São razoavelmente grandes as chances de que, enquanto passeava pelo maravilhoso mundo da internet e zanzava por entre publicações pertencentes aos mais diferenciados criadores de conteúdo você tenha se deparado com os simples e adoráveis quadrinhos protagonizados pelos etzinhos azuis mais carismáticos do universo!
A série de quadrinhos virtuais Strange Planet conquistou seguidores e admiradores localizados nos mais diversos pontos da galáxia. Com traços simples, personagens fofos e paleta de cores agradável, o escritor e ilustrador Nathan W. Pyle nos permite acompanhar o cotidiano de seres alienígenas neste planeta estranho, confuso, duvidoso e muitíssimo similar ao nosso. Seus quadrinhos nos levam aos primeiros contatos destes seres adoráveis com animais inusitados com gatos e cachorros, nos possibilitam descobrir os perigos de localizar-se tempo demais no mundo exterior e sofrer queimaduras provocadas pela estrela mais próxima, além de demonstrar o quanto é difícil conviver em sociedade e lidar com a complexidade de nossos sentimentos.
O interessante de abordar Planeta Estranho é que, por empregar estratégias e propostas muito simples (não confundam simples com ruim ou pobre), torna-se fácil destacar suas características principais e direcionamentos. Por empregar traços que nos remetem aos desenhos que realizávamos quando crianças os quadrinhos possibilitam maior identificação, maior compreensão por parte do leitor e até mesmo a construção de um carinho maior. Isso é pensado, não é por acaso. Utilizando cores que nos remetem à infância, similares aos famosos tons pastéis – vale dizer que não classificaria a paleta de cores de Planeta Estranho como composta por tons pastéis – o artista nos cativa novamente. Apesar de não compreender toda a psicologia das cores sei, em meio as poucas e esparsas memórias felizes que tenho do curso de Arquitetura e Urbanismo, que cores transmitem sensações, evocam memórias, possuem significado e, escolhendo as cores que escolhe, Nathan W. Pyle não cria apenas um quadrinho agradável ao olhar, mas também algo que nos remete a tempos distantes.
Agora, quando observamos as mensagens e pequenas histórias expostas em cada quadrinho, percebemos o quanto são profundas e verdadeiras. De maneira simples e cativante Planeta Estranho olha para aquilo que somos, aquilo que fazemos, toda a confusão de sentimentos que sentimos, as coisas bizarras que realizamos e nem percebemos. Com olhar bem-humorado estes etzinhos azuis refletem a humanidade e suas confusões, além de uma porção de coisas sem sentido que fazem todo o sentido para nós.
Planeta Estranho transformou-se em um sucesso mundial por ser verdadeiro. Ao relatar nossas tentativas de chegar ao fim de mais um dia difícil, ao demonstrar as nuances e beleza da amizade, ao encantar com nosso cuidado para com os pequenos integrantes de nossa comunidade, ao demonstrar nossas falhas e acertos ele nos demonstra quem somos de uma forma acessível e livre de julgamentos, tornando mais fácil olhar para nós mesmos!
O autor de NYC Basic Tips and Etiquette e 99 Stories I Could Tell, obras ainda não publicadas no Brasil, já trabalhou como escritor e ilustrador para o BuzzFeed, conquistou o primeiro lugar na lista de mais vendidos do New York Times, promove e participa de palestras sobre criatividade e o ato de contar histórias, além de ter seu trabalho reconhecido por meio da criação dos quadrinhos do universo de Strange Planet. Muito mais do que nos encantar com seus seres alienígenas e, de maneira delicada, agradável e bem-humorada, expor as nuances do próprio viver humano, Nathan é um exemplo maravilhoso de como a internet é capaz de demonstrar boas ideias e mensagens, oferecendo reconhecimento para aqueles que ousaram arriscar e expor seu trabalho em um ambiente de fácil compartilhamento e divulgação. Embora muitos ilustradores ainda não tenham recebido o destaque que merecem, e digo isso por acompanhar o trabalho de várias pessoas talentosas, acredito que a internet ainda é um dos melhores e mais democráticos meios de exposição e divulgação destes artistas – ainda que diversas plataformas tenham virado a casaca e abraçado o capitalismo selvagem (sempre achei esse conceito engraçado).
Nathan W. Pyle definitivamente usufruiu de muitos outros fatores e variáveis do que a simples exposição na internet, o próprio fato de ter trabalhado no ou com o BuzzFeed nos permite perceber isso, contudo, a publicação de seus quadrinhos no ambiente virtual garantiu o acesso a uma infinidade de usuários e isso é algo que somente a internet – pelo menos até o momento – pode realizar. Digo tudo isso pois também estou inserida neste mundo e acredito nele, mas, para os leitores ilustradores que nos acompanham e estão começando a divulgar seus trabalhos, ou já estão por aí a bastante tempo, recomendo que observem e aprendam com o autor. A comunidade de ilustradores sempre me pareceu ser aberta, acolhedora e gentil, aproveitem isso para trocar uma ideia com quem já trilhou esse caminho! A internet é maravilhosa nesse sentido, precisamos aprender a usá-la a nosso favor e, como já mencionei uma vez, qualquer coisa também estou aqui para auxiliar e garantir que a internet seja aquilo que deveria ser: acolhedora, criativa, cativante e livre para que possamos nos conectar e compartilhar pensamentos e ideias bacanas uns com os outros!
- Strange Planet
- Autor: Nathan W. Pyle
- Tradução: Érico Assis
- Ano: 2020
- Editora: Minotauro
- Páginas: 144
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