A morte é inevitável. E só quem me conhece intimamente sabe o quanto é doloroso para mim repetir cada uma dessas palavras. É exatamente com elas que Caitlin Doughty começa a sinopse de Para Toda a Eternidade, livro que nasceu após uma viagem pelo mundo afim de conhecer como outras culturas lidam com a morte e o luto.

Tudo isso é feito através da narrativa divertida e direta ao ponto de Caitlin, que desde muito jovem, trabalha na indústria funerária, jornada que podemos acompanhar através do seu primeiro livro publicado por aqui, o Confissões do Crematório. Neste, além dela compartilhar histórias da sua rotina como funcionaria em uma casa funerária, também teremos várias passagens autobiográficas, onde a autora divide com o leitor sua relação com a morte.

Em Para Toda a Eternidade isso não é diferente, com a diferença que o foco fica muito mais na jornada em cada país, porém ao final, após conhecer tantos métodos e culturas, podemos descobrir qual método Caitlin escolheria para si mesma. É perturbador, mas ainda mais quando percebermos que é lógico. Acho que o fato dela se abrir tanto com o leitor e ser completamente transparente é um dos primeiros passos para que a conversa sobre a morte seja, nem que seja um pouco, mais confortável.

Eu embarquei nesta leitura numa das épocas mais turbulentas da minha vida, onde minha ansiedade estava em picos altíssimos, dominando grande parte de mim. Ter lido Confissões do Crematório há alguns anos, tinha sido uma boa experiência, então eu estava decidida em ler o até então lançamento da autora. Eu estava tão disposta que a leitura acabou virando uma leitura conjunta e mais 20 pessoas embarcaram comigo nessa, pessoas que tinham uma facilidade enorme para falar sobre a morte, pessoas que eram indiferentes e pessoas que assim como eu, tinham o assunto como um certo gatilho.

A experiência foi ótima, compartilhar ideias, sentimentos e experiencias, tornou tudo mais leve, mesmo que estivéssemos falando sobre o fim. É louco falar sobre o fim da vida né? Mas a narrativa de Caitlin mesmo que divertida é respeitosa, educativa e informativa. Ela faz tudo isso falando também muito de si e mostrando sua perspectiva de tudo, mostrando para o leitor que os mesmos receios que eu tenho sobre a morte, outra pessoa do outro lado do mundo também tem. A morte é sentida de todas as formas em todos os lugares.

Durante a leitura passaremos por oito países, dentre eles destaco a Indonésia (ao lado do México), único método apresentado pela autora que eu realmente conhecia, onde os familiares em determinada época do ano, revisitam seus mortos para vesti-los e lhes oferecer cigarros. O Japão, que já conta com uma tecnologia de ponta para catalogar seus mortos e a Bolívia, onde é possível visitar as nãtitas, crânios humanos que na crença local, tem um papel essencial para com o mundo dos mortos e dos vivos.

Acho que eu poderia listar inúmeras curiosidades que existem neste livro, mas não quero comprometer a leitura de ninguém, só posso dizer que este é o tipo de leitura que fará você refletir, principalmente quando nos esclarece que não há um modo correto para lidar com a morte, e como nós essencialmente do ocidente, somos condicionados a nos afastar dela, esconde-la, fazendo com que quando, finalmente, precisamos encara-la, estejamos tão despreparados.

A leitura apresenta soluções para este tipo de problema, mas o principal é falar. Precisamos falar sobre a morte, pois não existe um modo mais fácil de se despedir de quem amamos, é um processo que precisamos passar, faz parte da vida e ter consciência disso é algo transformador.
Não vou dizer que este deixou de ser um assunto difícil pra mim, mas a leitura ajuda e transforma, pois é possível, ao longo do processo, perceber que isso não é um problema exclusivo meu, mas de todos. Para Toda a Eternidade despertou em mim um sentimento de acolhimento, me enriqueceu como pessoa, passei a enxergar a dor do outro com mais empatia, pois cada um irá encarar a morte de forma diferente e tá tudo bem.

Ainda temos muito o que aprender e ainda bem que temos pessoas como Caitlin, que mesmo sendo ótima falando e possuindo um conhecimento tremendo sobre a morte, nem ela está imune a incerteza. Nesta leitura você vai descobrir inúmeras formas de se despedir de alguém, nenhuma mais certa que a outra, mas todas confortam a nossa relação com o assunto e precisam ser respeitadas.

Conheça Confissões do Crematório

Na edição da Darkside Books contaremos com ilustrações de Landis Blair, que serão responsáveis por ilustrar de forma menos gráfica cada detalhe que a autora irá compartilhar com o leitor.

Recomendo muito a leitura, este é um livro incrível e precisa ser compartilhado! A certeza da morte permite uma perspectiva diferente de como escolhemos encarar a vida, as duas coisas estão interligadas, vida e morte acontece a todo instante e o medo de encarar a possibilidade da morte ou não, só nos paralisa e por isso que discussões como as que este livro levanta são tão importante para nós. E para mim, anotação para eu lembrar de reler isso daqui uns anos.

PARTICIPE

  • From Here to Eternity
  • Autor: Caitlin Doughty
  • Tradução: Regiane Winarski
  • Ano: 2019
  • Editora: Darkside Books
  • Páginas: 224
  • Amazon

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