No passado, um grave acontecimento marcou a vida de uma jovem mulher que, entre lágrimas, pesar e sempre olhando sobre o ombro, encontrou forças para recomeçar em um novo lugar estranho. Ela se agarrou a outras rotinas, fez novas amizades e superou o trauma que conspurcou sua vida. Essa é a história de Fiona Bristow, mas ao contrário do que parece, não é nem um pouco óbvia ou esperada.
A cada virar de página e fim de capítulo, você se verá respirando fundo, devorando cada palavra e ansiando pelos próximos eventos. O que parece ser um “mero” romance traz elementos de suspense e mistério, amor de quatro patas, assassinatos e perseguições, amizade e companheirismo e uma paixão fulminante que te fará ansiar por um copo gelado de limonada. Uma Sombra do Passado, como meu primeiro contato com a escrita de Nora Roberts, foi uma ótima surpresa que me pegou de jeito e logo me vi viciada na leitura. Cara a cara com seus medos e fraquezas, Fiona será capaz de enfrentá-los mostrando que a força de uma mulher é a própria natureza em toda sua potência?
Essa foi uma leitura que me tirou da zona de conforto de modo extremamente gratificante. Eu não esperava que o livro apresentasse um romance tão encorpado como o entregue pela autora pois acreditava que, erroneamente julgando o livro pela capa, fosse uma história mais suave, mostrando o clássico amor de verão onde um estranho chega à cidade e conquista o coração da mocinha. Engano meu! E que feliz engano. Nora Roberts constrói personagens cheios de personalidade e possuidores de várias camadas, não apenas a mãe de fulano ou o melhor amigo que sempre está ao seu lado quando preciso, mas também a mulher que não sabe cozinhar nem ovo frito, a que é atraente mesmo sem esforço, o homem que parece te amar secretamente e a sombra saída do seu pior pesadelo.
Foi devido essa habilidade primorosa da autora “flertar com o perigo”, fazendo do romance algo além de uma história de amor, que me senti tão conectada com Fiona. No passado, ela foi vítima de um serial killer conhecido como o Assassino da Echarpe Vermelha tendo escapado por pura sorte ou pela força do destino, algo que não aconteceu com seu noivo e seu amado cão, ambos mortos pelo assassino como vingança por ela ter sobrevivido. Mesmo tendo sido preso, Fiona teve que viver com o medo e a paranoia por um longo período até decidir recomeçar em outro lugar.
O ar, a água, as árvores, as colinas, as pedras – tudo poderia servir de inspiração para seu trabalho. Cores, formatos, texturas, curvas e ângulos. Aquele pedacinho de terra, a floresta e o mar, a descida rochosa, o canto dos pássaros em vez do barulho dos carros e pessoas era exatamente o que ele queria.
Agora ela vive em uma ilha e é adestradora de cães, o que aumentou ainda mais meu prazer na leitura; seu relacionamento com os animais e também com as pessoas que fazem parte de sua vida me fizeram aprender e pensar profundamente sobre a forma como nós vivenciamos cada momento, seja entre humanos ou com bichos. Além disso, ela ajuda a coordenar equipes de busca e resgate com cachorros sempre que algum turista se perde na ilha. Trabalhar com animais e ainda fazer algo importante com isso? Sensacional e bastante educativo todos os momentos em que Nora Roberts instrui o leitor através de Fiona. Mas foi com o aparecimento de Simon Doyle, o novo morador da ilha e seu quase vizinho, com sua maestria em design de móveis e seu cachorro rebelde Furacão que me senti completamente fisgada, apreciando e me divertindo imensamente cada vez que os dois entravam em cena.
O clássico, mas jamais enjoativo, jogo de morde e assopra que segue o relacionamento, inicialmente profissional, de Fiona e Simon me fez lembrar de outros romances da literatura que tenho como queridos na estante e no coração, como Elizabeth e Mr. Darcy em Orgulho e Preconceito e Catherine e Heathcliff em O Morro dos Ventos Uivantes. Você já pode imaginar, assim como eu suspeitei durante a leitura, que os dois iriam acabar se apaixonando, mas a forma como isso acontece é de tirar o fôlego. Não esperava gostar tanto da sensualidade presente na relação dos dois sendo muito bem sopesada pela autora que procurou não focar demais neles, mas sim em todo o conjunto de eventos que os circundavam.
Mas eis que um novo assassinato acontece cujo modus operandi é igual ao do Assassino da Echarpe Vermelha, fazendo todo o trauma superado de Fiona voltar com força total pois o objetivo do imitador parece ser corrigir o único erro de seu mestre: matar a única vítima que escapou. A partir desse ponto o livro recebe toda uma dose extra de sabor já que a escritora une o romance e o thriller de forma excepcional, envolvendo ainda mais o leitor que devora as páginas ávido para descobrir o que virá a seguir. Ao menos, isso aconteceu com esta leitora que vos fala.
Ele pegou o jornal, desdobrou as páginas, passou uma das mãos sobre o rosto dela. Cumpriria sua obrigação com Perry, pagaria completamente sua dívida. Ela seria a última a usar a echarpe vermelha. Seria adequado. Fiona se tornaria o auge desta fase do seu trabalho. O clímax, com uma última homenagem a Perry.
Ameaças, perseguições e alguns capítulos vistos pelos olhos do assassino tornaram a trama ainda mais eletrizante, bem como a maneira com que Fiona reagia a cada novo desenrolar da história. Muitas vezes me senti em um seriado à lá CSI onde os investigadores analisavam a cena de um crime ou a psiquê do próprio criminoso.
Mesclando um romance tórrido que trilhou o aprimoramento pessoal tanto de Fiona quanto de Simon, com conexões familiares, adestramento canino e uma caçada à uma mente perturbada, Uma Sombra do Passado foi sem dúvida uma das melhores leituras do ano e que irá agradar diversos públicos principalmente devido à maestria de Nora Roberts em unir diversos gêneros em uma única caixinha que será presentada ao leitor.
Um enredo bem construído e ambientado que cairia perfeitamente bem em uma adaptação que seria de bom grado apreciada e revisitada. Tendo sua releitura programada para um tempo próximo, espero que vocês gostem dessa leitura tanto quanto eu quando se disporem a lê-la.
- The Search
- Autor: Nora Roberts
- Tradução: Carolina Simmer
- Ano: 2019
- Editora: Bertrand Brasil
- Páginas: 462
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