Futebol é a grande paixão nacional, disso ninguém tem dúvida, apesar de o amor pela seleção estar diminuindo depois do fatídico 7 a 1 para a Alemanha em plena copa do mundo do Brasil, o fanatismo pelos clubes move milhões de pessoas, umas inclusive capazes de fazer diversas loucuras pelo time do coração.
Os jogadores ainda são os donos dos maiores salários do país e de grande parte da idolatria dos jovens. E não é de hoje esse fascínio, para você ter noção, a final da copa do mundo de 1950, também realizada no Brasil, reuniu nada mais, nada menos, que 199.854 pessoas no estádio do Maracanã, a maior concentração de público já vista no nosso país.
Mas os tempos eram outros, as cadeiras eram objetos raros em nossos estádios, que hoje mais parecem teatros, as pessoas ficavam, em sua maioria, de pé para assistirem os jogos e há quem diga que o chão da cidade chegou a tremer no gol de Friaça para o Brasil, que fazia 1 a 0 e indicava que a seleção ganharia seu primeiro mundial, mas o final foi diferente. A seleção levou dois gols no segundo tempo e amargou a vice colocação em sua casa enquanto via a camisa celeste uruguaia comemorar seu bicampeonato.
Essa e muitas outras histórias são contadas pelo jornalista Márcio Trevisan em A História do Futebol Para Quem Tem Pressa. Como o nome já indica, o livro traz histórias sucintas, fundamentais para quem quer entender a paixão mundial que esse esporte causa. Ele começa contando sobre os primeiros indícios de futebol na humanidade, antes mesmo de os ingleses darem um nome ao esporte e o popularizar, quando tribos espalhadas pelo mundo jogavam algo parecido, utilizando diversos tipos de material como bola (inclusive a cabeça de oponentes), até chegar aos dias de hoje, utilizando a cronologia como parte fundamental do desenvolvimento do livro e da história.
Após contar a história do surgimento do esporte e da chegada dele ao Brasil, Trevisan passa a contar sobre os torneios importantes do esporte, falando rapidamente sobre cada uma das copas do mundo, depois falando sobre competições brasileiras de clubes, explicando como chegamos hoje no formato de campeonato que temos e fala também sobre a Champions League, campeonato de clubes mais importante da Europa. Ele finaliza a obra com a apresentação de personalidades importantes do esporte, primeiro treinadores, depois famosos jogadores, passando por mais de 50 diferentes nomes.
O livro é rápido, bem escrito, com informações importantes sobre o esporte e de uma leitura extremamente leve, daqueles que você, no metrô ou no ônibus, a caminho do trabalho, consegue ler sem sentir, porém tem alguns defeitos.
O primeiro, e o que eu achei mais grave, é não falar, em nenhum momento, sobre as mulheres no futebol. É inegável que a representatividade feminina nesse esporte é bem menor que a masculina, principalmente no Brasil, mas o fim de parte do preconceito, que impede ainda hoje que algumas mulheres assistam a jogos nos estádios em alguns países, e a tamanha potencialização do esporte movido através delas em alguns países, como os Estados Unidos, é muito relevante e faz parte sim da história do esporte. O autor cita todas as copas do mundo masculinas, poderia muito bem citar as femininas também, é impossível aceitar que não haja uma citação à Marta dentre as personalidades do esporte, ela é a maior jogadora da história do esporte, se tornou na copa de 2019 a maior artilheira da história das copas do mundo, superando inclusive o alemão Klose, que detinha o recorde de 16 gols. Sem contar em Formiga, a pessoa que mais jogou copas do mundo e que se tornou a mais velha a entrar em campo em uma copa do mundo. Quem tem mais haver com a história do esporte que ela, que quando o futebol feminino era “só mato” já disputava torneios desse quilate, e pra isso, sinceramente, não tem desculpa, o livro precisava de um espaço para as duas, que são muito mais relevantes que muitos jogadores citados nele.
Outro ponto que me incomodou um pouco, mas que talvez não seja um erro, é o público alvo dessa obra e como ela é construída. O livro é escrito para quem gosta do esporte e eu sou fanático por ele e estou acostumado a ler quase tudo que sai sobre o assunto, então o livro é diretamente escrito para pessoas como eu, certo? Bom, se é escrito para pessoas como eu, as informações que constam nele são conhecidas de trás para frente e com muito mais detalhes do que ele expõe, e apesar de um livro bom, não trouxe nenhuma novidade sequer.
O mais correto seria se o livro fosse direcionado a um público que ainda não sabe tudo sobre futebol ou que nunca tenham lido algo sobre o assunto, mas será que essas pessoas teriam o interesse de ler um livro sobre isso? Talvez o que o livro aborda não interesse quem queira aprender mais sobre o esporte.
Me resta então pensar em adolescentes que gostem do esporte e não saibam dessas histórias, mas também acho difícil imaginar um adolescente fanático por futebol que vá parar para ler esse livro, porém, caso pare, certamente irá gostar, o seu dinamismo é muito bom, até mesmo para quem não está acostumado a ler. Ele pode, inclusive, ser a porta de entrada da literatura nos hábitos de alguém que está mais acostumado a jogar futebol, seja na rua ou em um videogame.
Fora esses detalhes a obra é muito boa, ela faz parte de uma série de livros com essa mesma premissa: “a história de algo” para quem tem pressa. Que já conta com assuntos como: A História do Mundo, A História do Brasil, A História da Ciência, A História da Mitologia e alguns títulos mais. Todos com a mesma estrutura, um máximo de 200 páginas, com informações rápidas e relevantes sobre cada um dos temas, ao contrário da história do futebol, acredito que os outros livros tragam mais informações desconhecidas para nós e eu com certeza vou começar a colecionar essa série.
Se você pudesse escolher uma história para ser o próximo volume dessa coleção, qual escolheria?
- A História do Futebol Para Quem Tem Pressa
- Autor: Márcio Trevisan
- Ano: 2019
- Editora: Valentina
- Páginas: 194
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