Em um mundo envolto por disputas de poder, ainda com a sombra das guerras que quase dizimaram a humanidade, temos um futuro incerto repleto de elementos chaves que se encontram em qualquer ficção cientifica de respeito. Não tema, caro leitor! Se você não tem costume de ler livros desse gênero, esse é um bom exemplar para o início das suas aventuras visto que seu foco é em como a humanidade reage a certas situações e imposições em uma distopia bem leve e envolvente.
Impostores é o primeiro volume da nova série do contador de histórias Scott Westerfeld, o mesmo autor da série Feios, que nos apresenta uma sociedade dividida, basicamente, em castas ou facções que controlam as grandes cidades remanescentes. Você encontrará nessas páginas ação, intrigas familiares e, de certa forma, políticas, aventura, ação, descobrimento pessoal, o bom e velho romance juvenil, estratégia militar e tecnologia de ponta – mas os conceitos apresentados pelo autor são bastante simples e não apresentarão dificuldade na hora da leitura.
A premissa de Impostores me deixou curiosa por ter lido e gostado dos dois primeiros volumes da série anterior de Westerfeld, Feios e Perfeitos, que foca na rebelde Tally Youngblood e que será citada algumas vezes ao longo desta história. Não se preocupe com o peso da continuidade, se você não leu a série Feios não será prejudicado ao ler esta – apenas referências difusas são citadas no decorrer da história – já que esta não é uma continuação, apenas se passa no mesmo universo. Mas, se tiver interesse em conhecer mais eu recomendo a leitura.
Voltando à Impostores, este é aquele tipo de livro que você se diverte e interage – por vezes me vi torcendo ou maldizendo determinado personagem – ao lê-lo pois é tão fluido quanto a maioria dos romances jovens adultos.
A história nos apresenta Rafia e Frey que são gêmeas idênticas, mas completamente o oposto uma da outra. Seu pai, o líder de Shreve – basicamente o centro militar desse mundo distópico – as criou com intuitos diferentes. Rafia é a carismática, inteligente, diplomata, a herdeira do império de Shreve, enquanto Frey é sua dublê, guarda-costas, a filha invisível já que apenas um número mínimo e de confiança sabe de sua existência. Desde criança treinada para matar e para domar todos os tipos de armas inclusive dos Enferrujados – que são uma espécie de resistência ou rebeldes, uma referência da série Feios. Frey é um soldado cuja única missão é garantir a segurança de sua irmã, mas apesar da dureza de seu treinamento, militar para ela e político para Rafia, ambas são adolescentes apesar de tudo e muitas vezes a necessidade de se verem livres mesmo que momentaneamente fica em maior evidência na história.
Quando éramos pequenas, às vezes Rafi se escondia em nosso quarto enquanto eu explorava a casa. Quando estava vestida como ela, eu podia ir aonde quisesse. Mas a liberdade jamais me fazia feliz de verdade, porque eu estava sempre sozinha. Então criamos uma brincadeira melhor. Fingíamos viver em uma masmorra com monstros que percorriam os corredores. Escondidas pelos corredores não vigiados, espiávamos a equipe trabalhando, com cuidado para não sermos descobertas.
Além das gêmeas, outros personagens chave são apresentados. O pai delas é o clássico chefe do regime autoritário, odiado e temido por seu povo e por suas filhas, que vê algo, deseja e o toma para si após uma série de jogadas em um tabuleiro de xadrez imaginário. O que nos leva à missão atribuída à Frey de se passar por sua irmã como refém de uma negociação com outro grande centro urbano comandado pelos Palafox, onde nossa heroína impostora conhecerá Cole, o herdeiro dessa casta. De forma clara e, talvez, rápida e previsível demais, Frey se apaixona por Cole levando-os a eventos inesperados que culminam no aparecimento e sumiço de outros personagens importantes.
O modo que o autor constrói as características próprias dos personagens, fazendo-os interagir, mesmo que de mau grado, uns com os outros é tão intrigante quanto simples e as reviravoltas da história sempre apresentam algo além do que a superfície expõe, quer se tratando das pessoas, dos regimes ou da tecnologia daquele mundo. Podemos extrair significados mais profundos nas personalidades de algumas dessas figuras, por exemplo, nem sempre aquele que se mostra mais forte e impassível realmente o é. Muitas vezes as fraquezas vão além das fraturas expostas e esse aspecto psicológico presente de forma quase imperceptível na história foi um dos atrativos que mais me envolveu na leitura.
Em se tratando da tecnologia, vemos um conceito simples que não irá confundir o leitor ao imaginá-la. Prédios flutuantes, painéis solares, centros médicos além do que imaginaríamos ser possível, armas ultrassônicas, facas que voam feito bumerangue e trajes aéreos que lembram as membranas dos esquilos voadores são alguns exemplos do que imaginário bélico e urbano presentes no livro. Mas também encontramos ocasionalmente memórias retratadas em construções antigas, ruínas de um tempo passado, o que completa toda a ambientação quase pós-apocalíptica do livro.
Durante minha vida toda achei que era a única impostora. Que todas as outras pessoas tinham certeza de que eram reais de uma maneira que jamais compreendi. Mas e se todos também estão fingindo? Talvez ninguém saiba quem é de verdade.
No mais, o scifi presente no livro é bastante claro, mas sutil servindo como parceiro à história e complementando-a sempre que preciso. O sentimento que fica ao final da leitura é de curiosidade, acima de tudo, para ver o que virá a seguir. Como os jovens protagonistas irão se desenvolver e se aquele mundo irá progredir para algo além de uma série de cidades satélite que lutam ou ignoram umas às outras. Para mim, a leitura foi leve e relaxante entre leituras mais densas. O público visado é o jovem, mas os adultos também podem se interessar e gostar dessa história de acampamento, pois é isso que ela se assemelha bastante. Contudo eu gostaria que o romance entre os protagonistas tivesse sido melhor trabalhado, talvez no próximo volume veremos algo mais crível.
Se você gosta que nas histórias possua diversão, romance juvenil, rebeliões, avanços científicos, conflitos e amadurecimento gradativo dos personagens, se você já leu Jogos Vorazes, Divergente, Maze Runner ou ainda Feios, irá gostar dessa nova série de Scott Westerfeld e ficará intrigado como eu para os eventos futuros que definirão os nossos caros e ativos Impostores.
- Impostors
- Autor: Scott Westerfeld
- Tradução: Giu Alonso
- Ano: 2019
- Editora: Galera Record
- Páginas: 352
- Amazon