As Sombras de Outubro é o tipo de livro que não dá muita margem para se comentar o enredo em si, pois é uma história carregada de surpresas e pistas falsas, que te jogam de um lado para o outro na narrativa minando suas suspeitas. Um quebra-cabeça com peças espalhadas e embaralhadas que te fazem acreditar estar montando mais de um, e que no final por incrível que possa parecer, se encaixam com perfeição.

Tudo começa em 1989 e uma cena de filme de terror, em uma casa de fazenda, toda uma família foi massacrada, inclusive um policial. Corta para o tempo presente e a cena que se desdobra a frente da detetive Naia Thulin e seu novo parceiro Mark Hess, é tão brutal e sangrenta quanto, uma mulher foi espancada, morta, pendurada e ainda teve um dos membros decepados. Se tudo isso não fosse estranho o suficiente, os peritos ainda encontram um boneco de castanhas pendurado próximo ao seu corpo, poderia ser apenas um objeto aleatório na cena, mas não é, e isso fica bem claro quando descobrem uma digital parcial que aponta para Kristine Hartung, filha da ministra Rosa Hartugn, que foi dada como morta recentemente, mas que nunca teve seu corpo encontrado, na época um jovem assumiu a autoria do crime e condenado, mas se negou a contar onde o corpo estaria.

Poderia ser apenas uma coincidência, mas uma sequência de crimes hediondos com a mesma assinatura segue acontecendo e quanto mais se investiga, mais confuso e complicado tudo vai ficando. O assassino parece estar sempre um passo à frente, e apesar da mudança do modus operandi, teria a morte de Kristine alguma relação com os novos assassinatos?

(…) Parece que a situação está se repetindo e passa por sua cabeça que o inferno deve ser assim, ter que reviver as mesmas cenas horríveis uma vez atrás da outra.


Naia Thulin, é uma mulher destemida, obstinada e ambiciosa, que está cansada do chefe machista, e da pouca ação no departamento no qual trabalha. Ela quer mais, sabe que merece mais, e, portanto, está lutando para conquistar uma vaga no Centro Nacional de Crimes, entretanto enquanto tenta conseguir a indicação de seu chefe, uma onda de crimes brutais começam a acontecer, com o departamento defasado e sem pessoal o suficiente, resta a Naia receber o novato que veio expulso da Europol, Mark Hess, um homem misterioso, introspectivo, nada feliz por ter sido rebaixado, ansioso para voltar para sua antiga função, mas que cresce absurdamente ao longo da narrativa, que precisarão deixar suas diferenças de lado e pensarem juntos se caso quiserem solucionar os crimes antes que seja tarde demais.

É uma coisa pequena, mas importante. Não se pode deixar que os mortos ofusquem os vivos. Foi o que disseram os psicólogos e terapeutas, e ele sente com todas as fibras do seu corpo que estavam certos.

Uau! Caros leitores, que baita livro, que história viciante, eletrizante, onde não temos nenhum momento para monotonia. As Sombras de Outubro, é um livro de enredo inteligente, que provavelmente foi meticulosamente bem pensado e construído, com uma narrativa fluida, cheia de pistas falsas e um desfecho surpreendente, o final deste livro… apenas INCRÍVEL. É ação do começo ao fim, ficamos angustiados temendo o que irá acontecer, vendo cada uma das nossas certezas serem destruídas, desejando devorar uma página seguida da outra. O que mais me cativou é que este é o primeiro livro do autor e ele conseguiu trazer um equilíbrio absurdo para o enredo, temos diálogos bem empregados, capítulos curtos e diretos, que terminam com ganchos para os próximos, vários pontos de vistas que farão total sentido na conclusão da leitura, protagonistas bem trabalhados, personagens interessantes e ainda, em meio a toda a investigação e violência, um drama familiar marcante, que confesso, me emocionou e me fez derramar algumas lágrimas. E ainda preciso mencionar as criticas a realidade social, a sistemas que deveriam cuidar do bem estar, da segurança e se revelam cada vez mais falhas.

Fica aqui essa forte recomendação de leitura, porque é uma leitura maravilhosa, envolvente e viciante, que te deixa angustiado, arrepiado, até mesmo assustado porque as descrições de algumas cenas são realmente difíceis, vívidas, palpáveis, é tudo muito gráfico, é como se você sentisse na própria pele. O assassino é um ser frio, calculista, paciente, percebemos desde o inicio que o ódio é sua principal motivação, pela forma como ele tortura, mata e decepa suas vítimas, ele quer mais do que apenas matar e ver essa construção acontecer é… agonizante. E não tenha medo de se jogar, de se sentir meio perdido, com muitas perguntas ao longo da leitura, porque no final tudo se resolve e fica esclarecido.

Como mencionei no início, não posso falar muito sobre o enredo, porque a surpresa é o grande destaque desta leitura, é gostoso ler sem saber o que esperar, o que vai acontecer, e qualquer spoiler pode quebrar essa experiência. Caso não tenha ficado claro ainda, eu AMEI, me surpreendi, fiquei com a cara no chão, encantada com a maestria do autor em manipular nossas emoções e entregar um enredo genial que ficaria perfeito adaptado tanto para uma série, quanto um filme… aguardando ansiosamente.

  • Kastanjemanden
  • Autor: Søren Sveistrup
  • Tradução: Natalie Gerhardt
  • Ano: 2019
  • Editora: Suma
  • Páginas: 416
  • Amazon

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