Chimamanda Ngozi Adichie ganhou meu coração já faz um tempo. Nascida na Nigéria, ela se transformou em uma porta voz da realidade de seu povo através de seus livros. Em 2009, Chimamanda se apresentou no TED (Technology, Entertainment, Design), uma série de conferências realizadas na Europa, na Ásia e nos Estados Unidos, destinadas à disseminação de ideias. As apresentações são limitadas a dezoito minutos, e os vídeos são amplamente divulgados na Internet. Com o discurso “O Perigo de uma História Única”, a autora usou exemplos reais vividos por ela para mostrar como os estereótipos limitam e formatam nosso pensamento, aqui, no caso, o foco era a África.
Histórias importam e podem ser usadas para empoderar e humanizar as pessoas.
Agora 10 anos após, o vídeo é um dos mais vistos na plataforma do TED e tem mais de 18 milhões de visualizações. Por isso a Companhia das Letras trouxe a versão impressa dessa palestra incrível da autora, assim completando uma coleção que está sendo focada nas opiniões de Chimamanda e que já conta com outros dois livros – Sejamos todos Feministas, transcrição da participação da escritora no TED talk de 2012; e Para Educar Crianças Feministas: Um Manifesto, uma adaptação de uma carta na qual ela escreveu a uma amiga com a intenção de responder a seguinte pergunta: como criar uma filha feminista?
Entre todos os exemplos dados por Chimamanda, dois ganham destaque. No primeiro, ela conta que quando começou a escrever, ainda muito pequena, lia muitos livros, mas todos apresentavam uma realidade diferente da dela, que morava na África, pois eram de autores americanos. Sendo assim, as histórias criadas por ela eram tipicamente americanas, mas quando ela descobriu as obras de autores africanos, houve uma transformação em sua narrativa, e a partir desse momento, suas história viraram retratos de sua realidade. Outro exemplo é de quando a escritora foi fazer faculdade nos Estados Unidos. Sua colega de quarto ficou impressionada com o fato de Chimamanda falar inglês tão bem, mas o que ela não sabia é que inglês é a língua oficial na Nigéria. Com isso, vemos que sua colega de quarto tinha uma história única da África.
Esses são só dois exemplos, contudo sabemos que isso acontece o tempo todo. Na televisão, somos expostos o tempo ao modelo de mulheres magras, maquiadas e felizes. Isso passa a ideia de que a mulher ideal deve ser assim, transformando essa realidade em uma história única para tantas mulheres no mundo todo. Além disso, estamos em uma época conturbada quando o assunto é política e muitas vezes temos uma história única sobre as pessoas que consideramos não estar do “nosso lado”.
Sendo assim, essa leitura é muito atual, mesmo focada em uma realidade de um povo, pois podemos fazer links com outros assuntos, e me ensinou muito quando o assunto é julgamento. Estou sempre aprendendo sobre esse assunto, por mais que eu ache que estou livre dos estereótipos. Fiquei completamente chocada com o texto. Eu, na verdade, apesar de já ter pensado sobre rótulos envolvendo pessoas, nunca pensei da maneira exposta pela escritora, na visão que tenho de certos povos. Pois claramente eu tenho uma ideia sobre países específicos, que não deve ter nada a ver com a verdadeira realidade do lugar e das pessoas que lá vivem.
O Perigo de uma História Única é um discurso que faz pensar e questionar a nossa visão sobre as pessoas, os povos e as suas realidades, e por esse motivo já é leitura indicada.
- The Danger of the Single Story
- Autor: Chimamanda Ngozi Adiche
- Tradução: Julia Romeu
- Ano: 2019
- Editora: Companhia das Letras
- Páginas: 64
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