O universo dos jogos muitas vezes pode acabar sendo um desafio para mulheres gamers. Raíssa é uma gamer apaixonada por Feéricos, um dos maiores sucessos da empresa Nevasca, mas está cansada dos diversos assédios que sofre por ser mulher, e também, por ser ignorada durante o jogo pelo mesmo motivo. A jovem decide então, criar uma conta e um avatar masculino, para que possa jogar em paz. 

Devido ao dom natural para atuar, montar um personagem com base no seu melhor amigo, Leo, não foi nada complicado. Entretanto, o que Raíssa não contava é que conheceria Ayla, outra jogadora com dificuldades em se incluir na comunidade. O que de início parecia apenas uma boa amizade, ao longo da convivência, foi se transformando em uma paixão. 

Para piorar ainda mais a situação, uma oportunidade de se encontrarem pessoalmente, aparece. E Raíssa se vê dividida entre o que sente pela garota e o medo de lhe confessar sobre a sua verdadeira identidade, e acabar tendo os seus sentimentos magoados. 

Quando os caras não estavam me ignorando por ser mulher, estavam dando em cima de mim por eu ser mulher e gamer.

Conectadas é uma história sobre amor, amizade, diversidade, perdão e principalmente, superação. Fugindo completamente do senso comum de muitos romances, Clara Alves, autora do livro, nos apresenta um livro de uma delicadeza singular. A autora dá voz às complexas relações tanto com os outros, quanto com nós mesmos, que permeiam nossa vida.

O livro de temática LGBTQI+, em meio a um romance incrível, aborda de maneira muito sensível, às dificuldades familiares, sociais, individuais e culturais de aceitação, mesmo com tantos avanços em nossa sociedade. 

Raíssa tem uma família incrível e super compreensiva, mas quando o assunto é homossexualidade, a situação muda completamente. Ayla é refém das farpas trocadas pelos seus pais e tem dificuldades de se aceitar como é porque foi ensinada que ser assim era errado. Léo sofre bullying porque diferente dos outros garotos da sua idade, sexo não é uma coisa que lhe chame tanta atenção. 

Em meio a essas complicadas situações, acompanhamos a vida desses jovens que estão começando a se descobrir e conhecer quem são de verdade, e mais do que isso, precisam lutar para defender não só aquilo em que acreditam, como também, sua identidade. E além disso, a autora explorou com bastante maestria, o machismo ainda enraizado no universo dos jogos.

Aquele friozinho que eu sentia na barriga devia ser apenas admiração, certo? Afinal, sempre que as pessoas ao meu redor falavam de casais era homem e mulher. Menino e menina. Meus parentes queriam saber dos meus namoradinhos, não das minhas namoradinhas.

É muito frustrante saber que mesmo com tantos avanços tecnológicos, principalmente, que permitiram uma maior conexão entre as pessoas, há ainda limites a serem superados. E não apenas no universo dos jogos, mas em toda a área de tecnologia, nós ainda temos um ambiente conservador e machista, que impõe dificuldades ao acesso das mulheres. 

Conectadas foi o primeiro contato que tive com a escrita de Clara Alves e devo confessar que fiquei bem curiosa para ler mais coisas da autora. A sua escrita além de ter bastante delicadeza para abordar assuntos tão complicados, também é muito fluída e é aquele tipo de leitura que quando você vê, já terminou o livro. 

Para quem não conhece a autora, Clara é brasileira, formada em jornalismo pela UERJ e trabalha como assistente editorial. Em 2016, sua história Como reconquistar um amor perdido foi vencedora do Wattys na categoria Novas Vozes. 

E aí, ficou curioso para saber como vai acabar a história de amor de Raíssa e Ayla? Então não dá bobeira e vá ler esse livrasso! O romance não é só de aquecer o coração, como também, se faz muito necessário para discutirmos algumas questões urgentes, em nossa sociedade. Fica a dica!

  • Conectadas
  • Autor: Clara Alves
  • Ano: 2019
  • Editora: Editora Seguinte
  • Páginas: 320
  • Amazon

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