Depois de ler e me apaixonar por Vidas Secas, de Graciliano Ramos, eu decidi que queria ler outras obras do autor. Ao contrário de Vidas Secas, que mostra a cruel realidade de uma vida de retirantes no sertão nordestino e é narrado do ponto de vista do oprimido, em São Bernardo, o opressor narra a sua história.

Paulo Honório teve uma infância dura, órfão, criado por uma doceira, começou a trabalhar desde muito cedo. Aos dezoito anos é preso por esfaquear um homem, é também nessa época que aprende a ler com o sapateiro Joaquim. Cansado da vida que leva, ele resolve que vai mudar de vida, assim procura o agiota Pereira e pega dinheiro para trabalhar com gado. Depois de muita dificuldade, consegue juntar dinheiro, acaba retornando para sua terra natal, Viçosa, pois tem o sonho de ser dono da fazenda São Bernardo, local que tinha trabalhado muitos anos antes.

Para conseguir o que deseja, Paulo Honório se aproxima do herdeiro de São Bernardo, Luís Padilha. Contudo essa amizade é puro interesse, mas Padilha não desconfia, e logo os dois estão bem amigos. A partir desse momento, Paulo faz de tudo para ter a fazenda em suas mãos.

O modo como a história é narrada é muito importante, vamos ter dois momentos, um no presente e outro no passado. Logo no início, Paulo Honório explica que planeja contar sua história, assim ele contrata uma pessoa para fazer esse trabalho, contudo percebe que não dá certo e resolve que ele mesmo escreverá sobre sua vida. A partir disso, conhecemos o Paulo Honório personagem, que está vivenciando o que está sendo contado. Não há necessidade de preocupação, pois fica bem claro os dois momentos na narrativa, o tempo verbal usado para cada um faz esse papel.

Paulo Honório é um homem grosso, violento e ganancioso, não mede seus atos quando quer algo e não se importa de quantas inimizades terá para alcançar sua ascensão social. Em contraste com esse comportamento temos sua esposa, Madalena, professora, educada, preocupada com os que estão a sua volta e com uma opinião forte sobre tudo. É por causa dessas diferenças de pensamento que Paulo Honório não vê algumas atitudes dela com bons olhos. O relacionamento deles é um ponto muito forte e bem desenvolvido na história, contudo as observações que o protagonista faz, ao final da narrativa, sobre o casamento me entristeceram, pois ele me passou a impressão de não ter aprendido nada com o que passou.

Confira a resenha de Angústia

Além da história envolvendo o protagonista, é apresentado também os problemas envolvendo o sertão, o que já era esperado, pois a obra faz parte da segunda fase do modernismo brasileiro, momento no qual o Brasil estava passando por crises econômicas, sociais e políticas em todo o mundo, assim os artistas voltaram-se para as temáticas sociais. E assim faziam com que os escritores dessa época centragem suas críticas em suas regiões, dando a obra um caráter mais regionalista.

Foi uma leitura muito diferente do que eu imaginava, não gostei tanto dessa obra comparando ela com Vidas Secas (não consigo deixar de fazer essa comparação). Contudo, compreendo a grandiosidade e importância da obra, no contexto em que foi escrito. São Bernardo é o retrato de um lugar, de um povo, por isso um ótima recomendação para quem curte literatura brasileira.

  • São Bernardo
  • Autor: Graciliano Ramos
  • Ano: 2019
  • Editora: Record
  • Páginas: 288
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