Uma das coisas mais incríveis na vida de um leitor é a curiosidade por um livro, por uma história. Minha curiosidade por Pessoas Normais foi sem explicação, eu vi o livro e me senti atraída pela capa e pelo título. Regularmente a surpresa é positiva, contudo mesmo depois de algum tempo terminada a leitura desse livro, eu não sei classificar meu sentimento. O livro aborda muitos assuntos interessantes no que diz respeito a ser jovem, como paixão, classe social, mudança de poder, sexo, entre outros.
Marianne e Connell estudam na mesma escola, a mãe dele trabalha para a mãe dela, contudo eles fingem o tempo todo que não se conhecem. Connell é a estrela do time de futebol da escola, e Marianne é a típica garota solitária. Essa estranha relação muda e fica mais estranha depois que o garoto vai buscar a mãe após o trabalho na casa de Marianne. Eles começam a conversar e em alguns dias estão em um “relacionamento”, se pegando muito, mas sem o compromisso.
Um ano depois, os dois estão estudando na mesma universidade, o relacionamento deles continua não oficial. Contudo a nova realidade influencia na vida deles de maneira diferente. Agora é Marianne que tem destaque entre os colegas e Connell é o solitário e tímido. Com o passar do tempo, a vida deles se torna um vai e vem sem fim. Além disso, Marianne toma um rumo de autodestruição e Connell começa a ficar cada vez mais inseguro de si e de suas escolhas. Assim, ambos precisam achar o equilíbrio de suas vidas e de sua relação.
O primeiro ponto que quero comentar sobre o livro é sobre os diversos temas presentes na obra, muitos deles com tom de crítica social. A questão da classe social permeia a narrativa o tempo todo, pois Marianne tem dinheiro e Connell é o filho da empregada dela. Mas essa incomodação ao meu ver ficou somente a cargo dele, pois em muitos momentos fica claro que ela não se importa com isso. O que sentiam um pelo outro é afetado por isso o tempo todo.
Há um tema mais pesado no meu ver envolvendo Marianne, o relacionamento dela com a família. A mãe da personagem é abusiva e negligente e o irmão é um escroto agressivo. Ver o impacto que isso tem em Marianne é chocante, pois ela não conseguia observar que muitas vezes era submissa a algumas situações. Sem falar que isso claramente influenciou em sua personalidade, que consequentemente influenciou em seu relacionamento com Connell.
Todos esses anos eles foram como duas plantinhas, dividindo o mesmo pedaço de terra, crescendo um ao redor do outro, se contorcendo para criar espaço, tornando certas atitudes improváveis. Mas, no fim, ela fizera algo por ele, tornara uma nova vida possível, e sempre poderá se sentir bem por conta disso.
Eu gostei muito do modo como a autora abordou sexo, drogas e amizade entre os jovens. Ela conseguiu dar naturalidade para esses assuntos e deixá-los “normais”, pois sabemos que mesmo uma coisa sendo errada, há muitas pessoas fazendo. Cabe a nós saber diferenciar o que é certo do que é errado.
Marianne é uma mulher madura e decidida mesmo quando estava no ensino médio. Gostei dela desde o início apesar de não compreender algumas de suas decisões. Eu achei interessante o fato da autora explorar um lado mais “livre” dessa personagem em relação a suas relações a sua vida no geral. Connell foi o oposto de Marianne o livro todo, e por isso gostei menos dele. Na verdade foi interessante ver um homem no papel de inseguro, não só em seu relacionamento amoroso, mas no seu contexto de vida. Isso claramente influenciou em tudo que ele fazia. Como sempre algumas palavras não foram ditas pela parte de ambos, e isso causou mal entendidos e frustrações, coisas da vida e de pessoas normais!
A escrita de Sally Rooney é muito leve, simples e direta. A narrativa é feita com foco nos dois personagens durante o tempo que estão terminando o ensino médio e estão na universidade, fica claro a diferença de personalidade entre os dois personagens, a autora conseguiu construí-los profundamente. Eu acreditava muito que a autora ia seguir uma linha específica para a narrativa no final, contudo ela me surpreendeu com a decisão de um dos personagens. Ponto para ela!
Pessoas Normais é um livro sobre crescer e amadurecer no meio de tantas pessoas diferentes e de tantas mudanças recorrentes. Achar nosso lugar num mundo contemporâneo é mais difícil do que imaginamos.
- Normal People
- Autor: Sally Rooney
- Tradução: Débora Landsberg
- Ano: 2019
- Editora: Companhia das Letras
- Páginas: 264
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