Mesmo que eu nunca soubesse realmente quem foram as Bruxas de Salem, eu sabia que envolviam mulheres que foram consideradas bruxas e que foram enforcadas por causa disso! E assim como eu, acredito que têm muitas pessoas que não sabem realmente a história por trás das Bruxas de Salem e de seus julgamentos.
Então, vamos começar com um breve resumo do contexto da época. Em Salém, durante 1692 e 1693, em Massachusetts, nos EUA, mais de 200 mulheres foram acusadas de praticar bruxaria e de firmarem um pacto com o demônio. Dessas, 20 foram mortas. O motivo: elas não eram consideradas católicas e tinham conhecimentos que não eram visto com bons olhos, como saber o poder curativo das ervas, por exemplo.
Nesta época, Salem tinha como primeiro ministro Samuel Parris, um homem extremamente puritano, rígido e ganancioso. Toda a história das bruxas começou em sua casa quando em janeiro de 1962, sua filha de nove anos, Elizabeth, e sua sobrinha de 11, Abigail Williams, começaram a ter comportamentos estranhos. Elas gritavam, faziam sons e se contorciam. Com isso, a família chamou um médico, que chegou ao incrível diagnóstico: isso tudo eram sintomas de eventos sobrenaturais. Quando outra menina, Ann Putnam, de 11 anos, apresentou o mesmo comportamento, as garotas foram forçadas a falar sobre o que elas andavam fazendo, assim, elas acabaram acusando três mulheres de bruxaria. Entre elas estava a escrava de Parris, Tituba.
Bendito seja o amor que derrama sobre o homem o esquecimento. Que o faz esquecer sua condição de escravo. Que faz recuar a angústia e o medo!
Eu preciso contar que não fazia ideia de que a história era assim e é claro não sabia da existência de uma mulher negra sendo acusada. Isso, segundo Maryse Condé, tem justificativa: Tituba, por ser uma mulher negra e escrava ficou de fora da história. Mas agora, isso mudou, a escrava não está mais calada e através da sua própria voz, vamos conhecer sua vida.
Com a perda da mãe e do pai quando ainda era uma criança, Tituba foi criada por uma mulher que conhecia a importância das ervas e tinha o poder da cura. Ela ensinou o que sabia a sua filha de criação. Já uma moça, Tituba apaixonou-se perdidamente por John Indien, assim escolheu viver com ele, abrindo mão da própria liberdade. Foi assim que ela chegou até a família de Parris.
Foi muito incrível conhecer a história de Tituba desde que ela era pequena. Quando ela se apaixonada, eu confesso que fiquei indignada com as decisões que ela toma para ficar com o homem que ama. Acompanhamos as etapas da vida de escrava e mulher dela de uma forma muito direta e crua. Claramente por ser uma mulher negra e escrava sua vida foi muito sofrida e injusta. Contudo, Tituba era uma mulher forte, inteligente e muito bondosa com todos. Toda a história envolvendo a vida e as acusações de bruxaria em Salem é impressionante, é inacreditável que atos desse tipo tenham acontecido, mas não podemos esquecer que o contexto da época também não era favorável, a sociedade era religiosa, patriarcal e racista.
Viver em uma sociedade racista não intimidou Tituba, que não se deixou abalar pela acusação de Bruxaria. Depois das acusações, ela foi interrogada e torturada, até assumir a culpa e contar que tinha um pacto com o demônio. Não se sabe ao certo qual o destino final de Tituba, o que se sabe que é que por volta de 1963 ela foi vendida na prisão pelo preço da pensão dela e dos gastos dela na prisão. Ao que tudo indica ela foi comprada por um tecelão e viveu seus últimos dias em Boston, mas a quem acredite que ela voltou a ser escrava em Barbados. Mas como tudo isso é incerto, a autora deu a Tituba o final que ela merece.
Saiba mais sobre Salem e Tituba
Para lembrar desse momento tão injusto na história americana, O Salem Witch Museum retrata a história das bruxas com base em documentos reais do julgamento. Os visitantes passam a conhecer o drama desse tempo sombrio. O Museu tem forma de castelo e é considerado sagrado. Possui amostras de objetos e fotos antigas sobre as bruxas da cidade, figuras, iluminação e uma narrativa emocionante.
- Moi, Tituba, Sorcière... noire de Salem
- Autor: Maryse Condé
- Tradução: Natalia Borges Polesso
- Ano: 2019
- Editora: Rosa dos Tempos
- Páginas: 252
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