Talvez este tenha sido um dos livros que eu mais tenha enrolado para ler, sem motivos específicos, já que eu gostei muito de Boneco de Pano, primeiro livro de Daniel Cole e volume inicial dessa série, então eu não tinha por que protelar tanto essa leitura. Mas acontece que sempre acabava aparecendo um livro que eu achava mais interessante para ler no momento. E lá se foram quase seis meses de Marionete balançando pelos fios na minha humilde biblioteca, mas seu dia chegou.

Agora, ao escrever esta resenha, confesso que preferia ter deixado ele onde ficou durante todo este tempo, pois infelizmente, não gostei nem um pouco da leitura.

Boneco de Pano tinha causado em mim a sensação de que tinha descoberto um novo escritor de thrillers, que eu começaria a comprar suas obras assim que saíssem, assim como faço com Harlan Coben ou Robert Bryndza atualmente, mas essa obra me deixou completamente em dúvida sobre o que ele quer para sua carreira de escritor.

Marionete conta mais uma página da história da detetive Emily Baxter, e aqui vai uma menção honrosa para essa personagem, uma das poucas partes agradáveis da obra é ver uma mulher detetive e a sua capacidade de controlar casos complexos. Baxter agora precisa resolver assassinatos simultâneos em dois países diferentes que parecem estar interligados, a cada passo que ela dá as coisas parecem acontecer no país oposto, deixando-a sem uma saída. Para complicar ainda mais, seu amigo William Fawkes some. Agora ela precisa correr contra o tempo para evitar que mais vidas sejam ceifadas, a ideia de que a vida de outras pessoas pode estar dependendo do seu esforço deixa sua cabeça ainda mais confusa.

Neste caso, cada corpo que aparece tem uma palavra escrita no peito, uma dessas palavras é “marionete” e está no peito de alguém muito peculiar, o homem que parece ser o próprio assassino do corpo que está ao lado do seu. Estranho né?

Marionete oferece momentos muito bons em sua leitura, possui muita ação, cenas fortes e uma detetive envolvente e inteligente, que deixa o leitor preso à obra e torcendo por ela, o nome do livro é outro ponto alto, já que está bem de acordo com seu enredo e a cada página que passa vai fazendo mais sentido.

Mas eu achei as investigações muito atrapalhadas, algumas ações que resultam em pistas encontradas são bem difíceis de acreditar que tomariam a aquele resultado, o que pra mim, em um livro de thriller, é algo bem negativo. Mas o que mais me incomodou foi a quantidade de vezes que ele remete à primeira obra. Boneco de Pano é citado uma infinidade de vezes, o que é completamente desnecessário, mesmo que a história nova seja uma sequência ou se o novo crime tem a ver com o antigo, Cole extrapola nas menções ao seu trabalho anterior.

E eu digo isso analisando a forma que o autor escolheu para manter uma boa sequência de livros. Harlan Coben, por exemplo, tem uma vasta antologia com o detetive Myron Bolitar que pode ser lida fora de ordem que fará sentido para o leitor, esta é uma clara estratégia para venda dos livros sem que eles estivessem aliados. Até mesmo Harry Potter, onde os livros anteriores têm uma importância tremenda nas obras seguintes, J.K. não cita os livros anteriores, apenas deixa a sequência natural dos atos levar a história. Se vocês acham que estou exagerando imaginem que a história não apenas se remete aos fatos ocorridos no primeiro volume, como citam o nome do assassino conhecido como “Boneco de Pano” uma quantidade de vezes absurda, que me fizeram ficar bem incomodado.

Outra coisa que me incomodou muito foi o fato de muitas vezes a história principal e as investigações pararem para que briguinhas bobas, de pura implicância entre os personagens, sejam relatadas, fazendo o leitor alimentar uma raiva extrema com alguns personagens asquerosos, e o pior é que essas brigas pouco agregam ao enredo, não deixando-o mais interessante.

Mas falando sobre os pontos positivos, duas coisas que gostei no livro é que seu final deixa uma preparação muito boa para o terceiro volume, que me animou bastante. Talvez Daniel se desprenda da primeira obra e faça a trilogia ficar melhor, focando mais no enredo principal que vem por aí. A segunda foi que ao final do livro, o autor responde oito questões feitas por um jornalista sobre Marionete, em uma delas ele admite que sentiu muita dificuldade em escrever uma segunda obra sem deixar de lado Boneco de Pano, e cita inclusive uma certa preocupação com os leitores desavisados ou desatentos que apesar de lerem o primeiro volume não lembram de certos detalhes.

Na minha opinião Marionete é quase um spin-off de Boneco de Pano e não uma nova obra, ele serve para atrair mais leitores para o primeiro livro, deixando-os instigados com o que leem e indo buscar a obra anterior, o que muitas vezes dá certo e é muito comum nos Estados Unidos. Uma escritora que amo e faz isso em todas suas obras é Madeleine Roux, que durante a Trilogia Asylum lançou várias obras entre um volume e outro, menores, sucintas e sobre um dos temas tratado no livro, servindo tanto para explicar ao leitor certas dúvidas surgidas, como também para atrair novos interessados.

Enfim, Marionete peca, estragando inclusive o primeiro livro e, possivelmente, o terceiro que possivelmente será lançado, porque eu já o lerei com certa desconfiança e sem 1/10 do animo que fiquei ao terminar Boneco de Pano, mas o que me faz ficar esperançoso é o fato de Daniel Cole ainda parecer ser um ótimo escritor e ter capacidade de retomar na sequência a boa história que foi seu livro de estreia, mas para isso precisa ver tudo que errou, para não repetir as mesmas falhas.

Vocês já tiveram alguma decepção literária lendo uma sequência?

  • Hangman - Fawkes and Baxter #2
  • Autor: Daniel Cole
  • Tradução: Ana Rodrigues
  • Ano: 2019
  • Editora: Arqueiro
  • Páginas: 352
  • Amazon

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