Quem nunca inventou histórias e aventuras com um dinossauro de brinquedo ou acordou assustado no meio da noite depois de um pesadelo com um sanguinário Carnotaurus? Monstros, brinquedos, lendas, máquinas assassinas, gigantes extintos… Os dinossauros há muito existiram e há muito desapareceram da Terra. Certo? Errado! Pode parecer loucura, conspiração ou o desejo de uma garotinha que sonhava escavar sítios e catalogar fósseis jurássicos, mas é a mais pura verdade. Os dinossauros não foram de todo extintos, eles ainda andam entre nós, ou melhor, voam.
Narrado de forma tão envolvente, divertida e instrutiva, quase nos esquecemos que este é um livro científico cheio de nomes complicados de criaturas que mais parecem ter saído de um conto de Lovecraft. Afinal, você consegue imaginar uma salamandra do tamanho de um carro? Pois é, não apenas conheci melhor meus gigantes dentuços prediletos como pude mergulhar, através da ciência, pelo campo da imaginação para dar vida aos mais bizarros e esquisitos seres que uma vez chamaram a Terra de lar.
Repleto de fatos curiosos e desmistificando ideias que até então possuíamos sobre os dinossauros, Steve Brusatte, paleontólogo americano e biólogo evolucionista, nos entrega um livro – apesar de ter o rigor técnico – leve e com ares autobiográficos pois, o próprio, sempre insere suas aventuras e descobertas para nos aproximar ainda mais desse mundo que já foi perdido, mas agora se torna encontrado.
Esse é meu primeiro contato aprofundado com a temática dos dinossauros e só tenho coisas boas para falar a respeito desse livro. Primeiramente, sei que às vezes reviramos o nariz só de olhar para um exemplar com teor científico, seja por preconceito literário ou pela carga de livros técnicos que lemos para a escola/faculdade ou trabalho, mas esse não é nem de longe um livro chato ou cansativo. Muito pelo contrário! Provavelmente você já ouviu aquele ditado: “Não julgue um livro pela capa”; é exatamente esse sentimento que você terá ao encarar essa leitura e ficará muito satisfeito com ela, tenho certeza.
Este é um livro que exalta a paleontologia, feito para seus acadêmicos, seus amantes, mas também para aqueles que tem curiosidade e desejam se aprofundar na história do nosso planeta, suas extinções e, sobretudo, os gigantes que uma vez dominaram a terra, o ar e os mares. Dividido em partes que correspondem aos períodos do planeta Terra, Ascensão e Queda dos Dinossauros utiliza de tabelas, gráficos e fotos como recursos visuais para incentivar e melhor direcionar o leitor.
O autor inicia sua obra nos convidando a encarar as descobertas e experiências através de seus olhos, com uma linguagem simples e romantizada, quase nos sentimos em uma aventura onde facilmente poderíamos esbarrar em Indiana Jones ou adentrar no próprio Jurassic Park. Utilizando de recursos atrativos e mostrando seu vasto conhecimento científico e da cultura pop, Brusatte rapidamente fisga o leitor alimentando seu imaginário com descrições minuciosas de fósseis recém descobertos, já catalogados e apresentando toda uma gama de nomes extravagantes que poderiam facilmente ser feitiços lançados por um mago branco.
Diante de mim, estava um dos fósseis mais bonitos que eu já vira. Era um esqueleto mais ou menos do tamanho de uma mula, seus ossos cor de chocolate destacando-se em meio à cor pálida do calcário ao redor. Um dinossauro, com certeza, seus dentes afiados como faca, suas garras pontiagudas e uma cauda longa (…) seus ossos eram leves e ocos, suas pernas, longas e magras, como as de uma garça, seu esqueleto elegante (…) e não havia apenas ossos, mas uma penugem cobrindo o corpo inteiro. Penas espessas que pareciam pelos na cabeça e no pescoço, penas longas e ramificadas na cauda e grandes penas (…) alinhadas e dispostas em camadas para formar asas. Chamamos de Zhenyuanlong suni.
Além dos fatos comumente desconhecidos pela população geral do planeta, o autor também desmente todos os estereótipos que cercam esses gigantes que sobreviveram e evoluíram a tantas provações, que prosperaram por mais de 150 milhões de anos e produziram cerca de 10 mil espécies de dinossauros modernos. Ao longo das páginas, você encontrará uma história de evolução contada a partir do estudo das rochas, como suas características mudavam drasticamente ao longo dos milhares de anos, do solo e dos fósseis. Como a Terra saiu de um caldeirão fervente para um lugar de topografia e climas diversos que permitiram a origem e evolução das mais variadas formas de vida; desde os monstros viscosos dos lagos primordiais que deram lugar aos dinossauromorfos, primos distantes dos dinossauros, cujos primeiros espécies não eram maior que um cachorro, até os próprios dinossauros e suas mais variadas ramificações.
Ainda me recordo da infância, dos dinossauros nas vitrines, criaturas que mais pareciam lagartos e crocodilos de tamanhos e formas variados. Quem poderia dizer que possuíam penas? E não só os dinossauros que voavam, os ancestrais dos pássaros, mas também o tão temível Tyrannosaurus rex que dominou exclusivamente a região que hoje é a América do Norte; afinal, em cada continente, que ao longo dos milhares de anos foi se separando da Pangeia – a grande e única formação de terra do planeta – formando rios de lava e calor excessivos para dar lugar gradativamente aos oceanos, um tipo de espécie carnívora dominava a cadeia de dinossauros. Ainda sobre esses dinossauros pássaros, os fatos científicos retratados no livro mostram que essas penas possuíam cores, seja para ornamento, conforto térmico ou atrativo sexual, diferindo bastante dos répteis voadores que víamos nos filmes.
Ensinaram-me que os dinossauros eram brutamontes grandes, escamosos e burros, tão despreparados para o meio ambiente que só se arrastavam de um lado para outro, matando o tempo enquanto aguardavam sua extinção. Eram curiosidades em museus, ou monstros de filmes que nos assombravam em pesadelos, ou objetos do fascínio infantil.
Com sua linguagem e conhecimento ricos, o autor presenteia o leitor com fatos comprovados e curiosidades que honram o legado dos gigantes extintos. Afinal, alguns deles eles podiam alcançar tamanhos enormes ou mínimos, pesar toneladas e parecer burros mas, eram incrivelmente inteligentes e versados na arte da adaptação e sobrevivência. Possuíam os ossos ocos e cheios de bolsas de ar, como os pássaros modernos, respiravam duplamente, feito máquinas foram criados para matar ou se defender com armaduras tão densas que até os dentes afiados de um T. rex encontrava resistência, chegavam a mais de 15 metros de altura e podiam comer mais de 110 quilos de carne por dia. Não é a toa que se sobressaíram entre si e outras espécies, persistindo por milhões de anos até o último cataclismo que abriu espaço para a mais recente remodelação do planeta e o nosso surgimento que não teria sido possível se os dinossauros ainda caminhassem, voassem ou nadassem.
Em um mundo soterrado por tecnologia e cuja história do nosso próprio planeta, das espécies que uma vez reinaram na Terra, onde nosso próprio surgimento e evolução se faz até irrelevante, você encontrará neste livro uma Nova História de Um Mundo Perdido, como o próprio subtítulo se descreve. Uma das melhores, mais prazerosas e instrutivas leituras que já fiz e que, sem dúvida, se você quer saber mais sobre os diferentes períodos desde os primórdios do planeta, seus cataclismos e várias espécies – com foco nos dinossauros e seus primos – então você irá se deleitar com esse livro e muito em breve estará caçando e catalogando fósseis no próprio quintal.
- The Rise and Fall of the Dinosaurs
- Autor: Steve Brusatte
- Tradução: Catharina Pinheiro
- Ano: 2019
- Editora: Record
- Páginas: 336