cheio de reviravoltas e possibilidades que desafiam o leitor. É interessante a maneira como a história vai se tornando cada vez mais profunda, com ligações mais complexas e que entregam muito mais do que realmente esperávamos. Amei como o autor abordou alguns temas, tais como; a fúria assassina, a primeira infância, a clínica psiquiátrica e todos os meios utilizados para se lidar com esses pacientes, e como é julgado “normal” tais tratamentos. O homicídio, as relações interpessoais e tudo que de alguma maneira gira em torno da trama central.
(…) Ninguém nasce mau. Já dizia Winnicott: “O bebê não é capaz de odiar a mãe se antes a mãe não odiá-lo.
Apenas leiam! É um livro que te prende do inicio ao fim. Que cumpre muito bem seu papel como um livro do gênero suspense. Que brinda seus leitores com um enredo que nos permite criar muitas teorias, supor muitas coisas e vê-las sendo desconstruídas ao virar de uma página e na próxima já querer voltar e refazer tudo de novo.
Se eu pudesse parabenizaria o autor, pela genialidade na maneira como conseguiu dar voz a uma protagonista silenciosa e desviar nossa atenção com tanta maestria, eu o faria. Que LIVRO!!! Vale ressaltar também que este livro marca a estreia de Alex Michaelides na literatura, – é isso que chamo de começar com o pé direito. Fica aqui minha super indicação, para todos que estão à procura de uma ótima leitura. E para aqueles que ainda gostam de mitologia grega, temos um toque irresistível, utilizado com muita sabedoria e sensibilidade, assim como toda a obra. É importante frisar esse cuidado que o autor teve ao abordar temas tão frágeis e delicados, o que apenas enriqueceu ainda mais a leitura. Já quero mais obras do autor.
- The Silent Patient
- Autor: Alex Michaellides
- Tradução: Clóvis Marques
- Ano: 2019
- Editora: Record
- Páginas: 350
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